Apontado como o padrinho de Rosemary Nóvoa Noronha desde sua ida para o governo, o ex-presidente Lula chegou sábado da Índia e, segundo interlocutores, recebeu com surpresa e grande insatisfação a participação de Rosemary em esquema que, segundo a Polícia Federal, favorecia empresas e pessoas interessadas em obter vantagens ilícitas junto a órgãos federais e agências reguladoras.
Além do ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral), Lula tem conversado com outros petistas sobre a operação da PF. Assim como aconteceu na época do mensalão, Lula se disse traído pela ex-assessora.
"Eu me senti apunhalado pelas costas. Tenho muito orgulho do escritório da Presidência, onde eram feitos encontros com empresários para projetos de interesse do país", desabafou Lula, segundo gente com quem ele conversou.
Rosemary trabalhou, durante anos, no Partido dos Trabalhadores e foi para o governo federal depois que Lula foi eleito. Nomeada para a chefia de gabinete da Presidência em SP pelo ex-presidente, ela foi mantida no cargo pela presidente Dilma, a pedido de Lula.
Lula e Dilma se reuniram pelo menos três vezes este ano no escritório da Presidência em São Paulo. Oficialmente, a assessoria de imprensa do ex-presidente Lula afirmou que ele não vai se pronunciar porque seria leviano comentar investigação ainda em andamento.
Petistas reagiram neste domingo ao que consideram uma tentativa de ligar Lula à denúncia, por ter pedido para que Rosemary fosse mantida no cargo por Dilma. Para pessoas ligadas ao PT, há uma tentativa de desgastar e atingir Lula por vias transversas, como aconteceu com o mafioso Al Capone.
Ex-líder do governo na Câmara, o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) diz que é inadequada a decisão de associar Lula a uma funcionária de terceiro escalão. Segundo ele, foi Lula quem indicou Dilma para sua sucessão e muitos ministros e funcionários do atual governo são ligados ao ex-presidente. Ele diz que é amigo de Rosemary e foi surpreendido pela denúncia da PF. "Pegar um funcionário de terceiro escalão e tentar associar ao Lula não é adequado. Todos são, eu fui líder de governo e sou ligado ao Lula. Acho de muito mau gosto, cretinice falar de Al Capone".
Vaccarezza vai defender, na reunião de bancada do PT, que o partido não se oponha se a oposição quiser mesmo levar adiante a convocação de pessoas denunciadas no esquema. O deputado Otavio Leite (PSDB-RJ) confirmou que irá apresentar, amanhã, requerimento para que Rose e os demais envolvidos sejam inquiridos em comissões.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que o momento agora é de aguardar as apurações da PF. "A nossa orientação é que a Polícia Federal cumpra seu papel seguindo estritamente as ordens", disse Cardozo.
O governador da Bahia, Jacques Wagner (PT), estranhou o fato de seu nome ter sido pinçado da agenda de encontros mantidos no escritório da Presidência em São Paulo, onde vários outros ministros e governadores mantêm agendas.
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