Para sermos cidadãos plenos, não basta a ação individualista voltada apenas para os próprios interesses. Quando se fala em política é comum a gente ouvir: "Não me interesso por política. Eu trabalho, cuido de minha família e faço caridade. Estou fazendo a minha parte." Equívoco frequente quando se trata da contribuição a ser dada à sociedade.
É um engano acreditar que existimos somente como indivíduos isolados. O ambiente que nos cerca também faz parte de nossa individualidade. Se a natureza ao nosso redor é poluída, se as instituições são corruptas, se a violência está disseminada, nós todos somos afetados. Aqui cabe o pensamento do filósofo Ortega y Gasset: nós somos nós mesmos e o que nos cerca. Se não preservamos o que nos cerca, explicava ele, não nos preservamos.
Da mesma forma, é um equívoco acreditar que política só se faz em partidos. Política se faz no dia a dia. A realidade tem trazido à tona que os representantes eleitos têm se mostrado incapazes de atuar de modo satisfatório contra a corrupção nas instituições. Somente os cidadãos, em conjunto, podem forçar que mudanças aconteçam.
Além do voto, podemos agir politicamente em defesa da sociedade, fiscalizando os atos de nossos governantes, pressionando para que políticas públicas sejam implementadas, mobilizando-nos para que exerçam os mandatos que lhes conferimos de acordo com nossos interesses.
Se não fizermos política, outros farão por nós em detrimento de nossos interesses. Para a passividade, a acomodação ou mesmo a corrupção moral, não há desculpas. De novo, Ortega y Gasset é esclarecedor ao dizer que as circunstâncias e as decisões são os dois elementos radicais que compõem a vida. As circunstâncias são as condições que a vida nos impõem. Contudo, diz ele, é falso dizer que devemos ser guiados por elas. As decisões não são forçadas pelas circunstâncias. São tomadas com base em nosso caráter.
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