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“Essas pessoas (funcionários de Barbosa Neto) ganhavam dinheiro público, da Assembléia, mas trabalhavam promovendo o deputado na rádio e na televisão.”Tânia, ex-assessora de Barbosa Neto, quando ele era deputado estadual | Rodolfo Bührer/Gazeta do Povo
“Essas pessoas (funcionários de Barbosa Neto) ganhavam dinheiro público, da Assembléia, mas trabalhavam promovendo o deputado na rádio e na televisão.”Tânia, ex-assessora de Barbosa Neto, quando ele era deputado estadual| Foto: Rodolfo Bührer/Gazeta do Povo

Entenda o caso gafanhoto

Ex-deputados, deputados, funcionários e ex-servidores da Assembléia são os alvos da investigação.

- O Ministério Público Federal iniciou investigações do esquema "gafanhoto" na Assembléia Legislativa do Paraná em 2005. Em menos de quatro meses de trabalho, o MPF levanta indícios de prática de crimes de peculato, estelionato e sonegação fiscal.

- A Polícia Federal assume investigação por se tratar de crime tributário (sonegação fiscal) – contra a União. São abertos 74 inquéritos policiais – um para cada conta corrente com suspeita de irregularidade.

- A Justiça Federal encaminha 14 inquéritos para o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), em Porto Alegre por tratarem de pessoas com foro privilegiado.

- Justiça Federal de Curitiba determina o trancamento das investigações dos 74 inquéritos no aspecto do crime tributário. As investigações por peculato e estelionato continuam, mas devem seguir com a Polícia Civil do Paraná.

- Reportagem da Gazeta do Povo identifica quatro funcionários fantasmas que nunca trabalharam na Assembléia Legislativa do Paraná, mas mesmo assim apareciam na folha de funcionários investigados pelo Ministério Público Federal.

- Procuradoria Regional do Ministério Público Federal da 4ª Região requisita todo o processo envolvendo a investigação sobre o esquema gafanhoto na Assembléia – inclusive os 74 inquéritos da PF.

- Reportagem da RPC-TV mostra que a deputada estadual Bete Pavin (PMDB) tem pelo menos cinco funcionários de seu gabinete que não dão expediente na Assembléia.

- Processo judicial revela que a Assembléia e a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) tinham conhecimento, pelo menos desde 2005, da presença de funcionários fantasmas nomeados em gabinetes parlamentares da Casa. Ação foi movida por bóia-fria que teveos dados pessoais utilizados de forma ilegal.

- Reportagem da Gazeta do Povo revela que quem recebeu o salário do bóia-fria foi uma ex-servidora da Assembléia. Ela já respondia a um processo por improbidade administrativa na Justiça de Curitiba. A ex-funcionária foi denunciada pelo MPE por enriquecimento ilícito – já que teria recebido na conta dela e da mãe os vencimentos de outro funcionário fantasma.

  • Barbosa Neto: denúncias têm motivação eleitoral
  • Saiba mais sobre o depoimento da ex-assessora de Barbosa Neto

O depoimento de uma ex-assessora do deputado federal Ho-mero Barbosa Neto (PDT-PR) complicou a situação do parlamentar na investigação do Ministério Público Estadual (MP) e da Polícia Federal (PF) sobre o esquema gafanhoto dentro da Assembléia Legislativa do Paraná – que apura a contratação de funcionários fantasmas e o suposto desvio de recursos públicos por meio do depósito dos salários de vários servidores da Casa na conta bancária de uma única pessoa. Barbosa Neto, candidato a prefeito de Londrina, está sendo investigado por participar do esquema no período em que exerceu o mandato de deputado estadual na Assembléia, entre os anos de 2003 a 2006. Assim como ele, outros 51 políticos paranaenses são investigados por participarem do esquema gafanhoto.

Tânia, como a ex-servidora do Legislativo será identificada pela reportagem, trabalhou como assessora parlamentar no gabinete de Barbosa Neto por três anos, de maio de 2003 a maio de 2006. Durante esse tempo, ela afirma que assistiu a algumas atitudes do deputado que não condizem com o cargo e que revelam mau uso do dinheiro público, ao contratar funcionários fantasmas e parentes.

Tânia prestou dois depoimentos sobre o caso: um na PF de Curitiba, em maio deste ano, e outro no Ministério Público do Paraná, em março. A íntegra dos depoimentos, obtidos com exclusividade pela Gazeta do Povo, mostram que a ex-assessora acusa a esposa de Barbosa Neto, Ana Laura Lino, de nunca ter trabalhado na Assembléia, embora fosse nomeada na Casa. Já em entrevista à reportagem, disse que Ana Laura recebeu, durante todo o ano de 2005, mais dinheiro da Assembléia do que o próprio parlamentar.

Segundo fontes da Polícia Federal, Ana Laura Lino teria recebido da Assembléia, em 2005, cerca de R$ 165 mil – média de R$ 13,5 mil mensais, vencimento superior até ao que ganha um deputado na Assembléia. Barbosa Neto, por sua vez, como deputado, recebia R$ 9,5 mil mensais naquela época.

Tânia explicou, nos depoimentos e à reportagem, o motivo da discrepância dos vencimentos do deputado e de sua esposa. "A Ana Laura recebia o salário de até quatro pessoas na conta bancária dela", afirmou a ex-assessora, o que caracterizaria o esquema gafanhoto. A esposa de Barbosa Neto, declarou Tânia, foi nomeada para ocupar cargo no gabinete do marido e na liderança do PDT – no período em que o deputado foi líder da legenda na Assembléia.

Mas Ana Laura não era a única parente de Barbosa Neto empregada no gabinete. Num trecho do depoimento, Tânia fala que, além da mulher, a irmã, uma sobrinha e o cunhado também apareciam na lista de funcionários nomeados. "O problema é que nenhuma dessas pessoas aparecia para trabalhar na Assembléia. Mas, no final do mês, recebiam o salário normalmente", disse. Num outro trecho do depoimento prestado à PF, Tânia conta que além dos parentes, Barbosa Neto empregava na Assembléia funcionários da rádio dele de Londrina e do programa de TV Barbosa Neto Show, que apresentava numa emissora de televisão na capital. "Essas pessoas ganhavam dinheiro público, da Assembléia, mas trabalhavam promovendo o deputado na rádio e na televisão", afirmou a ex-assessora. Muitos desses funcionários, comentou Tânia, davam parte ou até todo o salário ganho na Assembléia para o deputado.

Tânia, que cuidava da parte administrativa do gabinete do deputado, entregou às autoridades uma lista contendo nomes e números de contas bancárias de alguns servidores que trabalharam no gabinete.

Como a investigação corre em segredo de Justiça, a PF oficialmente não comentou o depoimento prestado por Tânia. No entanto, um agente da Polícia Fe-deral, que pediu para não ter o nome divulgado, informou que foi solicitado à Justiça a quebra do sigilo bancário de alguns dos funcionários listados por Tânia. A intenção, segundo o agente, é rastrear a movimentação financeira para encontrar o destinatário da verba pública. Confirmado o desvio de dinheiro público, os envolvidos poderão ser denunciados por crime de peculato (apropriação de verba pública).

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