Aloíze Gogola mostra praça de esportes na Vila São Pedro: moradores se organizam para melhorar a comunidade| Foto: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo

A história da Vila São Pedro não tem apenas um protagonista. Pode-se dizer que a coletividade prevaleceu sobre a mais que provável favelização de uma das comunidades encravadas no bairro do Xaxim, que explodiu demograficamente com a Geada Negra de 1975. O inverno rigoroso destruiu boa parte das plantações do Norte do Paraná, o que trouxe milhares de imigrantes para a capital. "Os caminhões de mudança faziam fila", lembra Aloíze Gogola, ex-padre que chegou à região em 1973 e um dos líderes da comunidade. "As pessoas se instalavam como podiam aqui, mas não havia escola, água potável, asfalto, nada.

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Economia solidária

Escambo de produtos e serviços ajudou a comunidade

A circulação de bens na comunidade da Vila São Pedro também ajudou muitas famílias a se manterem economicamente. O líder comunitário Aloíze Gogola lembra que um mercado de troca, com moeda própria – o Pinhão –, foi instalado para permutar serviços dentro da vila. "Um morador fazia pão. Outro tinha leite. Outro costurava. Fazia-se um escambo dessas coisas em um mercado informal. Às vezes dava diferença no valor entre um serviço e outro, e isso era compensado com o Pinhão, que era usado como moeda de troca", diz ele.

A iniciativa não sobreviveu à melhoria da situação dos moradores, mas serviu como impulso para a vila que desabrochava economicamente no começo do século 21. O comércio na rua agora fica por conta de uma modesta feira agrícola de poucas barracas que se instala na vila às sextas-feiras. Ainda que pequena, dá conta da demanda dos moradores.

A paróquia começou, então, por meio de Comunidades Eclesiais de Base, a ajudar os moradores que queriam se articular para reivindicar melhorias para o bairro. Formamos grupos para nos preocupar com frentes específicas, como ônibus, posto de saúde, etc. E tínhamos um Grupo de Recepção dos novos moradores", diz Gogola. A gentileza e cortesia com os vizinhos, prática comum no campo, rareava na cidade, e quem chegava pela necessidade se sentia amparado e, ao mesmo tempo, impelido a ajudar. O grupo falava: Estamos aqui lutando por essas coisas, quer participar com a gente?’ E assim foi crescendo uma organização no bairro."

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Simples assim. Gogola, que é secretário da associação de moradores e membro dos conselhos de Saúde e de Segurança do Xaxim, explica que os moradores se reuniam onde podiam para elencar os principais problemas da comunidade, e definir as prioridades. A água era uma delas. Com o encanamento apenas do outro lado da rodovia separa o bairro do vizinho Capão Raso, todo mundo usava água de poço, mas diziam que estava contaminada. "Aí alguém contava que trabalhava na Sanepar, e que poderia fazer a empresa realizar os testes. Comprovado que água estava mesmo contaminada, aí formávamos grupos para fazer pressão nas empresas, na prefeitura, até conseguirmos", lembra.

A união faz a força

O líder comunitário Aloíze Gogola e a comunidade da Vila São Pedro conseguiram suas conquistas agindo coletivamente. Veja alguns pontos importantes para seguir os passos dos moradores:

Recepcione: boas-vindas aos novos moradores mostram uma comunidade receptiva e também unida. Isso é essencial para conhecer as principais questões de cada um.

Analise os problemas: a união entre os moradores ocorre por problemas em comum. Identificá-los, por meio de conversas constantes com a população, é o primeiro passo para resolvê-los.

Divida os grupos: cada um tem sua habilidade e seu círculo de influência. Saber onde cada um pode ajudar torna a solução dos problemas mais rápida.

Coopere: promover feiras, eventos e outras atividades para unir os moradores impulsiona a economia local e aumenta a proximidade entre os vizinhos de bairro.

Trincheiras

É claro que nem todas as lutas foram vitoriosas – o que não quer dizer que o poder constituído não foi incomodado. As trincheiras e viadutos da Linha Verde, implantadas na Rodovia Régis Bittencourt, foram demandas repetidas vezes para não isolar a vila de um dos lados da BR-116.

"Os políticos acham que isso aqui ainda é roça, não imaginam que a gente precisa andar nove quadras para conseguir atravessar para o lado de lá da pista. Não conseguiram fazer a trincheira porque canalizaram a água logo abaixo da pista, mas também não fizeram viaduto nenhum", reclama Gogola.

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O consolo foi o pioneirismo da Vila São Pedro em outra reclamação frequente dos curitibanos com o projeto de integração urbana: "O cidadão tinha que pagar duas passagens se quisesse mudar de ônibus. A gente reclamou, reclamou, e conseguiu que a primeira experiência de integração fosse aqui, simultaneamente com o bairro do Santa Quitéria", diz o líder comunitário sobre a implantação da integração temporal por cartão-transporte, iniciada em 2010.

Nova luta

Para Aloíze Gogola e os moradores da Vila São Pedro, a luta continua agora por uma articulação mais direta da população com a Guarda Municipal. O objetivo é mais segurança. "O mais importante é ter claro o que se quer e unir os moradores para resolver um problema em comum. Quando a coisa não incomoda, ninguém se mexe", diz Gogola. Os moradores se reúnem, reivindicam, e o apoio pode não vir, mas é sempre buscado. O certo é usar o político e não o político usar a população.

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