A declaração do secretário de Segurança Pública do estado do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, quinta-feira (5), em Brasília, de que "o Rio de Janeiro não é violento" e que "algumas áreas teriam índices de crimes europeus", deixou alguns estudiosos da área perplexos. Eles não conseguiram comprovação nos dados oficiais para concordar com a afirmação.

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O cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS), chegou a fazer um esforço, comparando alguns números de criminalidades dos institutos de referência para se convencer dos "índices europeus", mas não conseguiu.

"Não é verdade que o Rio não seja violento. Todos os índices mostram o contrário. E o número de homicídio aqui já é o triplo de São Paulo", ressalta Tadeu.

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Segundo ele, o Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), da Universidade Candido Mendes, fez a comparação em 2005 que revelou a disparidade na comparação das ocorrências de criminalidade da capital carioca com cidades européias.

De acordo com os dados, Paris apresentava 1,6 homicídio doloso para cada grupo de 100.000 habitantes; Londres, 2,4; Amsterdã, 4,5; e Rio, 39,5, usando o mesmo parâmetro comparativo.

1.636 homicídios de janeiro a setembro

Para Geraldo Tadeu, as áreas com menores índices de violência estão localizadas nos bairros de Copacabana, Gávea, Jardim Botânico, Laranjeiras e Urca. Ele lembra que, de acordo com o Instituto de Segurança Pública, o Rio acumulou 1.636 homicídios dolosos de janeiro a setembro de 2009. Ou seja, 125 casos a mais do que o ano passado.

O sociólogo Ignácio Cano, professor e membro do Laboratório de Análise da Violência da Uerj, também discordou do secretário Beltrame.

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"Acho que ele está tendo uma visão hiperotimista. Nossos índices são muito elevados. A América Latina é a região mais violenta do mundo. O Brasil está em quarto lugar. O Rio e o estado estão entre os primeiros no país. A violência não é mesmo homogênena, mas a média é muito alta. O fato de a violência ser distribuída em núcleos não é um dado positivo", contesta o pesquisador.

O que disse Beltrame no Congresso

O secretário José Mariano Beltrame fez a afirmação nesta quinta-feira (5) durante audiência na Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados. Segundo ele, a cidade tem núcleos de violência e que precisa ser tratada de forma individulizada por programas do governo federal.

"É um numero muito pequeno de pessoas para causar pânico em 16 milhoes de pessoas. O Rio de Janeiro não é violento. O Rio de Janeiro tem núcleos de violência. Temos índices de criminalidade em determinadas áreas do Rio de Janeiro que são europeus. O Rio de Janeiro não pode receber um programa que seja o mesmo do Oiapoque ao Chuí", disse Beltrame.

Ele destacou que o caso do Rio de Janeiro deve ser analisado de forma separado do resto do país. "O Rio de Janeiro é diferente. Onde temos facção criminosa com ideologia de facção? Aqui é ‘nóis’, eu sou Comando? Onde que tem um grupo de pessoas fortemente armada com armas e munições exclusivas de Forças Armadas? Onde tem lugares onde a polícia não quer ir, onde há limite territorial? Os senhores sabem disso porque tem que pedir licença ou pagar pedágio para ir divulgar o seu trabalho. Aonde nós temos isso? Em Porto Alegre, em Curitiba, em Manaus ou em Buenos Aires? Não, só no Rio".

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Beltrame criticou a burocracia como um dos problemas da segurança no estado. "Porque não posso comprar um colete a prova de balas que é israelense e pesa o mesmo que uma camisa? Porque levo oito meses para comprar gás de pimenta?".