Na eleição do ano passado, o ex-deputado estadual Geraldo Cartário (PTB) era um dos cinco candidatos ao cargo de prefeito de Mandirituba, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Poucos dias antes do pleito, porém, desistiu da disputa diante de sucessivos problemas para que a Justiça Eleitoral deferisse sua candidatura. Hoje, o petebista é uma espécie de supersecretário nomeado pelo prefeito Onildo Gelatti (PTB), que era o vice na chapa original e acabou herdando a candidatura à chefe do Executivo municipal. "Tenho condições de ser secretário até da ONU", defendeu-se o ex-parlamentar.
Cartário teve o mandato de deputado cassado em abril de 2009 por abuso de poder econômico e político e por uso indevido de meios de comunicação naquela eleição. Devido à decisão, seu registro de candidatura à prefeitura de Mandirituba sofreu diversas idas e vindas ao longo do ano passado. Receoso com a possibilidade de vencer o pleito e futuramente ter o mandato de prefeito cassado com base na Lei da Ficha Limpa o que traria problemas à sua pretensão de se candidatar ao Legislativo no ano que vem , o petebista retirou-se da disputa poucos dias antes da eleição.
No lugar de Cartário na disputa, Gelatti saiu-se vitorioso e o nomeou secretário municipal de Transportes. Além disso, o ex-deputado comanda informalmente outras pastas a prefeitura não informou quais são , que não têm secretário nomeado. Cartário disse que a medida seria uma forma de economia e de aproveitar sua experiência na vida pública. "Estou ajudando o prefeito com os compromissos que assumimos na campanha. Não é possível que eu não possa participar da administração do município tendo 40 anos de vida pública", declarou.
Questionado pela reportagem se estaria exercendo o papel de prefeito no lugar de Gelatti, Cartário afirmou que essa é uma acusação dos "imbecis, que não sabem perder eleição". Ele garantiu que só dá palpites nas áreas em que atua na administração do município e que quem manda na prefeitura é quem "assina o cheque" no caso, o prefeito.
"Não sou prefeito coisa nenhuma. Inclusive, fico longe do gabinete dele. Todo político é vaidoso e ele [Gelatti], que é quem ocupa o cargo, nunca vai dar espaço pra ninguém", argumentou.
Volta ao Legislativo
Passados quase quatro anos desde a cassação do seu mandato de deputado, Cartário ainda não se conforma com a decisão e se diz injustiçado. Ele foi acusado de distribuir presentes a ouvintes de uma emissora de rádio de sua propriedade e de utilizá-la para promover a sua candidatura e criticar adversários políticos. "Foi um negócio absurdo. Até hoje não sabem dizer exatamente porque me cassaram", lamentou. Questionado sobre seu futuro político, disse que será candidato a deputado federal ou estadual no ano que vem a decisão vai depender das conversas dentro do PTB.
Prefeitura nega que Cartário concentra poder
O prefeito de Madirituba, Onildo Gelatti (PTB), não foi encontrado para comentar o assunto. No dia de sua diplomação, ainda no fim do ano passado, disse que ele e não Geraldo Cartário iria administrar o município. "Não prometi emprego a ninguém. Tenho liberdade de decidir o secretariado, o 2.º escalão, os funcionários de que eu vou precisar", afirmou, em entrevista ao jornal O Repórter, que circula na RMC. "[Mas] quem administra não pode chamar toda a responsabilidade, tem de delegar poderes. Hoje, não se trabalha sozinho, mas em grupo. Por isso, fiz uma equipe para discutir os problemas."
À Gazeta do Povo, o chefe de gabinete do prefeito, Anselmo Fausto, também negou que o poder esteja nas mãos de Cartário. Segundo ele, a única influência do ex-parlamentar na gestão municipal é ser amigo de Gelatti. "O prefeito de direito e de fato é o Onildo Gelatti. Quem não gostaria de ter uma pessoa como o Cartário no secretariado, contribuindo com a administração?", questionou. "Independentemente de o Cartário estar aqui na prefeitura ou não, ele sempre será uma pessoa na linha de frente do município. Não há nada que o impeça legalmente de atuar na prefeitura."