O esquema de lavagem de dinheiro montado pelo empresário Gércio Marcelino Mendonça Júnior abasteceu o caixa dois de campanhas eleitorais em Mato Grosso. Em depoimento sigiloso ao Ministério Público Federal, ao qual o jornal O Globo teve acesso, Mendonça Júnior, que aceitou colaborar com a Justiça em troca do abrandamento de sua pena, confirmou ter emprestado ao menos R$ 5,2 milhões ao governador Silval Barbosa (PMDB) durante a campanha eleitoral de 2010.
O dinheiro não está declarado na prestação de contas do peemedebista. Na época do alegado empréstimo, o patrimônio do governador era de R$ 2,05 milhões, de acordo com documentação enviada à Justiça Eleitoral.
Conforme o depoimento, a maioria dos empréstimos tinha como intermediário o ex-secretário de Fazenda, da Casa Civil e das obras da Copa, Éder Moraes, que foi preso na terça-feira durante a quinta fase da operação Ararath. A operação também prendeu o deputado estadual José Riva, ex-presidente da Assembleia de Mato Grosso e considerado o maior ficha-suja do Brasil.
Em um trecho do depoimento, Mendonça Júnior relata que "durante a campanha de 2010, por volta de setembro", foi procurado pelo então secretário estadual de Fazenda Edmilson José dos Santos, que o convidou para um encontro com o governador, na época em busca da reeleição. O empresário relata que Silval Barbosa teria lhe pedido R$ 7 milhões emprestados. "[O governador] explicou que o dinheiro seria utilizado para fins de campanha eleitoral", relatou. Mendonça Júnior, no entanto, diz ter emprestado apenas R$ 4 milhões, com juros de 3% ao mês.
Em outros trechos do depoimento, o empresário relata empréstimos menores totalizando R$ 1,2 milhão para pagamento de despesas como pesquisa eleitoral, materiais gráficos e infraestrutura para a realização da convenção do PMDB em junho de 2010.
Por conta do depoimento e dos documentos apreendidos durante a investigação, o ministro do STF Dias Toffoli determinou uma busca e apreensão no apartamento do governador. Durante o cumprimento do mandato, policiais encontraram uma pistola com registro vencido e prenderam Barbosa por posse ilegal de arma. Ele pagou fiança e deixou a PF horas depois.
Não foi apenas o governador que teve as contas irrigadas com recursos da agiotavam. Mendonça Júnior também revelou que, em outubro de 2012, durante a campanha para prefeito de Cuiabá, foi procurado pelo então candidato Mauro Mendes (PSB), que venceria a disputa. Mendes lhe pediu um empréstimo de R$ 3,45 milhões. O empresário conta ter feito a transferência direto para a conta do candidato, cobrando juros de 1,5% ao mês. Recebeu como garantia uma nota promissória de R$ 3,89 milhões com vencimento no dia 29 de janeiro de 2014.
A PF suspeita que a dívida tenha sido paga com recursos públicos. Em agosto de 2013, a prefeitura celebrou contrato de R$ 3,7 milhões, sem licitação, com a Amazônia Petróleo, empresa de Mendonça Júnior, para o fornecimento de combustível a veículos oficiais.
O advogado Ulisses Rabaneda, que defende o governador, informou à reportagem que não vai se manifestar enquanto não tiver analisado as acusações.
Já a prefeitura encaminhou nota informando que o empréstimo, "ainda não liquidado", está informado nas declarações de Imposto de Renda do prefeito referentes aos anos de 2012 e 2013. Em relação ao contrato com a Amazônia Petróleo, a prefeitura disse que o acordo foi feito de forma emergencial, durou apenas quatro meses e resultou na economia para os cofres municipais.