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De repente as coisas mudaram no país: onde não havia oposição, hoje o que não há é situação. O PT, partido do governo, se comporta como se oposicionista fosse. Ninguém defende a presidente Dilma Rousseff, nem ela.

Seu mentor e antecessor, Luiz Inácio da Silva, arquiteto da guinada na condução da política econômica – alvo principal da fúria petista – tampouco se manifesta no sentido de reunir a tropa dispersa e cada vez mais estridente nas críticas à presidente.

Circunstância até certo ponto natural não fossem o centralismo e a disciplina partidária características fortes do PT. O partido briga internamente, mas externamente sempre esteve unido principalmente quando o caso era a defesa do projeto de poder. Daí a singularidade da existência de focos de resistência explícita ao governo.

São vários. Aparecem em declarações de militantes, de parlamentares, de avaliações formais de correntes do partido preocupadas com os efeitos de medidas ortodoxas para a imagem do PT (preocupação que não tiveram em relação aos escândalos de corrupção) e agora até na movimentação de José Dirceu, conforme revelou a repórter Vera Rosa na edição de ontem do Estado, para criar um grupo dentro do PT com a finalidade de confrontar a condução do governo Dilma Rousseff.

É de se perguntar aonde quer chegar o partido. Aliás, não fica claro se há estratégia conjunta ou não. Mas é esquisito que no início do mandato, com quatro anos de governo pela frente e uma oposição fortalecida pelo resultado das urnas, o PT se dê ao desfrute a desagregação em praça pública.

E o mais esquisito é que isso seja provocado por reação a uma atitude de Dilma conduzida por aconselhamento de Lula, a nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. Indicado para corrigir os equívocos cometidos por ela, é verdade. Mas Dilma Rousseff foi invenção de quem? Pois é. Então nessa revolta toda, justiça se faça, há um sujeito oculto a pagar a conta junto com a presidente.

Cizânia

Segunda-feira senadores de oposição vão se reunir com um grupo de dissidentes do PMDB para discutir a viabilidade do lançamento de uma candidatura à presidência do Senado para disputar com Renan Calheiros.

Os nomes dos pemedebistas são mantidos em sigilo a fim de evitar "ataques" do Palácio do Planalto. Entre eles há gente que até outro dia integrava o primeiro escalão do exército governista.

Ligação direta

O fato de o deputado Júlio Delgado (PSB) ser o terceiro colocado no ranking dos candidatos à presidência da Câmara não subtrai importância às suas propostas. Ao contrário.

Enquanto o favorito Eduardo Cunha (PMDB) e seu oponente Arlindo Chinaglia (PT) prometem aumento de verbas, gabinetes mais confortáveis e se digladiam nas questões relativas à interferência do Palácio do Planalto na disputa, Delgado prefere falar à sociedade.

"Minha plataforma é simples: precisamos voltar ao tempo em que o deputado não tinha vergonha de ser parlamentar." E como se faz isso? Segundo ele, exercendo o poder do presidente para, em primeiro lugar, não deixar que a pauta da Câmara seja ditada pelos Poderes Judiciário e Executivo. Depois, estabelecer um dia em que seriam votados exclusivamente projetos de iniciativa de deputados. Além disso, dar ao Conselho de Ética o poder de convocar testemunhas, no lugar de fazer apenas convites. Encarar com seriedade a proposta de reforma política, interditar quaisquer propostas que representem ameaça à liberdade de expressão e atuar permanentemente em "conexão com os interesses da sociedade".

Na opinião de Júlio Delgado não há saída: "Ou mudamos ou seremos mudados".

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