Durante acareação na CPI dos Bingos, o ex-diretor de marketing da Gtech Marcelo José Rovai chamou de bandido o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz. Provocado por Diniz a retirar o que dissera, Rovai confirmou e estendeu a acusação ao advogado Rogério Buratti, outro que participa da sessão na comissão. A acareação na CPI dos Bingos é feita entre cinco envolvidos nas negociações para a renovação do contrato de R$ 650 milhões entre a empresa Gtech (multinacional do ramo lotérico) e a Caixa Econômica Federal para gerenciamento do sistema de loterias federais. Além de Rovai, Diniz e Buratti, participam o empresário de jogos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e o advogado Enrico Gianelli, ligado à Gtech.

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Rovai disse que Buratti e Waldomiro se juntaram para achacar e isso é atitude de bandido:

- Levamos uma bolada nas costas, como disse o senador Magno Malta (PL-ES), por esse bando de bandido aí que tentou tirar dinheiro da empresa. Mas dançaram. Dançaram porque a Gtech não pagou e tem mais, pegaram um idiota, um brasileiro aqui que não dá propina para guarda e não corta pelo acostamento. Denunciei, sim, denunciei na Polícia Federal e graças a isso essa CPI foi instituída, a Leão & Leão está todo mundo preso, foi descoberto um monte de coisa. Tenho orgulho - afirmou.

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Questionado pelos senadores sobre por que não teria denunciado tudo 'em tempo real' e, sim, um ano depois dos fatos, Rovai disse que denunciou, sim, e que se orgulha de ter denunciado tudo.

O presidente da CPI dos Bingos, senador Efraim Morais (PFL-PB), chamou a atenção de Rovai para que não generalizasse e dissesse por que fazia as acusações.

- Para mim, bandido é uma pessoa que pede dinheiro para outra, que tenta extorquir, para obter vantagem. E foi o que ele fez - disse o ex-diretor da Gtech sobre Waldomiro Diniz.

Efraim Morais emendou a pergunta:

- Quem que o senhor acha desses cinco aqui que são bandidos?

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Rovai respondeu:

- Bandido aqui? O senhor Buratti e o senhor Waldomiro, não tenho a menor dúvida.

O senador, então, ordenou:

- Por favor, não se utilize mais dessa palavra com acusação a nenhum dos senhores. Tenha respeito, o senhor está passando do ponto em relação a essa acusação. Temos que respeitar a todos que aqui estão, convocados, operando, e o senhor, se não tiver argumentos, não tem que apelar.

Em outro momento, indagado sobre qual teria sido a motivação de Waldomiro Diniz em participar das negociações entre Gtech e Caixa, Carlinhos Cachoeira afirmou:

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- Achacar. Seguindo a linha normal do senhor Waldomiro Diniz, foi achaque - disse o empresário de jogos, que não pôde dizer, porém, se a Gtech pagou ou não a propina.

Com a acareação, os senadores da CPI dos Bingos - criada para investigar as casas de jogos e a relação delas com o crime organizado - querem tirar dúvidas sobre as contradições apresentadas em outros depoimentos. Um relatório preliminar do Tribunal de Contas da União (TCU) revela que a Caixa teve prejuízo de R$ 433 milhões em sete anos de contrato com a Gtech (1997 a 2004).

Gianelli seria o elo entre Buratti e a Gtech. Diretores da multinacional acusam Buratti de tentar extorquir R$ 6 milhões da empresa para garantir o fechamento do negócio. Buratti, por sua vez, diz que foi procurado pela Gtech por sua suposta influência no Ministério da Fazenda, que é responsável pela Caixa. A empresa, disse, lhe ofereceu uma comissão de até R$15 milhões. Buratti foi secretário de Governo na gestão do ministro Antonio Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto (SP) e é investigado pela suspeita de ter praticado tráfico de influência.

Mesmo com acusações de parte a parte, o contrato com a Caixa acabou sendo assinado em 8 de abril de 2003. Por isso, a CPI dos Bingos suspeita que a negociação acabou evoluindo com a ajuda de outro grupo do governo, ligado a Waldomiro Diniz. Waldomiro foi flagrado em um vídeo pedindo propina a Cachoeira para campanhas eleitorais.

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