
Relato
Procuradora do caso Cachoeira diz que sofreu ameaças
Folhapress
A procuradora da República em Goiás Léa Batista de Oliveira relatou ontem aos integrantes da CPI mista do Cachoeira que a Polícia Federal investiga uma tentativa de invasão ao apartamento onde mora com a família, em Goiânia. Uma das responsáveis pela denúncia à Justiça contra Cachoeira, Léa disse que o incidente ocorreu em junho, depois de receber dois emails anônimos que diziam que ela e sua família corriam risco.
Segundo a procuradora, uma mulher foi ao seu prédio às 5h45 de uma segunda-feira e disse para o porteiro que iria trabalhar na casa da procuradora. Desconfiado, o porteiro não autorizou a entrada. A imagem do rosto da mulher ficou registrada, e sua identidade está sendo investigada.
Ainda de acordo com Léa Oliveira, que prestou depoimento à CPI com o procurador Daniel Rezende Salgado, um carro de sua equipe de segurança recebeu uma marcação após abordagem de policiais militares. Os procuradores classificaram o grupo de Cachoeira como máfia por existir um código de silêncio entre os integrantes da quadrilha.
Os acusados de envolvimento com o grupo, inclusive o próprio Cachoeira, não têm respondido a nenhuma pergunta, seja de parlamentares na CPI, seja em audiências na Justiça. O depoimento dos procuradores não acrescentou muito à CPI, conforme avaliação de parlamentares.
R$ 167 milhões da quadrilha de Cachoeira foram sequestrados após as operações Monte Carlo e Vegas, de acordo com um dos procuradores que cuida do caso.
O esquema criminoso chefiado pelo empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, chegava a faturar mensalmente entre R$ 1 milhão e R$ 3 milhões com a exploração do jogo do bicho e com máquinas caça-níquel em Goiás, de acordo com o procurador da República no estado Daniel Rezende. De acordo com o procurador, cerca de R$ 167 milhões da quadrilha foram sequestrados após as operações Monte Carlo e Vegas.
Ao lado da também procurada Léa Batista de Oliveira, Rezende prestou depoimento ontem à CPI do Cachoeira. Os dois integraram as operações Monte Carlo e Vegas, da Polícia Federal, que resultaram na prisão de Cachoeira, em fevereiro.
"A movimentação financeira do grupo era imensa, muito grande. Foram feitos alguns levantamentos em que, durante um determinado período, algumas casas de jogos localizadas em alguns municípios chegavam a amealhar mais de R$ 3 milhões", disse Rezende.
De acordo com o procurador, as investigações apontaram que a quadrilha chegava a ter "prejuízo" de R$ 200 mil por máquina caça-níquel apreendida durante as operações policiais. "Por isso, eles [a quadrilha] viam a cooptação de agentes de Estado como forma de investimento para evitar as perdas com as apreensões", disse o procurador.
Rezende disse ainda que o grupo criminoso "migrava" recursos ilícitos para empresas legalmente formalizadas como forma de lavagem de dinheiro. "Os métodos utilizados para atividade espúria migravam para atividade lícita. Isso provoca, inclusive, a cartelização do mercado lícito. A literatura traz isso para a gente. Vimos isso na Itália. Começamos a ver isso, mas não conseguimos muito avanço", disse Rezende.
De acordo com o procurador, durante as investigações se identificou grande repasse de recursos por parte do contador Geovani Pereira, que está foragido, para empresas legais. "Vimos a movimentação do Geovani Pereira, que é o principal contador do esquema, para algumas empresas de construção e farmacêuticas. Conseguimos ver a migração de dinheiro ilícito para o mercado licito", frisou.
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