Manifestantes se enfrentam na frente da estatal
Sindicatos de trabalhadores, incluindo petroleiros, entraram ontem na batalha política em torno da Petrobras, em ato realizado na sede da estatal, no centro do Rio. Com apitos, bandeiras e cartazes, diferentes frentes sindicais fizeram uma batalha de argumentos contra e a favor da CPI proposta no Congresso para investigar as denúncias de corrupção na compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.
O ato foi convocado pela Força Sindical, ligada ao deputado Paulinho da Força, do Solidariedade. Cerca de 150 manifestantes participaram do ato com faixas contrárias ao governo Dilma. Na época da compra da refinaria de Pasadena, ela era presidente do Conselho de Administração da Petrobras.
Antes, um grupo de sindicalistas da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e da Federação Única dos Petroleiros (FUP) deu um abraço simbólico ao prédio contra o que chamaram de "ataque especulativo" contra a Petrobras. Eles criticaram a oposição e a instalação da CPI.
Discurso
Dilma acusa oposição de tenta "sucatear" a Petrobras
Agência Estado
A presidente Dilma Rousseff reeditou ontem a estratégia do PT em 2006 e 2010 de atrelar o PSDB à intenção de privatizar e sucatear a Petrobras. Em visita ao Porto de Suape (PE) e vestindo o macacão laranja da Petrobras, ela tentou esvaziar a CPI da Petrobras e acusou a oposição de atuar contra a estatal. "Como presidenta, mas sobretudo como brasileira, eu defenderei em qualquer circunstância e com todas as minhas forças a Petrobras", afirmou. "Manipulam dados e desconhecem deliberadamente a realidade do mercado mundial de petróleo", disse sobre a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.
Investigação
Renan Calheiros diz ao STF que CPI ampla é "a melhor opção"
Agência Estado
Em documentos enviados ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou que respeitou o direito das minorias parlamentares ao defender a criação de uma CPI ampla para investigar suspeitas de irregularidades na Petrobras e também em contratos do Metrô de São Paulo, do Porto de Suape e de uma refinaria em Pernambuco. A manifestação de Renan havia sido solicitada pela ministra Rosa Weber, que decidirá pedidos de parlamentares de oposição e governistas. O primeiro grupo quer uma CPI exclusiva para apurar suspeitas de irregularidades na Petrobras. O segundo é a favor da CPI ampla.
Documentos e anotações apreendidas na casa e no escritório de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras preso pela Polícia Federal (PF) na Operação Lava Jato, revelam que uma série de empresas pagariam propinas a ele por contratos firmados com a estatal. Os porcentuais normalmente iam de 2,5% a 10%, mas, em alguns casos, chegariam a 50%. A documentação foi obtida pela RPC TV.
Costa deixou a Petrobras em 2012 para montar a Costa Global, uma empresa de consultoria. Para a PF, o ex-diretor utilizava seus contatos na estatal para intermediar contratos. Alguns e-mails demonstram os pedidos de ajuda. "Caso tenhamos sucesso com a ajuda do senhor em fechar esse negócio, teremos um lucro líquido de aproximadamente US$ 140 milhões, onde 50% será para minha empresa e 50% para vocês, que estão diretamente engajados nesse projeto."
Em outro e-mail, um deputado federal do Rio de Janeiro pede "valiosa ajuda" para a empresa de um "grande amigo". Costa responde: "Grato amigo, vou fazer alguns contatos e mantenho você informado."
Um dos contratos mais valiosos que parecem na listagem de Costa é com a Astromarítima Navegação S.A., que funciona no Rio de Janeiro. A empresa possui seis contratos que chegam a R$ 490 milhões.
Em 28 de novembro de 2013, um mês após a assinatura do primeiro contrato da Astromarítima com a Petrobras, Paulo Roberto Costa menciona a empresa em uma planilha.
No trecho em que se refere aos contratos em andamento, o documento confirma que a Astromarítima Navegações S.A. pagaria comissão de 5% do valor bruto, até o limite de R$ 110 milhões, e mais 50% sobre o montante que ultrapassasse este valor.
Procurado, o advogado de Costa, Fernando Augusto Fernandes, afirma que as anotações não revelam vínculo com a Petrobras.
"Essas anotações se referem a contratos obtidos pela empresa do Paulo Roberto, declarados e legais e que, nesse caso, se refere a tentativa de investimento ou venda desta empresa. Nenhuma relação com a Petrobras", afirma Fernantes.
A Astromarítima afirmou ontem, em nota, que trabalha com a Petrobras há 30 anos e que nunca fez qualquer "proposta escusa" para conseguir contratos com a estatal.
Os documentos indicam que, na negociação com a empresa, Costa não agia sozinho. As anotações mostram que o ex-diretor dividia os percentuais com Raulo Motta, proprietário da Energio, uma empresa de energia que tinha sociedade com a Costa Global. Juntas, as duas adquiriram uma refinaria no Sergipe, em um negócio de R$ 120 milhões. Motta afirmou que apenas indicou a empresa de Costa a um amigo, acionista da Astromarítima, e que nunca recebeu remuneração por essa indicação.
Empresas doaram R$ 49 milhões para campanhas
Chico Marés
Empresas citadas em lista apreendida pela Polícia Federal (PF) na casa do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa movimentaram pelo menos R$ 49,9 milhões na campanha de 2010. A maior parte desse valor (73%) foi paga a partidos da base aliada do governo Dilma Rousseff, mas a oposição também foi beneficiada especialmente em campanhas estaduais. No Paraná, essas empresas doaram R$ 2,5 milhões. A maior parte desse dinheiro foi para o PDT.
A PF apreendeu na casa de Costa, que está preso desde 20 de março, uma lista de empresas com contratos com a Petrobras que teriam sido convencidas pelo ex-diretor a doar recursos para diversas campanhas eleitorais em 2010, segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo. Na lista, constam as empresas Engevix, UTC/Constran, Mendes Júnior, Iesa, Hope RH e Toyo Setal, além de anotações sobre os executivos contatados e sua disposição de colaborar ou não para a campanha.
Dessas seis empresas, cinco doaram para a campanha. Apenas a Toyo Setal não consta na lista de doadores no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A lista de beneficiários vai do PT, que recebeu um total de R$ 18,7 milhões, ao PSDB, que ganhou R$ 10,3 milhões.
Essa tendência é ainda maior quando se trata de doações para diretórios e campanhas nacionais. De R$ 16 milhões doados, R$ 14,4 milhões foram para partidos que fizeram campanha para a presidente Dilma Rousseff. R$ 18,8 milhões foram doados diretamente para candidatos, como os ministros Aloizio Mercadante (PT) e Marta Suplicy (PT); a lideranças da oposição, como Aécio Neves (PSDB) e ACM Neto (DEM).
No Paraná, as cinco empresas doaram R$ 2,5 milhões, dos quais R$ 1,9 milhão foi destinado ao comitê e ao diretório do PDT o partido lançou Osmar Dias (PDT) como candidato a governador. Gleisi Hoffmann (PT) recebeu R$ 250 mil da UTC Engenharia para sua candidatura ao Senado, enquanto Beto Richa (PSDB) ganhou R$ 125 mil da Engevix para sua campanha ao governo. Os diretórios do PT e do PRTB também receberam doações.
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