No dia seguinte à Câmara dos Deputados aprovar o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o vice-presidente Michel Temer se reuniu em São Paulo com conselheiros para traçar uma estratégia de defesa à ofensiva governista.
Um dos principais auxiliares do vice, o ex-ministro Moreira Franco, chegou ao escritório de Temer, no bairro do Itaim Bibi, acompanhado de Thomas Traumann, que foi porta-voz e ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom) de Dilma.
A avaliação do entorno do vice-presidente é de que, a partir de agora, o governo insistirá, cada vez mais, “na vitimização” da presidente e que Temer não deve deixar de dar respostas.
A reportagem apurou que, na avaliação do auxiliares de Temer, Traumann poderia “ajudar a calibrar o discurso” do vice-presidente, baseado na proximidade que teve com Dilma até recentemente.
A presidente, avaliam os auxiliares da patista, estaria partindo para uma separação “litigiosa”.
Ao chegar ao escritório de Temer, Franco afirmou que o peemedebista tem “a noção exata do tamanho do desafio que a Presidência impõe”.
“O desafio [de Temer] começa pela necessidade de restabelecer a credibilidade do país, restabelecer a possibilidade de a economia crescer para que possamos gerar emprego e tranquilizar a sociedade brasileira”, afirmou.
Questionado se o vice-presidente já estaria pensando em uma equipe econômica para o seu futuro governo, respondeu: “É claro”.
Apesar das especulações, Temer interditou qualquer discussão pública sobre a composição de um eventual governo para não melindrar o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o plenário da Casa que vai avaliar a continuidade do impeachment de Dilma.
“Ele não se sente confortável de fulanizar essas discussões e nem acha que é a hora de fazer isso”, afirma o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), que integra o grupo mais próximo ao vice-presidente.
Como Temer e Renan são desafetos e acumulam um histórico de acusações de parte a parte, o vice pediu aos aliados muita cautela. Ele próprio pretende evitar pronunciamentos agora.
Por enquanto, a ordem é continuar sinalizando na direção de que uma eventual gestão Temer marcará uma ruptura do modelo implementado por Dilma, com corte de ministérios e uma gestão mais “técnica”.
Pessoas próximas a Renan dizem que ele já avisou que não será o “motoboy” do impeachment. O senador reafirmou que se posicionará como “poder moderador”, sem acelerar nem travar o andamento das discussões.
Pessoas próximas ao vice indicam que, mesmo optando por não polemizar publicamente com Dilma, ele poderia “responder” à presidente judicializando as acusações que ela faz contra ele.
Temer já adotou posição semelhante ao ser xingado pelo ex-governador Cid Gomes, que o chamou de “chefe de quadrilha”.
Aliados dizem que o vice se incomoda com as acusações de Dilma e que se sente injustiçado pela petista.
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