Gandolfo contou ainda que Pessoa informou ao grupo que o consórcio teve “gastos extras” de R$ 3 milhões, mas não especificou o destino dos valores| Foto: RICARDO MORAES/REUTERS

O superintendente da Odebrecht Infraestrutura, Fábio Gandolfo, afirmou em depoimento realizado na terça-feira à Polícia Federal que as empresas do consórcio Angramon, responsável pela montagem da Usina Angra 3, receberam pedido de doação para a campanha eleitoral do PMDB, durante reunião do grupo. Segundo ele, o pedido foi feito por Ricardo Pessoa, da UTC, a empresa líder do consórcio, em agosto de 2014, e a Odebrecht teria se recusado a participar. Gandolfo contou ainda que Pessoa informou ao grupo que o consórcio teve “gastos extras” de R$ 3 milhões, mas não especificou o destino dos valores. Pessoa é apontado pela força-tarefa como o “chefe do clube das empreiteiras”.

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Ministro do TCU adia votação sobre processo de Angra 3

O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Raimundo Carreiro decidiu retirar da pauta de hoje o processo que trata da construção da usina nuclear de Angra 3. O empreendimento da Eletronuclear está no centro das investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal.

Carreiro disse que chegou a pautar o processo na sexta-feira para a audiência de hoje, mas que “em face dos acontecimentos”, decidiu retirar o processo de pauta “em busca de mais subsídios”.

O processo trata especificamente da construção civil de Angra 3, o qual envolve diretamente a contratação da construtora Andrade Gutierrez. Ontem, o presidente licenciado da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva, foi preso pela PF. A operação também prendeu o diretor da Andrade Gutierrez na área de energia, Flavio David Barra.

Raimundo Carreiro é suspeito de ter beneficiado o trâmite de processos relacionados à Angra 3 no TCU, conforme declarações dada pelo presidente da construtora UTC, Ricardo Pessoa. O ministro do TCU nega as acusações.

Carreiro não citou quando o processo deve retornar à pauta da corte de contas. Angra 3 tem sido auditada pelo tribunal desde a retomada de suas obras em 2009. Auditorias já realizadas demonstraram descompasso entre as fases de obras e de desembolsos envolvendo a usina, por conta de dificuldades de licenciamento.

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Gandolfo foi levado coercitivamente a depor ontem à Polícia Federal, e foi o primeiro dos ouvidos na 16.ª Fase da Operação Lava Jato a confirmar que houve algum tipo de discussão de contribuição a partidos políticos na reunião do consórcio Angramon. Foi com base nesta reunião que foi iniciada a investigação de Othon Luiz Pinheiro da Silva, presidente licenciado da Eletrobras, preso ontem pela PF. Em março passado, após assinar acordo de delação premiada, Dalton Avancini, ex-presidente da Camargo Corrêa, afirmou que as empresas integrantes do consórcio discutiram neste encontro “acerto futuro do pagamento de propina a funcionários da Eletronuclear”.

Avancini afirmou à PF que a propina a dirigentes da Eletronuclear e ao PMDB correspondia a 1% do valor do contrato, “ficando acertado que cada empresa iria buscar seus respectivos contatos a fim de promover o acerto junto aos agentes políticos”. O ex-presidente da Camargo Corrêa afirmou que Luís Carlos Martins, da Camargo Corrêa, e Antonio Carlos Miranda, da UTC, iriam se reunir posteriormente para acertar os detalhes desse pagamento a políticos.

Gandolfo era o representante da Odebrecht no Angramon e também representa a empresa junto à Marinha no Projeto Submarino Nuclear (Prosub), na Eletronuclear e na construção de um estaleiro na Bahia.

Moro considerou como provas de recebimento indevido depósitos de R$ 4,5 milhões feitos na conta de uma empresa do almirante Silva, a Aratec. Os repasses teriam sido feitos pela Andrade Gutierrez e pela Engevix, por meio de empresas intermediárias, algumas delas de fachada, durante o período em que ele era presidente da Eletronuclear. Moro também mandou investigar valores repassados à Aratec por outras empreiteiras do consórcio, como Camargo Corrêa e UTC.

Gandolfo contou que sua posição da reunião foi mantida pela Odebrecht, que não pagou propinas a Silva, mas acrescentou que não sabe informar se houve pagamento em relação às demais empresas do consórcio.

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Outro lado

Renato Ribeiro Abreu - sócio da holding MPE, que participava do consórcio por meio da empresa EBE - confirmou que Pessoa informou sobre “gastos extras” do Angramon no valor de R$ 3 milhões, mas disse que não foi especificada a razão das despesas. Ele negou ter conhecimento de qualquer pagamento de propina ou acerto em licitação, e afirmou que outro sócio e então presidente da EBE, David Fischel, era quem participava das reuniões. Fischel morreu em outubro de 2014.

O diretor-geral da Techint Engenharia e Construção Ricardo Ourique Marques, de 52 anos, afirmou que “desconhece a fixação de valores e repasses que seriam destinados a Othon”. Segundo ele, a reunião convocada pela UTC em agosto de 2014 tinha o objetivo apenas de discutir e definir as obrigações de cada sócio.

Em depoimento, também prestado na terça-feira na Superintendência da PF em São Paulo, Ourique confirmou que tentou convocar uma nova reunião com as outras empresas, por email, em novembro de 2014. O encontro, segundo ele, deveria falar sobre “critérios técnicos do contrato”, mas não ocorreu. O executivo disse que se encontrou com Othon de duas a três vezes e que “nunca ofereceu ou deu qualquer tipo de vantagem” para ele.

Por fim, o executivo disse que a Techint saiu do consórcio dois meses atrás, em razão de uma dívida da Eletronuclear com o consórcio, que atualmente gira em torno de R$ 65 milhões, segundo Ourique. Ele pretende avisar a decisão à estatal em 31 de julho.

Ex-funcionário da Andrade Gutierrez, Clóvis Renato Peixoto Primo, de 58 anos, disse, em depoimento, que não tinha informações sobre consórcio Angramon, porque já havia saído da empresa. Hoje, ele é presidente executivo da Concremat Engenharia e sócio-gerente da Primo Consultoria. Ele declarou, ainda, que “nunca autorizou o repasse de qualquer valor nem nunca realizou qualquer tipo de repasse para Othon Luiz Pinheiro da Silva”.

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