O ex-vereador do PT Alexandre Romano, conhecido como Chambinho, afirmou à Polícia Federal que foi Luis Gushiken (morto em 2013), ex-ministro de Comunicação do governo Lula, que indicou o advogado Guilherme Gonçalves, jurídico na área eleitoral da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), para o recebimento de 9% da propina destinada a ele da empresa Consist Software, no contrato de empréstimos consignados do Ministério do Planejamento.
“Inicialmente os honorários acordados com a Consist foram de 25,8%”, contou ele, em depoimento prestado na sexta-feira (14), à delegada de Polícia Federal Renata da Silva Rodrigues. O porcentual teria sido aumentado para 32%. “Posteriormente, a pedido de Gushiken, destinou aproximadamente 9% para o escritório Guilherme Gonçalves”, revelou Romano, em colaboração espontânea prestada na oitiva.
O ex-ministro do governo Lula, segundo Romano, ainda indicou posteriormente uma segunda empresa que se beneficiaria dos honorários, que era ligada a “eles” (o Partido dos Trabalhadores).
Valores
Guilherme Gonçalves teria recebido mais de R$ 6 milhões em propina, da empresa Consist Software, que desde 2010 prestava serviços indiretamente para o Ministério do Planejamento. O advogado é ligado ao PT e próximo da senadora Gleisi Hoffmann e de seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo (Planejamento e Comunicação).
O escritório de advocacia de Gonçalves foi, segundo a força-tarefa da Lava Jato, uma das seis pessoas jurídicas utilizadas como canais para o pagamento de propinas utilizado por Romano, ex-vereador de Americana (SP) pelo PT e preso temporariamente no dia 13 de agosto. O juiz federal Sergio Moro converteu, no dia 18, a custódia dele em prisão preventiva.
Esquema alvo
Romano foi o único detido na 18ª fase da Lava Jato, a Pixuleco II. Segundo as investigações, ele é suspeito de intermediar um contrato obtido pela Consist em 2010, envolvendo o Ministério do Planejamento para fornecimento de um software de gestão para cálculo de crédito consignado a mais de dois milhões de servidores públicos federais.
Este contrato, segundo a Lava Jato, gerou a cobrança de ao menos R$ 50 milhões em propinas nos últimos cinco anos.
O escritório de Gonçalves atuou como jurídico de campanhas de Gleisi e prestou serviços para Paulo Bernardo. A senadora é alvo de investigação da Lava Jato na Procuradoria-Geral da República. Em delações premiadas, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef afirmaram que Gleisi recebeu R$ 1 milhão do esquema de corrupção na estatal durante a campanha de 2010.
Defesa
Em nota, Gleisi Hoffmann esclarece “que conhece Guilherme Gonçalves, como militante do Partido dos Trabalhadores e depois como advogado das coligações partidárias nas três campanhas eleitorais em que disputou eleições majoritárias: 2008, 2010 e 2014”.
A senadora também afirma que em “sua prestação de contas dos processos eleitorais está registrado o serviço realizado e o pagamento respectivo, assim como de outros profissionais”.
A nota também destaca que “o escritório de Guilherme Gonçalves é conceituado e referência em direito eleitoral no Estado do Paraná, atendendo a vários partidos e candidatos” e que a senadora “desconhece as relações comerciais e contratuais do advogado”.
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