A menos de dois anos das eleições presidenciais em que devem chegar mais fortes desde a saída de Fernando Henrique Cardoso (FHC) do Palácio do Planalto, os tucanos voltam a conviver com um problema clássico de autossabotagem. Nos últimos quatro pleitos, o partido não conseguiu unir seus principais caciques e chegou à campanha dividido. Agora, com o PT mergulhado em crise, a legenda tenta não cair mais uma vez na armadilha de se perder em uma guerra interna e jogar por terra uma possibilidade real de vitória.
Derrotado quatro vezes seguidas pelos petistas, o PSDB parece não ter aprendido uma das fórmulas de sucesso do maior adversário. Mesmo com quase duas dezenas de correntes internas de ideologias diferentes, o PT costuma marchar unido quando decide quem vai para a urna. Sempre foi assim em torno do ex-presidente Lula e até mesmo da ex-presidente Dilma Rousseff, que foi imposta pelo antecessor e não tinha nenhum carisma junto à militância da legenda.
Tucanos se bicam há quatro eleições seguidas
Em 2013, FHC já alertava para os riscos de os tucanos mais uma vez chegarem divididos no pleito do ano seguinte. “O primeiro passo para a vitória é a unidade. Cansei de ver o PSDB dividido. Chega! Quero o PSDB unido!”, discursou num congresso do diretório do partido em São Paulo. O desabafo do ex-presidente não surtiu efeito: sob a sombra do hoje ministro das Relações Exteriores, José Serra, o senador Aécio Neves (MG) foi derrotado por Dilma, no segundo turno, por uma diferença de apenas 3,28 pontos porcentuais.
E, por ora, os caminhos da legenda apontam novamente para um racha. Hoje, são três os nomes que se apresentam para disputar a Presidência da República: Aécio, Serra e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Internamente, a dianteira está com o parlamentar mineiro, que carrega um recall de 51 milhões de votos das últimas eleições e, como presidente nacional do PSDB, tem o controle da máquina e do fundo partidário.
Além disso, a recondução dele ao comando da legenda teve o aval do próprio Serra, o que mostra alinhamento entre ambos. Correndo por fora na disputa interna, Serra, assim como Aécio, defende uma participação intensa no governo de Michel Temer (PMDB) para que, com uma possível melhora da economia, o PSDB chegue como favorito em 2018. Nesse entendimento entre os dois, ele disputaria o governo de São Paulo no pleito do ano que vem.
Alckmin aposta em distanciamento de Temer
Derrotado por Lula em 2006, Alckmin também tem seus trunfos para voltar a disputar a Presidência da República. O maior deles é o prefeito de São Paulo, João Doria, que conseguiu eleger já no primeiro turno e conta com a fundamental proximidade do empresariado para o financiamento da campanha presidencial. Já na festa da vitória, por exemplo, Dória lançou seu mentor como candidato ao Palácio do Planalto.
O governador paulista também aposta no distanciamento do PMDB de Temer e das polêmicas recorrentes do governo federal. Contra ele, porém, pesa ter ao lado apenas o diretório tucano de São Paulo – todos os outros apontam para um apoio a Aécio. Exatamente por isso, Alckmin já negocia uma migração para o PSB, para ocupar o espaço deixado pelo ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, que morreu num acidente aéreo durante a campanha presidencial de 2014.
Todo esse cenário, porém, tem o imponderável da Operação Lava Jato. Os três presidenciáveis tucanos já foram citados em delações premiadas no âmbito do petrolão.
Tucanos, se bicando desde 2002
Desde a saída de Fernando Henrique Cardoso da Presidência da República, em 2002, o PSDB nunca conseguiu chegar unido na disputa pelo Palácio do Planalto. E tudo leva a crer que as brigas internas se repetirão para 2018.
2002 – José Serra
A maioria do tucanato defendia o nome do então governador do Ceará, Tasso Jereissati. FHC, porém, decretou a candidatura de José Serra, seu ministro da Saúde, para sucedê-lo. Ele acabou derrotado por Lula no segundo turno, por 61% contra 39%.
2006 – Geraldo Alckmin
Amparado no recall da eleição anterior, José Serra, então na prefeitura de São Paulo, costurava com a cúpula do partido mais uma candidatura presidencial. No entanto, de forma surpreendente, o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, se lançou candidato no programa Roda Viva, ainda em dezembro de 2015. Isolado na campanha, Alckmin também foi superado por Lula no segundo turno, por 61% contra 39%.
2010 – José Serra
Então governador de Minas Gerais, Aécio Neves brigava para disputar a Presidência pela primeira vez. No entanto, ele contava com a força somente do PSDB mineiro, enquanto todo o restante do partido estava com José Serra, então governador de São Paulo. No fim das contas, Aécio disputou o Senado por Minas, onde criou-se a expressão “Dilmécio” – voto em Aécio para senador e em Dilma Rousseff para presidente. Nas urnas, a petista derrotou Serra no segundo turno, por 56% a 44%.
2014 – Aécio Neves
Ignorando duas derrotas presidenciais no currículo, José Serra, então sem mandato, pretendia ser candidato mais uma vez. O PSDB, entretanto, tinha preferência pelo nome do senador Aécio Neves. Diante do cenário, Serra chegou a cogitar uma troca de legenda, mas acabou abrindo mão da candidatura em favor do colega mineiro, no final de 2013. No melhor desempenho tucano em quatro eleições, Aécio foi derrotado por Dilma, no segundo turno, por uma diferença de apenas 3,28 pontos porcentuais.
2018 – ?
A 20 meses da eleição presidencial, três tucanos se apresentam para a disputa: o senador Aécio Neves; o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin; e o ministro das Relações Exteriores, José Serra. Hoje, Aécio encabeça a lista graças ao recall de 2014 e por controlar toda a máquina partidária, da qual é presidente nacional. Apesar de ter ganhado força com a eleição de João Doria para prefeito de São Paulo já no primeiro turno, Alckmin está isolado no diretório paulista e cogita migrar para o PSB. Correndo por fora, Serra é considerado azarão e especulam-se as possibilidades de que ele dispute o governo paulista ou mesmo vá para o PMDB. Até outubro de 2018, porém, o imponderável da Lava Jato pode embaralhar o jogo, já que os três tucanos são citados em delações da operação.
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