O ex-zelador do tríplex no Guarujá, cuja propriedade é atribuída ao ex-presidente Lula, irritou-se com uma pergunta dos advogados do petista sobre sua candidatura a vereador na cidade de Santos durante audiência ao juiz Sérgio Moro. José Afonso Pinheiro, que trabalhava no condomínio durante as obras, foi demitido em abril deste ano. Questionado sobre como se deu o ingresso na política, Pinheiro chegou a afirmar que os advogados de Lula eram um “bando de lixo”.
“Você não sabe o que é uma pessoa estar desempregada, passando por uma dificuldade terrível, o desemprego está altíssimo. Porque eu fui envolvido numa situação que eu não tenho culpa nenhuma. Eu perdi o meu emprego, perdi minha moradia e aí você vem querer me acusar, falar alguma coisa contra mim? O que você faria numa situação, como é que você sustentaria sua família?”, perguntou José Afonso.
Um dos advogados de Lula, Cristiano Zanin Martins, negou que estivesse acusando José Afonso, que continuou.
“Você nunca passou por isso, quem é você para falar alguma coisa contra mim? Vocês são, posso falar o que vocês são? Um bando de lixo, lixo! Isso que vocês são!”, disse Pinheiro, que foi interrompido por Moro, que pediu para que o zelador se acalmasse.
A partir de então, Moro considerou que as perguntas feitas pela defesa estavam sendo ofensivas a José Afonso Pinheiro e indeferiu todas as questões feitas por Zanin Martins em relação à participação de José Afonso Pinheiro.
Demitido em abril do condomínio Solaris, José Afonso Pinheiro candidatou-se pelo Partido Progressista a vereador de Santos. Quando de sua demissão, Pinheiro afirmou que a perda do emprego fora uma represália por seu depoimento aos procuradores da Lava-Jato em que relatou visitas de Lula e Marisa Letícia ao imóvel. Em depoimento na audiência de hoje, o zelador afirmou que a ex-primeira-dama se portava como proprietária do imóvel.
Em nota, a defesa de Lula citou o episódio. Confira o trecho:
“Quando questionado sobre o tema, também o ex-zelador do edifício Solaris, José Afonso Pinheiro, não foi capaz de apresentar nenhum dado que comprovasse ser de Lula o apartamento. Firmando seu depoimento em impressões pessoais e mesmo tendo o juiz Sérgio Moro indeferido as perguntas da defesa relativas ao tema, o depoimento de Pinheiro tem uma vinculação à questão alvo da ação que, sem dúvida, compromete sua narrativa. A fama que o triplex conquistou estimulou a nascente carreira política de Pinheiro, que fez o registro de sua candidatura pelo PP como “Afonso, zelador do tríplex”, evidenciando interesse no desfecho da causa.
Descontrolado, Pinheiro chegou a ofender Lula e seus advogados, os qualificando de “lixo”, não sendo repreendido pelo juiz. Muito ao contrário. Ao término da audiência, o juiz Moro pediu “desculpas” ao depoente sob o pretexto de que foi Pinheiro o ofendido, em manifesto descompasso com a realidade.
O fato soma-se ao rol dos demais episódios que evidenciam a parcialidade do juiz Moro no julgamento do ex-Presidente e que integram o Comunicado feito ao Comitê dos Direitos Humanos da ONU, em julho. Suas provocações e exaltações no curso desta audiência foram enfrentadas com muita serenidade, especialmente considerando que o juiz apresentou ao longo da sessão fatos estranhos ao objeto da ação, como a queixa-crime subsidiaria em que figura como querelado – proposta pelo ex-Presidente Lula e seus familiares diante de graves fatos que denotam, em tese, abuso de autoridade – e a ação de reparação por danos morais proposta em face do procurador da República Deltan Dallagnol pelos ilícitos configurados durante a entrevista coletiva realizada em âª14/09. Moro chegou a atacar a “qualidade da advocacia” da defesa de Lula.”
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