Especialistas salientam que decisão é provisória
O professor de Direito Administrativo Egon Bockmann Moreira, da UFPR, salienta que as implicações da decisão do STF, sejam quais forem, são temporárias até que o plenário do Supremo, formado por todos os 11 ministros, analise o mérito dos argumentos apresentados pela defesa de Abib Miguel, o Bibinho, ex-diretor-geral da Assembleia.
Análise
Provas podem ser reutilizadas
Todo o trabalho feito até agora pela força-tarefa por mais de uma dezena de promotores não deve ser desconsiderado mesmo que os ministros do STF mantenham a decisão de tirar do Ministério Público Estadual a atribuição de investigar o caso. Esse é o entendimento do professor e advogado Mário Elias Soltoski Júnior. As provas produzidas até agora podem ser reutilizadas, mas a instrução processual deve mudar, se confirmada pelo STF a declaração de incompetência do MP em investigar o caso. A investigação passaria a ser acompanhada pelos advogados de defesa. Atualmente, um promotor intima uma testemunha e toma o depoimento sem comunicar a defesa.
Na eventual mudança na instrução processual, cada prova só pode ser produzida mediante o crivo do contraditório, ou seja, com a presença dos interessados. Isso porque a investigação deixaria de ser um inquérito para ser um processo, que envolve mais formalidades jurídicas.
Essa alteração deixa o trâmite mais lento. Em vez de estar dividido em vários inquéritos, como está hoje, com um procedimento apurando cada irregularidade de forma isolada, tudo seria reunido num processo só, com diversos réus e centenas de testemunhas o que torna o desenrolar do caso muito mais complexo. "A conclusão do processo pode se tornar extremamente difícil", aponta Soltoski Júnior. A investigação sairia das mãos do MP e iria para a Procuradoria-Geral da República, que poderia delegar o caso à Polícia Federal. (KB)
O ministro José Antonio Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu ontem uma decisão liminar favorável ao ex-diretor-geral da Assembleia Legislativa do Paraná Abib Miguel, o Bibinho. A reportagem não teve acesso à decisão porque Toffoli decretou segredo de Justiça. Mas, baseado no pedido da defesa de Bibinho, a liminar pode resultar até na suspensão temporária de toda a investigação criminal do Ministério Público Estadual (MP) sobre as denúncias de irregularidades mostradas pela Gazeta do Povo e pela RPC TV na série de reportagens "Diários Secretos". Isso porque o advogado de defesa de Abib, José Roberto Batochio, questionou no Supremo a competência de o MP investigar o caso.
Todos os atos da Justiça Estadual, como os mandados de prisão, por exemplo, podem ser considerados nulos. Isso significa dizer que a decisão de Toffoli pode até mesmo resultar na soltura imediata de Bibinho e dos outros ex-diretores detidos: José Ary Nassiff (administrativo) e Cláudio Marques da Silva (de pessoal). Até as 21 horas de ontem, Abib Miguel permanecia detido no Quartel da Polícia Militar do bairro Rebouças, em Curitiba.
Bibinho é acusado de chefiar uma quadrilha que, segundo o MP, pode ter desviado mais de R$ 100 milhões dos cofres da Assembleia nos últimos 16 anos. Nassiff e Marques da Silva teriam envolvimento direto nessa organização criminosa. Os três ex-diretores foram denunciados duas vezes pelo MP por crimes de desvio de dinheiro público, formação de quadrilha, falsidade ideológica e sonegação fiscal.
Se a investigação na área criminal pode estar ameaçada, na esfera cível a liminar do STF, seja qual for a sua extensão, não altera o trabalho dos promotores do MP já que não existe foro privilegiado em ações civis. Ou seja, a recente ação de improbidade administrativa contra o presidente da Casa, deputado Nelson Justus (DEM), e o primeiro secretário, Alexandre Curi (PMDB), segue tramitando normalmente na 2.ª Vara da Fazenda Pública de Curitiba.
Na ação, o MP pede o afastamento de Justus e Curi da Mesa Executiva da Assembleia, o bloqueio de R$ 10 milhões dos bens dos dois deputados, a devolução de R$ 3 milhões (valor desviado) aos cofres públicos e que os parlamentares sejam multados em mais de R$ 6 milhões valor referente a duas vezes o prejuízo do poder público.
Cinco dias
A decisão favorável a Bibinho foi determinada apenas cinco dias após o advogado dele, o criminalista José Roberto Batochio, entrar com uma ação reclamatória no STF sustentando que as irregularidades do caso dos "Diários Secretos" são desdobramentos da investigação batizada pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal como esquema gafanhoto. A intenção nos dois casos era a mesma: desviar dinheiro da Assembleia. Mas a sistemática era diferente.
Fazendo essa conexão entre os dois casos, Batochio pode ter conseguido remeter o caso dos "Diários Secretos" também para o Supremo. O caso dos gafanhotos foi para o STF em 2008 por causa da suspeita de envolvimento de deputados federais nas irregularidades. Pela Constituição Federal, a atribuição de investigar e julgar membros do Congresso Nacional é do STF.
O advogado de Bibinho, José Roberto Batochio, foi procurado pela reportagem, mas informou que não poderia comentar a decisão porque o caso corre em segredo de Justiça.
O MP pode recorrer da liminar. Procurado ontem, o Ministério Público informou que não iria se manifestar por ainda não ter sido notificado. Mas promotores já haviam antecipado que não entendem que o caso gafanhoto e o dos Diários Secretos sejam desdobramentos.
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