No primeiro depoimento da CPI da Petrobras na Câmara, o ex-gerente da estatal Pedro Barusco, que admite o recebimento de propinas e a divisão delas com o Partido dos Trabalhadores, detalhou seu relacionamento com o tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, citando jantares em hotéis e contatos por mensagens telefônicas
Deputados investigados por corrupção na Petrobras não comparecem à CPI
Os dois integrantes da CPI da Petrobras que se tornaram alvo de investigação por suposto envolvimento no esquema de corrupção na estatal não compareceram à sessão desta terça-feira, 10. O titular Lázaro Botelho (PP-TO) e o suplente Sandes Júnior (PP-GO) não tiveram presença registrada.
O PSDB decidiu acionar a Corregedoria da Câmara dos Deputados para bloquear a presença de parlamentares que estão na lista do procurador Rodrigo Janot na CPI da Petrobras. “Se o líder do partido não toma essa decisão (de substituir os nomes), cabe a nós representar junto à Corregedoria”, disse o líder do PSDB, Carlos Sampaio, durante a sessão da CPI. PSOL e DEM também defenderam a saída da dupla.
Disse que recebeu um pedido de reforço financeiro de Vaccari e que, por isso, providenciou o repasse de U$ 300 mil para a campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010, contra José Serra (PSDB).
Sobre o reforço à campanha de Dilma, afirmou: “Em 2010 foi solicitado à [empresa holandesa] SBM um patrocínio de campanha, mas não foi dado por eles diretamente. Eu recebi o dinheiro e repassei (...) para o João Vaccari Neto”. A informação já havia sido citada por Barusco em sua delação premiada.
Os detalhes do relacionamento com o tesoureiro, caso confirmados com registros como câmeras internas dos hotéis e dados telefônicos, podem comprovar pela primeira vez a proximidade entre Barusco e Vaccari.
Repetindo informações já dadas em sua delação premiada ao Ministério Público Federal, Barusco reafirmou nesta terça-feira (10) que havia um acordo para que um percentual dos contratos firmados na diretoria de Serviços, na qual atuava, seria destinado ao PT, e que o responsável pelo recebimento era Vaccari.
Esse percentual era uma propina paga por um cartel de empresas a funcionários da Petrobras, que era repassada em parte a legendas aliadas, de acordo com as investigações da Operação Lava Jato.
Barusco, porém, disse que só conversava com ele sobre a divisão da propina e não sabia a destinação que seria dada ao dinheiro. “Isso cabia ao João Vaccari gerenciar. Ele que era responsável. Não sei como ele recebia, para quem ele distribuía, se era oficial, extra-oficial. Cabia a ele naquele percentual uma parte.”
O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco reafirmou, nesta terça-feira, que ele próprio, o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque e o tesoureiro do PT, João Vaccari, recebiam recursos do esquema de propina da Petrobras.
“O mecanismo envolvia representante da empresa, próprio empresários, eu, Duque e João Vaccari, são protagonistas”, afirmou, observando, no entanto, que não sabe como Vaccari recebia esses recursos, se eram depositados no exterior, se iam direto para o PT como doações ou se eram entregues em espécie.
Barusco também afirmou que não tem certeza de que o partido teria recebido US$ 200 milhões. O cálculo foi feito por estimativa.
“Gostaria de esclarecer um detalhe: dizem que eu acusei o PT de receber US$ 200 milhões ou US$ 150 milhões. Estou aqui com acordo em mãos. O que eu disse é que eu estimava esse valor, que por eu ter recebido a quantia divulgada, como o PT estava na divisão da propina, cabia a ele receber o dobro ou um pouco mais. Eu estimava que devia ter recebido o dobro. Se eu recebi, por que os outros não?”, questionou, para continuar:
“Eu não acusei nada. Eu falei que cabia a mim uma quantia e eu recebi. Então eu estimei. Eu estimo, considerando o valor que recebeu de propina, que foi pago de US$ 150 a US$ 200 milhões. Não sei como recebeu, se foi doação oficial, se foi lá fora, se foi em dinheiro. Havia reserva para o PT receber. Se recebeu, e a forma como recebeu, eu não sei”, disse.
Barusco também afirmou que a divisão da propina era estabelecida era feita com um agente político ou representante deste, sem esclarecer exatamente a quem se referia.
“O envolvimento com agente político ou representante de agente político era no momento da divisão do quantitativo da propina. Se o contrato pertencia (à diretoria de) Abastecimento, 2%, 1% era Abastecimento, para o diretor Paulo Roberto conduzir o recebimento e o encaminhamento. Outro 1% era metade para o PT e metade para a casa, no caso Renato Duque. Eu cuidava desse 0,5% e o outro 0,5% mais recentemente quando assumiu João Vaccari era ele quem conduzia”.
Barusco disse que, além dele, “em alguns casos” também receberam recursos irregulares, o então diretor Jorge Zelada e, em pouquíssimos casos, um ou dois, o sucessor ele, Roberto Gonçalves.
Advogada de Barusco diz que depoimento à CPI ‘foi satisfatório’
Após cinco horas e meia de depoimento a CPI da Petrobras, o ex-gerente executivo da Diretoria de Serviços da Petrobras Pedro Barusco deixou a Câmara dos Deputados sem dar declarações aos jornalistas. Sua advogada, Beatriz Catta Preta, disse apenas que o depoimento foi “satisfatório”.
Catta Preta também acompanhou o depoimento do ex-diretor Paulo Roberto Costa no ano passado à CPMI da Petrobras. Na ocasião, a advogada explicou que Costa se calou no primeiro depoimento porque seu acordo de delação premiada ainda não era público e que hoje Barusco falou apenas sobre o que lhe era permitido relatar. A advogada evitou se aprofundar nos comentários sobre a oitiva.
Durante a sessão, o ex-gerente foi pressionado para falar quem comandava o esquema de pagamento de propina na Petrobras. Segundo ele, o esquema se institucionalizou entre 2003 e 2004 e que entre 1997 e 1998 ele agiu de forma individual.
Barusco repetiu diversas vezes que o operador do esquema do PT era o tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, e que em 2010 recebeu da SBM offshore dinheiro para a campanha presidencial de Dilma Rousseff. O ex-gerente declarou que não foi alçado ao posto por indicação política e sim técnica.
Os hotéis onde Barusco relatou se encontrar com Vaccari eram os mesmos onde o tesoureiro do PT e o ex-diretor de Serviços e superior de Barusco, Renato Duque, disseram à Polícia Federal que conversavam. As conversas, segundo Barusco, ocorriam nos restaurantes do hotel Windsor, no Rio de Janeiro, e do Meliá, em São Paulo.
“Os encontros demoravam uma hora, uma hora e meia e eventualmente a gente jantava, alguma coisa assim. Eu não comparecia a todos os encontros, comparecia a alguns, geralmente quem ia era o Duque”, afirmou.
Segundo ele, nas reuniões já era marcado quando seria o próximo encontro e, pouco antes, a confirmação era feita por telefone. “Um pouco antes a gente mandava um SMS [mensagem via telefone celular]”, relatou Barusco.
O ex-gerente também revelou que o Ministério Público está fazendo o levantamento dos registros telefônicos, para fazer o cruzamento e comprovar esse elo com Vaccari. O telefone que usava na época, porém, era seu funcional, e não pessoal --por isso diz não ter mais detalhes.
Um dos delatores da Operação Lava Jato, Barusco despertava interesse do PT e do PSDB porque havia relatado à Polícia Federal que começou a receber propina entre 1997 e 1998, época da gestão Fernando Henrique Cardoso, por parte da empresa holandesa SBM Offshore.
Frustrando expectativas do PT, porém, Barusco não aprofundou as declarações dadas anteriormente, sob o argumento de que esse caso ainda está sob investigação. “Estou sendo investigado pelo Ministério Público Federal e pela Justiça holandesa. Então nesse tema aqui, eu já fiz todas as declarações. O aprofundamento eu estou fazendo para o Ministério Público Federal.”
Questionado se possuía autonomia para favorecer a empresa, porém, Barusco disse que não. “Não, inclusive esses contratos não eram fechados por mim”, afirmou.
Barusco: peguei tudo o que tinha na Suíça e devolvi
O ex-gerente-executivo da Diretoria de Serviços da Petrobras Pedro Barusco disse à CPI da Petrobras que não tinha outras contas no exterior para receber a propina arrecadada no esquema de corrupção. “Tudo o que tinha na Suíça eu devolvi”, afirmou, referindo-se aos US$ 97 milhões que se comprometeu a devolver em seu acordo de delação premiada.
Em diversas ocasiões, Barusco reiterou que a divisão da propina era para o PT (através do ex-diretor de Serviços Renato Duque) e o dinheiro para PP e PMDB era gerenciado pelo ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa. Segundo ele, o controle da propina era feito em planilha e depois o “acerto de conta” era feito com os operadores.
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