A movimentação do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), em busca de espaço para se candidatar ao governo paulista e com provável adesão à base do governo Dilma Rousseff tem o efeito de uma bola desgovernada atingindo obstáculos variados.
Mesmo vindo de um partido oposicionista e de perfil conservador, o prefeito será bem aceito pela principal sigla da base, o PT, segundo decisão de cúpula da sigla.
"Se o prefeito rompe com o DEM e o PSDB vindo para a base, claro que é um movimento bem-vindo. O PT vê com bons olhos", afirmou à Reuters o presidente do PT-SP, Edinho Silva.
Essa é a posição oficial do PT, que foi aprovada pelo diretório paulista. Pesou na decisão o fato de o prefeito ter expressado pessoalmente ao presidente do PT-SP seu desejo de se alinhar ao governo federal.
Aos petistas críticos a esta aliança heterodoxa, Edinho alerta: "Qualquer posição diferente é pessoal".
O dirigente vai logo afirmando que o posicionamento do PT não se estende a qualquer aliança para as eleições no Estado. "Não tem discussão eleitoral envolvida nisso. Se ele quer vir para a base do governo Dilma não significa compromisso eleitoral do PT com ele", frisou.
Kassab, vitrine do DEM até agora, deve anunciar nos próximos dias sua saída do Democratas e o lançamento do Partido da Democracia Brasileira (PDB).
Com a adesão a uma nova legenda, como prevê a lei, Kassab procura escapar de um processo de infidelidade partidária por parte do DEM. Se trocasse para uma legenda existente, o Democratas poderia requisitar o mandato na Justiça.
Em uma segunda etapa, o PDB poderia se fundir ao PSB. O advogado Alberto Rollo, um dos especialistas que formataram o novo partido a pedido de Kassab, recomendou ao prefeito que mantenha a independência da nova legenda e apenas faça coligações com o PSB, garantindo o horário eleitoral de TV."Coligação vale até o fim da eleição, depois o partido volta a ficar sozinho. Para não dizerem que ele está criando um partido que é um partido de passagem, um trampolim", afirmou.
O PMDB também esteve entre as opções de Kassab. O vice-presidente da República, Michel Temer, presidente licenciado da legenda, manteve conversas com o prefeito neste início de ano, abrindo as portas da sigla para ele. Ofereceu inclusive apoio para uma futura candidatura, segundo um auxiliar do PMDB.
Para o PMDB-SP, a ida de Kassab para a legenda agiria como um reforço local, principalmente após a morte do ex-governador Orestes Quércia em dezembro, que comandava a legenda no Estado. Mas a partir do momento em que a opção do prefeito passou a ser uma aliança com o PSB, a aproximação esfriou.
Diretamente, Kassab admitiu apenas que foi convidado para se juntar ao PSB e ao PMDB e que considerava "deselegante" discutir o tema em público antes da convenção extraordinária do DEM agendada para esta terça-feira em Brasília.
O DEM, que vem perdendo espaço nas últimas eleições, trocará a presidência elegendo o senador José Agripino (RN), mas há poucas chances de o novo dirigente conseguir segurar Kassab, segundo parlamentares.
O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) não mediu palavras ao criticar a decisão do companheiro de legenda. Em pronunciamento da tribuna da Câmara dos Deputados, disse que a saída de Kassab tem como meta receber benefícios do governo. "Aí vem o PDB, o partido da boquinha, para pegar uma teta gorda do governo federal", disse Lorenzoni.
As críticas também vêm da academia. O cientista político Fabio Wanderley Reis viu no expediente de Kassab apenas o interesse pessoal, ignorando o vínculo partidário.
"O que motiva é o cálculo político pessoal, a abertura do espaço pessoal, independentemente do partido", analisa o professor da UFMG, centrando a questão na diferença ideológica entre o Democratas e a base do governo.
Adesões ao PDB
Tendo que obter a assinatura de quase 500 mil eleitores em nove unidades federativas para criar um novo partido, Kassab deve atrair políticos como Guilherme Afif Domingos (DEM), vice-governador de São Paulo, e Otto Alencar (PP), vice-governador da Bahia, além de deputados. A senadora Katia Abreu (DEM-TO), combativa na oposição, mas que se manifestou a favor do projeto do salário mínimo de Dilma em fevereiro, também deve migrar.
Aderindo ao PSB, comandado pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, fiel aliado do Planalto, Kassab retribuirá à legenda com a ampliação de sua influência em São Paulo, ainda tímida. O Estado é importante base para um projeto de candidatura à Presidência, como se especula para Campos.
Muito provavelmente o PSB perderá o empresário Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que se candidatou pela legenda ao governo paulista em 2010. Skaf pode vir a ter interesse novamente pelo cargo em 2014, quando a legenda estará ao lado de Kassab. Também há vozes descontentes vindas da deputada Luiz Erundina (SP) e do deputado Gabriel Chalita (SP) que ameaçam deixar o PSB caso ela promova a fusão com o PDB.
A tática de Kassab esbarra ainda no governador Geraldo Alckmin (PSDB) que muito provavelmente será candidato à reeleição. Quem ficou em silêncio sobre o caso foi o ex-governador José Serra (PSDB), adversário do Planalto e mentor de Kassab, que assumiu a prefeitura em 2006 quando o tucano deixou o posto para se candidatar ao governo paulista. Em 2008, Kassab foi eleito para o cargo. O secretário da Casa Civil do governo paulista, Sidney Beraldo, declarou que o PSDB vai se empenhar para evitar que o novo partido se alie à base do governo federal.
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