Palácio da Justiça foi desocupado antes mesmo de a reforma começar, e tapumes cobrem janelas| Foto: Brunno Covello/ Gazeta do Povo

Comparativo

Reforma do TJ custará mais do que o dobro da obra do Palácio Iguaçu

Praticamente só vão sobrar as estruturas de concreto caso o plano de reformar todo o Palácio da Justiça seja levado adiante. A obra prevê a substituição de todas as esquadrias, que deverão ser de alumínio, e a troca do piso, do forro, do cabeamento de energia elétrica e da rede de informática. Além disso, um estacionamento subterrâneo, com 7 mil metros e para mais de 200 veículos, deve ser construído. O prédio deve ter um restaurante na cobertura e um setor de atendimento médico. Luminárias e elevadores serão revitalizados. Estão previstas passarelas ligando o Palácio ao prédio anexo. O prédio é histórico – foi concluído em 1953 e precisa seguir uma série de regras para a preservação do patrimônio. As luminárias e o mármore branco do térreo devem ser restaurados. O arquiteto Salvador Gnoato compara com a obra que foi feita no Palácio Iguaçu, reformado entre os anos de 2007 e 2012, ao custo de R$ 32,4 milhões (menos da metade do que está previsto para o TJ). A sede do governo estadual tem 16 mil metros quadrados, e o Palácio da Justiça, 20 mil.

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Camargo não foi localizado para comentar o caso
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Bem no meio da polêmica sobre o projeto de reforma no Palácio de Justiça, ocorreu uma mudança no comando no Departamento da Engenharia e Arquitetura (DEA) do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ). Como um dos últimos atos publicados em diário oficial na terça-feira passada, o ex-presidente do TJ Clayton Camargo assinou a exoneração do então diretor do DEA, Raul Baglioli Filho. Não é a primeira vez que o engenheiro se vê no meio de um imbróglio político: Baglioli responde a processos cíveis e criminais por suspeitas de participação em um contrato fraudulento em Londrina, em 1999, na gestão do ex-prefeito Antônio Belinati.

De acordo com o Minis­­tério Público Estadual (MP), Baglioli esteve envolvido no chamado escândalo da Comurb (Companhia Municipal de Urbanização de Londrina, atual CMTU). Representando a empresa NT&C, ele teria cedido documentos para a participação em uma licitação que acabaria sendo, segundo a promotoria, fonte de caixa 2. Além de processos por improbidade administrativa, Baglioli responde pelos crimes de falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. As ações ainda não foram julgadas.

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Nomeado como diretor do Departamento de Engenharia e Arquitetura do TJ em março deste ano, Baglioli estava à frente do processo que definiu as bases da reforma do prédio do tribunal. Ele recebeu pareceres do corpo técnico do TJ questionando parâmetros de construção definidos no edital da reforma.

Baglioli foi substituído no cargo, na terça-feira, por José Luiz Leite da Silva Filho, arquiteto e funcionário de carreira do Judiciário.

Outro lado

Procurado pela Gazeta do Povo, Baglioli não quis falar sobre a reforma, os motivos da sua saída do cargo e os processos a que responde na Justiça. Ele se limitou a dizer que pediu a exoneração há cerca de dez dias.

Projeto foi definido junto com o TJ, diz empresa

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Um dos responsáveis pela empresa Sobe, o arquiteto Salvador Gnoato diz que o projeto de reforma do prédio do Judiciário foi definido sempre em comum acordo com o Tribunal de Justiça do Paraná (TJ). Sobre a escolha do sistema de ar condicionado, ele afirma que foram apresentados dois projetos, com modelos diferentes, e que o TJ decidiu qual preferia usar. Gnoato destacou que ambas as opções têm prós e contras e preços parecidos. "São decisões bem técnicas", diz.

Sobre Benefícios e Des­­pesa Indireta (BDI), o arquiteto declara que a empresa não teve nenhuma interferência – o cálculo foi apresentado com base nos dados fornecidos pelo próprio TJ. Segundo ele, o projeto não é "nem tão simples nem tão comum". "É leviandade achar que é caro ou barato sem conhecer o que vai ser feito lá", ressalta.

Gnoato comenta que o edifício do Palácio da Justiça já foi esvaziado para a reforma e que é preciso lançar o edital da obra o quanto antes. "Não se pode ter um prédio de 20 mil metros quadrados desocupado", diz.

O desembargador Clay­­­­ton Camargo, ex-presidente do TJ-PR, não foi localizado para comentar o caso. O advogado dele, Fajardo José Pereira Faria, afirmou desconhecer detalhes do edital e que questões técnicas sobre a obra deveriam ser esclarecidas pelo tribunal.