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Dilma; a mãe, Dilma Jane; Igor; Zana; e o pai, Pedro Rousseff.  Dilma na infância com bom padrão de vida em Belo Horizonte | Arquivo Pessoal
Dilma; a mãe, Dilma Jane; Igor; Zana; e o pai, Pedro Rousseff. Dilma na infância com bom padrão de vida em Belo Horizonte| Foto: Arquivo Pessoal

No Paraná

Na viagem de formatura, estadia em Curitiba

Quando a turma de Dilma no Sion se formou no 4.º ano do Colegial – o último ano do ensino fundamental –, as meninas celebraram com uma viagem para o Sul do Brasil. Passaram por São Paulo, Curitiba, Mafra e Porto Alegre, conforme relembra Maria Clotilde Quintela, a Clô.

A memória não ajuda muito, mas Clô diz que, com certeza, passaram pelo Teatro Guaíra. "Nem me lembro se a gente assistiu alguma peça ou se visitamos só por fora. Mas o nome do teatro me marcou muito." No roteiro, as principais atrações turísticas de cada cidade e muita bagunça nos quartos de hotéis, divididos por duas ou mais alunas.

Para a idade e para a época, Dilma já conhecia um bom pedaço do Brasil. Com a família, passava férias no Rio de Janeiro ou Espírito Santo e vez ou outra viajava de avião. Quem daquela época diria que pelos próximos quatro anos ela poderá ir aonde quiser, provavelmente com seu próprio "AeroDilma"? (RF)

  • O álbum com as fotos 3x4 montado pela hoje médica Marisa Andrade Chaves (foto de cima). A presidente eleita ganhou destaque (foto de baixo)
  • A ex-colega de colégio Clô: romance patrocinado por Dilma na adolescência
  • Turma de Dilma (em destaque na última fila) no Colégio Sion, exclusivo para meninas: contato com a realidade social brasileira

Corria o ano de 1947 e a nova Constituição brasileira, promulgada em setembro do ano anterior, assegurava liberdades civis e coletivas, como o voto feminino e o pluripartidarismo. Essas e outras conquistas sinalizavam que o país recomeçaria a trilhar o caminho da democracia, interrompido pelo governo autoritário do Estado Novo. Mas as decisões tomadas pelo então presidente, general Gaspar Dutra, levaram ao caminho inverso. A submissão aos Estados Unidos e a divisão provocada pela Guerra Fria foram o pano de fundo para o fechamento do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e de vários sindicatos, além do rompimento diplomático com a União Soviética.

Nesse clima de repressão foi que Dilma Vana Rousseff nasceu, em 14 de dezembro de 1947, em Belo Horizonte. Mas sua infância transcorreu tranquilamente, sem interferências do clima político brasileiro. O pai, o búlgaro Pedro Rousseff, conseguiu oferecer um padrão muito bom de vida para a família, que incluía a mulher, a professora Dilma Jane da Silva, o primeiro filho, Igor (a pronúncia é Igór), e a caçula Zana.

Em uma casa espaçosa na Rua Major Lopes, na Zona Sul de BH, Dilma fazia algumas travessuras, como subir em árvores, e outras brincadeiras comuns, como andar de bicicleta. Mas sua diversão principal sempre foi a leitura. Monteiro Lobato foi uma das primeiras paixões. A educação, desde cedo, foi rígida. No Jardim de Infância Isabela Hendrix tinha aulas de inglês. De origem norte-americana e linha metodista, a escola também apresentava a Bíblia às crianças.

Alguns detalhes só são possíveis de reconstruir com a ajuda de um álbum de recordações da médica Marisa Andrade Chaves, 63 anos, que dos 4 aos 6 anos conviveu com Dilma no Isabela Hendrix. Com a ajuda da irmã mais velha, Marisa colou as fotos de todos os colegas, ao lado dos nomes. A presidente do Brasil ganhou lugar de destaque, na primeira página, ao lado da autora. "Eu sempre gostava de ficar com as crianças mais introspectivas. Eu procurei a amizade dela e tive uma resposta muito boa. A casa dela era muito receptiva, e a mãe, sempre muito linda e querida", conta Marisa, que conseguiu manter vivas as memórias de décadas atrás com a ajuda de sua relíquia infantil. "A Dilma, mesmo criança, tinha um olhar muito observador."

Livros e ponche

Dilma começou o ensino fundamental no tradicional Colégio Sion, exclusivo para meninas. Tido como o melhor da cidade na época, oferecia aulas de etiqueta, francês e religião, e as alunas eram de famílias de classe média alta ou ainda mais ricas. A panelinha dela girava em torno das amigas Maria Clotilde Quintela, Sônia Macedo, Márcia Machado, Sara Oliveira e Eliana Laender principalmente.

Dilma manteve as leituras, e fazia muitas sugestões às amigas. "A gente se divertia muito. Não falávamos bobagem, nem palavrão. Discutíamos muito sobre livros. A Dilma sempre foi muito intelectual, uma pessoa muito amável, legal", conta Maria Clotilde, a Clô. Também as ajudava a estudar, principalmente para as provas de Matemática e História. "Ela já tinha uma visão de mundo diferente. Não era fácil. A gente ficava estudando a noite inteira e ia fazer prova com olheira no dia seguinte."

Mas nem só de livro se faz a adolescência. A partir dos 14, 15 anos, o grupo de amigas começou a frequentar algumas festinhas, chamadas de "Hora Dançante". Rapazes do Colégio Loyola rodopiavam as meninas nos salões improvisados na casa de alguém, e todos bebiam um ponche de frutas feito pela mãe da (o) anfitriã (o). Também aprontavam. Às vezes escapuliam do colégio no fim do dia para fugir do "especial", a condução do Sion que transportava as alunas. Divertiam-se andando na rua livremente, mas às vezes pegavam um trólebus (ônibus elétrico) e tentavam paquerar o condutor.

"Muitos rapazes se interessavam por ela. Ela era uma pessoa risonha, feliz, de muito boa índole e honesta. Mas não tinha essa coisa de namorar, como tem hoje, ficar sozinhos. Era uma coisa mais de andar de mão dada na rua, e escondido", relembra Clô, que teve um romance adolescente patrocinado por Dilma. O contato com rapazes interessantes também ocorreu no CEC, Centro de Estudos Cinematográficos de Belo Horizonte.

Luto e realidade

Em 1962, com apenas 14 anos, Dilma perde o pai. Pedro Rousseff é lembrado como pessoa de poucas palavras, mas seu rigor contribuiu para que Dilma viesse a ser boa aluna. Os dois também costumavam assistir a óperas juntos, e ele incentivou o amor da filha pelos livros. Ainda nova, já tinha lido clássicos universais como Germinal, de Emile Zola, e Humilhados e Ofendidos, de Dostoiévski.

O luto pelo pai ocorreu mais ou menos na mesma época em que Dilma começou a ter um contato maior com a realidade social brasileira. Algumas freiras do Colégio Sion se preocupavam em semear a solidariedade e expandir a visão de mundo de suas alunas. Clô lembra da Mére (mãe) Malvinita, que nos fins de semana as levava para o Morro do Papagaio, uma das maiores favelas de Belo Horizonte. Junto com os rapazes do Loyola, conduzidos pelo Padre Meyer, formavam o Grupo Gente Nova, que fazia trabalho voluntário para a comunidade carente. "A gente distribuía remédio e dava vermífugo para as crianças. Também ajudamos a construir a igreja e a escola, carregando balde de cimento. Os meninos construíam, a gente ajudava, e ficávamos lá o dia inteiro, várias vezes."

Nessas visitas, Dilma tinha contato com a pobreza que hoje ainda atinge 30 milhões de brasileiros – considerando a população que vive com menos de R$ 140 por mês. O contato com as desigualdades ajudou a forjar a personalidade da presidente do Brasil, que na juventude entrou para grupos de luta armada com o objetivo de derrubar a ditadura e construir um governo que trabalhasse para a distribuição de renda.

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