Outro lado
Zé Domingos diz que aceitou dinheiro porque outros também recebiam
"Há vários outros casos idênticos. Como havia outros [radialistas que também recebiam], nós aceitamos", diz o ex-diretor da Câmara de Curitiba José Domingos Teixeira para justificar o fato de ter recebido verba de publicidade mesmo sendo funcionário da Casa. "Não é uma prática correta, mas existe há vários anos e criou um círculo vicioso", admite Zé Domingos, como é conhecido.
Ele ressalta, no entanto, que divulgou informações do Legislativo. Por isso, acredita que não fez nada de errado. A verba repassada, segundo ele, era direcionada para as emissoras de rádio, para pagar o arrendamento de horário do seu programa. A reportagem pediu a Zé Domingos contatos do filho, da esposa e da cunhada, mas ele afirmou que falava em nome dos parentes.
Procurado pela reportagem, o motorista José Thimótheo disse que conversaria por telefone, mas não foi mais localizado.
Perfil
Servidor era o homem de confiança de Derosso
José Domingos Teixeira, o Zé Domingos, já foi vereador e candidato a deputado federal. Ele era o homem de confiança do ex-presidente da Câmara Municipal João Cláudio Derosso (PSDB). Entre as responsabilidades do ex-diretor estava autorizar pagamentos.
Além de radialista, ele também era conhecido como apresentador de um programa policial dos anos 70 na televisão. No programa, ele expunha as vítimas de crimes e os acusados. Tinha um bordão: "cadeia", em que fazia um gesto com os dedos simulando uma grade.
No lugar de Zé Domingos na direção-geral da Câmara assumiu, no início do mês, Vinicios José Bório, funcionário de carreira da prefeitura de Curitiba. Ele foi indicado pelo novo presidente do Legislativo, vereador João Luiz Cordeiro (PSDB).
O ex-diretor geral da Câmara Municipal de Curitiba José Domingos Teixeira usou o nome de parentes numa empresa para receber dinheiro de publicidade da Casa. Zé Domingos, como é conhecido, deixou o cargo no início do mês, depois de pelo menos nove anos no comando da administração do Legislativo. Nesse período, ele não poderia ter mantido relações comerciais com a Câmara. A lei de Licitações proíbe que o servidor preste serviços privados à instituição que o emprega.
MULTIMÍDIA: José Domingos admite que recebia verba da Câmara; ouça
Apesar da vedação, a Marmace Publicidade Propaganda e Representações Ltda. recebeu pelo menos R$ 261 mil por serviços prestados ao Legislativo municipal. A empresa já esteve em nome de Ana Maria do Prado, mulher de Zé Domingos e hoje tem como sócios Márcio José Teixeira e Maria Cecília Prado Alves, filho e cunhada do ex-diretor.
Em entrevista, Zé Domingos admite que apesar de não ser dono, na prática é ele quem comanda a Marmace. "Eu participo da empresa, só que eu não podia aparecer porque eu era funcionário da Câmara", reconhece. Ele acrescenta ainda que os parentes, apesar de sócios, não tinham relação direta com os contratos. "Eles não têm participação."
Documentos obtidos pela reportagem mostram que a Marmace foi subcontratada pelas agências Oficina da Notícia e Visão Publicidade. As duas empresas venceram a licitação da Câmara de Curitiba para administrar aproximadamente R$ 34 milhões destinados à publicidade da Casa.
Segundo Zé Domingos, a Marmace recebia dinheiro para fazer propaganda dos vereadores e da Câmara no programa que ele apresentava nas rádios Colombo e Continental. Ele afirma que divulgava o material distribuído pela assessoria de comunicação da Casa.
Motorista
Quem assina ao menos um dos recibos de pagamento pela Marmace é José Alvari Thimótheo, motorista da Câmara lotado no gabinete da Diretoria-Geral, ocupada até o início deste mês por Zé Domingos. Thimótheo também assina recibos de pagamento da empresa DL Publicidade. A empresa pertence a Danilo Thimótheo e Luana Thimótheo ambos filhos do motorista da Câmara e está sediada no mesmo endereço que a Marmace.
A reportagem esteve no local indicado no registro das empresas. No papel, as duas deveriam funcionar no conjunto comercial 1.312 no 13.º andar do edifício Tijucas, no Centro de Curitiba. Mas a sala está vazia há pelo menos três anos, de acordo com o porteiro do prédio.
Assim como a Marmace, a empresa DL Publicidade foi subcontratada pela Oficina da Notícia para divulgar informações da Câmara de Curitiba nos programas de rádio apresentados por Zé Domingos. A reportagem teve acesso a duas notas fiscais comprovando que a DL recebeu pelo menos R$ 4,5 mil da empresa de Cláudia Queiroz, mulher do ex-presidente da Câmara João Cláudio Derosso (PSDB). As duas notas foram emitidas no mesmo dia: 14 de março de 2011. Os únicos clientes da DL Publicidade e da Marmace eram os programas de Zé Domingos nas duas rádios.
VÍDA PÚBLICA | 2:10
Ex-diretor geral admite que recursos de publicidade do Legislativo municipal foram repassados para seus programas de rádio, prática que é ilegal
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