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Dizem que a vitória cura todas as feridas. Mesmo não sendo uma verdade absoluta, certo é que ameniza os espíritos.

Na noite de domingo, logo após a confirmação do resultado em São Paulo, o PT estava em estado de graça. Dos petistas habitualmente belicosos, como o assessor internacional da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, aos mais apaziguadores, como o deputado Arlindo Chinaglia e o prefeito de Osasco, Emídio de Souza, todos pregavam bom senso e moderação.

Falando aberta e francamente nos erros crassos que levaram a derrotas do partido, reconhecendo a "aspiração legítima" do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, à disputa presidencial de 2014 e defendendo "respeito" às decisões do Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão.

Aparentemente essa prudência se deve ao "relax" decorrente da eleição de Fernando Haddad. Mas é possível também que tenha a ver com o balanço objetivo de perdas e ganhos, no qual o PT não fica tão bem quanto apregoa.

O equilíbrio partidário observado no primeiro turno foi confirmado com o seguinte resultado final: o comando nas 26 capitais onde há prefeitura (o Distrito Federal não tem prefeito) está distribuído entre 11 partidos.

Isso quer dizer que há 11 legendas fortes e representativas? Não, significa que nesse sistema partidário fragmentado e frágil as condições locais – empatia do candidato, alianças, rumo da campanha etc. – prevalecem sobre a identificação do eleitor com esse ou aquele partido.

Outro dado a ser considerado: o ex-presidente Lula concentrou esforços em 17 cidades país afora, ganhando em oito delas e perdendo em nove. São Paulo, evidentemente, desequilibra, mas o cômputo geral desidrata a mistificação sobre o poder de Lula na condução da vontade do eleitor.

Ganha onde pode e faz as coisas certas. Onde quem acerta é o adversário, Lula e PT enfrentam as mesmas adversidades que qualquer outro partido ou político quando o eleitorado resolve dar o próprio jeito.

Os petistas contam com muitas vantagens – objetivos claros, boa dose de unidade e comando –, mas nelas não se inclui uma ligação direta, automática, permanente e, sobretudo, segura entre a presença do ex-presidente, a força do governo federal e o voto na urna.

De onde provavelmente a preocupação das lideranças de não se deixar inebriar excessivamente pelo êxito paulistano.

Arlindo Chinaglia, por exemplo, diz com todas as letras que insucessos fragorosos como os registrados em Recife e Porto Alegre devem-se exclusivamente a erros de cálculo do partido.

Essa "pegada" pós-eleitoral mais leve não pode ser vista como desistência do PT de se manifestar contra as condenações.

Já no decorrer desta semana, o partido apresentará publicamente a própria "leitura" de que houve uma grande injustiça e, quando for concluído o processo, ficará ao lado dos réus que decidam recorrer ao simbolismo de apelos a organismos internacionais.

Mas, se prevalecer o estado de espírito da noite da conquista da joia da coroa, nada de mobilizações de caráter institucionalmente desabonador em relação à Corte suprema.

"O eleitor separou o julgamento da eleição. O partido deve saber também fazer essa separação, compreendendo que vitória eleitoral não é salvo-conduto", analisava o prefeito de Osasco.

Marco Aurélio Garcia cobrava o mesmo rigor na apreciação do processo do "mensalão mineiro", cujo protagonista é o tucano Eduardo Azeredo, e reclamava do "clima de viva emoção" agora em torno do STF.

É de se notar, porém, o tom de passo adiante quando fala em "nova linhagem do PT" e defende uma reforma política "que nos previna desse tipo de acontecimento".

Emerge da eleição um discurso ameno, pragmático, para se contrapor ao ânimo radical que até "fala" ao coração de militância, mas não conquista a cabeça da maioria do público.

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