Defesa
Envolvidos no suposto esquema preferem manter o silêncio
Procurada pela reportagem, Francely Villagra afirmou que ninguém da família iria se pronunciar. "A gente [família Massinhan] conversou, pensamos bem, e decidimos que o representante da empresa se reservou ao direito de falar na hora certa e com a pessoa certa, talvez em juízo, para quem compete na verdade". Sinézio Carlos Siroti, dono da Siroti Vídeos e Produções, afirmou por telefone que preferia não se manifestar sobre as acusações.
As declarações da ex-sócia da Siroti Vídeo Produções S/C Ltda, Neide Moreira, colocam a empresa sob suspeita de ter sido usada para fraudar licitação. Segundo ela, a empresa nunca teria participado de concorrências junto à Câmara Municipal de Curitiba e não prestou qualquer tipo de serviço para o Legislativo da capital.
VÍDEO: Confira entrevista de Neide Moreira, ex-sócia da empresa Siroti
DOCUMENTO: Veja a semelhança das caligrafias nas notas fiscais da Siroti e da Real Time
Entretanto, dados do portal Controle Social mantido pelo Tribunal de Contas do Estado (TC) mostram que, em junho de 2006, a Câmara convidou a Siroti para disputar a Licitação n.º 009/2006, cujo objeto de contrato era a prestação "de serviços de filmagens e fotografias em eventos realizados ou patrocinados" pela Casa, a um custo anual de R$ 36 mil. Dez dias depois do convite, a Siroti foi declarada vencedora da licitação, em seguida assinou o contrato e, ao final dele, recebeu R$ 42,7 mil graças a dois aditivos contratuais. O vereador João Cláudio Derosso (PSDB), ex-presidente da Casa, é quem assina pela Câmara o contrato com a Siroti.
Em entrevista à RPC TV, Neide afirma que foi sócia da produtora com o ex-marido Sinézio Carlos Siroti até 2007 e que, nesse período, a Siroti nunca prestou serviço para a Câmara. "A Siroti Vídeo diretamente não [prestou serviço para a Câmara de Curitiba]. A Siroti Vídeo forneceu algumas notas e o nome da empresa para outra pessoa prestar serviço para a Câmara. Para o Antônio Carlos Massinhan", diz, contando que ele ficava com os documentos da empresa dela. Dos nove recibos de pagamento à Siroti a que a reportagem teve acesso, em oito quem assina é Antônio Massinhan e, em outro, a assinatura é de Francely Villagra, mulher de Massinhan e também funcionária da Câmara.
"O bloco de notas ficava mais com ele do que com a gente. Ou quando estava com a gente e ele precisava emitir as nossas notas ele ligava, a gente preenchia e ele pegava", declara Neide. "O dinheiro referente a todas as notas que foram encaminhadas para a Câmara ficaram com ele [Massinhan]", completa.
Neide não descarta que Massinhan possa ter usado os documentos da Siroti para participar e até vencer licitações. "Ele precisava participar de licitação. Ele tinha uma empresa e precisava de mais para concorrer. A gente fornecia os dados que ele precisava e, quando ele tinha que emitir notas, a gente fornecia o bloco para ele. Fornecíamos todos os dados de que ele precisava e ele preenchia as cartas para participar de licitação", disse Neide.
"Acredito que para licitação tem que ter mais de uma empresa. De repente ele colocava a nossa [empresa] com maior valor. Alguma coisa nesse sentido para favorecer o lado dele", completa, dizendo que acredita que isso "não deve ser o correto".
Histórico
Não é a primeira vez que são noticiados suspeitas de problemas em licitações na Câmara de Curitiba. Reportagem da Gazeta de julho de 2011 mostrou haver indícios de direcionamento da licitação de publicidade para a Oficina da Notícia, que pertence à mulher de João Cláudio Derosso, a jornalista Cláudia Queiroz. Na ocasião, o Ministério Público entrou com uma ação de improbidade administrativa contra o tucano, a mulher e outros três funcionários da Câmara, por direcionamento no processo licitário.
Letras semelhantes estão nas notas fiscais apresentadas pelas empresas Real Time e Siroti
VIDA PÚBLICA | 1:52
Neide Moreira diz que empresa nunca prestou serviços ao legislativo municipal, mas dados do TC mostram que a Siroti venceu concorrência da Câmara em 2006