Candidatos
Esquerda defende os pobres, mas é mais rica
Apesar do discurso da distribuição de renda e da defesa dos pobres ser uma das principais bandeiras da esquerda, os candidatos a vereador de Curitiba dos partidos desse espectro ideológico (como o PT, o PSol e o PDT) moram em sua maioria nos bairros de classe média e alta. Já as siglas considerados de direita, como o PSC e o PP, tiveram majoritariamente candidatos da periferia em 2012 segundo o estudo feito com base nos dados do Candibook da Gazeta do Povo. Os concorrentes de legendas de esquerda também têm mais escolaridade do que os das siglas de direita o que indica, geralmente, uma renda mais alta. Partidos de centro, como o PSDB e o PMDB, tendem a ser mais fortes em bairros de classe média e seus candidatos, a ter escolaridade média. No estudo, foram considerados como partidos de esquerda aqueles que defendem uma maior participação do Estado na economia e têm posicionamentos mais liberais em questões de comportamento. Já os de direita defendem a liberalização da economia e políticas mais conservadoras em questões individuais.
A eleição de 2012 em Curitiba mostrou uma predominância de candidatos a vereador com escolaridade baixa ou média, que moravam na periferia e que eram filiados a pequenos partidos de direita. Esse perfil foi determinante para a composição da atual legislatura da Câmara Municipal, especialmente na pulverização das cadeiras entre diversas legendas. Essas são as conclusões de um estudo de um grupo de cientistas políticos que se debruçou em dados coletados a partir do Candibook/Portal dos Canditatos, ferramenta desenvolvida pela Gazeta do Povo para ajudar o eleitor a escolher em quem votar na eleição passada.
Entre os partidos que mais lançaram candidatos a vereador em 2012, destacam-se as legendas de direita pouco tradicionais e com baixa representatividade na política paranaense e brasileira. Entre elas estão o PSC, o PSDC e o PSL. Enquanto isso, legendas mais tradicionais e consideradas de esquerda ou de centro, como o PT e o PSDB, lançaram poucos candidatos em grande parte por comporem "chapões" com outros partidos. A exceção foi o PMDB.
O grande número de candidatos nessas pequenas siglas é fruto de uma estratégia de campanha, na qual os partidos tentam lançar pequenas lideranças de bairros periféricos, com pouca ou nenhuma perspectiva de eleição, para somar votos e eleger uma liderança mais importante dentro da legenda. Essa estratégia, embora arriscada, serviu para partidos como o PSDC, que elegeu dois vereadores, e o PSL, que reelegeu um vereador. Mas outros partidos, como o PRP e a coligação PTC/PTN, ficaram pelo caminho.
Essa configuração, junto com a estratégia dos maiores partidos de formar grandes coligações, colaborou para a pulverização das cadeiras no Legislativo de Curitiba. Ao todo, são 16 legendas para 38 cadeiras. Além disso, nenhum partido conseguiu fazer mais do que seis vereadores. Siglas tradicionais ficaram com bancadas relativamente pequenas: o PSDB tem quatro cadeiras, o PT três e o PMDB apenas uma.
O estudo ainda indica que o perfil dos candidatos a prefeito também influenciou na composição da Câmara. O PSC, por exemplo, conseguiu suas seis cadeiras no em grande parte pela força eleitoral de Ratinho Jr. (PSC).
Fisiologismo
O cientista político Luiz Domingos Costa, do grupo Uninter, explica que, apesar do viés de direita dos partidos pequenos em seus programas e discursos (geralmente baseados na família e na segurança), essas legendas dependem da prefeitura para sobreviver. E, portanto, podem apoiar governos tanto de direita como de esquerda. Ele diz tratar-se de legendas essencialmente clientelistas, que dificilmente sobreviveriam na oposição.
Segundo Costa, a manutenção desse padrão de candidaturas na próxima legislatura dependerá muito da relação que o prefeito Gustavo Fruet (PDT) e os partidos terão com as lideranças da periferia. Além de Costa, os professores Adriano Codato e Renato Perissinoto, da UFPR, e Bruno Bolognesi, da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), também participaram do estudo.
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