Com o telefone tocando sem parar e clientes formando filas, Leilo Moreira, um corretor de imóveis em Porto de Galinhas, litoral de Pernambuco, não dá conta de atender tantos estrangeiros que desejam comprar um terreno na costa nordestina.
"Eu tenho só mais um lote de frente para a praia disponível para construção, tenho mais clientes do que posso atender", afirmou Moreira, que agora tem metade do seu negócio vinculado a estrangeiros.
Os investidores estão gastando bilhões de dólares para construir a casa de veraneio de europeus, o que alimenta o boom imobiliário na região considerada mais carente do país. Os preços em algumas áreas aumentaram até dez vezes em seis anos.
O que começou com uma aventura de estrangeiros que compravam terrenos para experimentar "a vida nos trópicos", no início dos anos 1990, está se transformando em uma onda de turistas em busca de sol, diversão e um toque do charme brasileiro.
"É maravilhoso aqui, uma praia digna de livro de fotografia e as pessoas com essa alegria contagiante -eu ganho o dia", afirmou José Maria Jubells, um pintor catalão de 60 anos, morador de um novo flat em Fortaleza, onde fica metade do ano.
Pelo menos 80 mil residências estão sendo construídas para estrangeiros no Nordeste, de acordo com a Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico (ADIT) na região.
"O Brasil está tendo uma boa entrada no mercado europeu da segunda casa", afirmou Rodrigo Lowndes, diretor-executivo da Qualta Resorts, um grupo espanhol que está investindo 1 bilhão de reais em um complexo em Pernambuco com 4 mil habitações.
Os apelos de venda incluem mais de 300 dias de sol, uma cultura vibrante, água quente no mar o ano inteiro e nenhum furacão.
Espanhóis, portugueses e italianos estão entre os principais compradores, mas novos vôos fretados estão trazendo clientes da Escandinávia e da Grã-Bretanha, um dos maiores mercados de segunda moradia.
Preços em alta
Os preços altos da segunda moradia no Sul europeu pesaram para colocar o Brasil no radar imobiliário global. Uma casa de praia no Sul da Espanha custa cerca de 450.000 euros, três vezes o valor de um imóvel equivalente no Brasil, dizem os corretores.
Com direito a caipirinha e empregados domésticos em abundância, o custo de vida no Brasil é entre 30 e 60 por cento menor do que na Europa.
"Mais europeus estão dispostos a subir em um avião por 7 horas (de Lisboa a Fortaleza) para melhorar o seu estilo de vida", disse Ruy Rego, da construtora Odebrecht, que está erguendo um resort de 1,5 bilhão de reais em Recife voltado principalmente a estrangeiros.
Além das quadras de tênis e campos de golfe, muitos resorts residenciais têm zeladores, seguranças e serviços de aluguel de flats desocupados.
No Rio Grande do Norte, o aumento da construção civil está causando gargalos de infra-estrutura.
"Nós não podemos implementar todos os projetos propostos ao mesmo tempo -estradas, saneamento, e para obter licenças leva tempo", afirmou Fernando Fernandes, secretário estadual do Turismo.
O grupo espanhol Sanchez começa a construir em dezembro um complexo no valor de 1 bilhão de euros em Natal, incluindo 20.000 residências, oito hotéis e cinco campos de golfe, declarou Fernandes.
Mais prédios, trânsito e cercas preocupam alguns proprietários.
"O risco é perder o charme pelo qual todos nós viemos", afirmou Jean-Marc Panchaud, um suíço que se mudou para Porto de Galinhas em 1988, quando o local era apenas uma sonolenta aldeia de pescadores.
As autoridades insistem que um zoneamento rigoroso e exigências ambientais vão preservar as praias, mangues e dunas.
"Eu acho que aprendemos com os projetos ruins de desenvolvimento em outros lugares, mas precisamos lidar com esse boom adequadamente se quisermos que ele dure", disse José Antonio Simon, da ADIT Nordeste.
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