Os executivos da construtora Mendes Júnior confirmaram o pagamento de R$ 8 milhões em propina ao doleiro Alberto Youssef para garantir a liberação de aditivos em obras da Petrobras. Em depoimento à Justiça Federal na segunda-feira, eles ainda negaram saber da existência de um cartel para controlar as licitações da estatal e reafirmaram terem sido extorquidos por Youssef e pelo ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa. O presidente da UTC, Ricardo Pessoa, novamente ficou em silêncio.
O ex-vice-presidente da Mendes Junior, Sérgio Cunha Mendes, repetiu o depoimento à Polícia Federal e disse ter sido extorquido. Segundo o empreiteiro, “a pressão” para que empreiteira pagasse os recursos ilícitos aconteceu em maio de 2011. Ele disse que Costa o procurou e avisou que o “Primo” iria lhe procurar para acertar o pagamento. De acordo com as investigações da Lava Jato, “Primo” era o apelido do doleiro.
“No início até pensei que “Primo” era o nome da pessoa, mas depois vim a saber que tratava-se do doleiro Alberto Youssef. Numa reunião em que estava Youssef, eu e o Rogério (Cunha de Oliveira, diretor da Mendes Junior), ele nos disse que, se não fizéssemos o pagamento, seríamos retaliados”, disse Sérgio Mendes afirmando ter consultado Murilo Mendes, presidente da construtora, antes de fechar o acordo.
Para dar caráter lícito aos pagamentos, Youssef montou um esquema de falsas consultorias para emissão de notas frias. Os contratos estavam em nome das empresas de fachadas GDF e Construtora Rigidez, de Youssef. “Foi o único pagamento de propina que fizemos. Depois desse, não fizemos mais nenhum”.
O ex-diretor da construtora, Rogério Cunha, afirmou que a decisão de fechar o acordo foi de Sérgio Mendes e não de Murílo Mendes. Ele negou a existência de cartel e confirmou que a propina foi fruto de extorsão. “Entendo que a empresa foi vitima, conforme nos foi relatado pela presidência”.
O ex-gerente de obras da empreiteira, José Humberto Cruvinel Resende, negou ter participado do esquema criminoso. Ele afirmou que o contrato que assinou com a GFD foi feito a pedido de Cunha. “Estou perplexo de estar envolvido em um negócio como esse”.
Empreiteiro do clube vip fica em silêncio pela segunda vez
O empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia, apontado pela força-tarefa da Operação Lava Jato como o chefe do clube Vip das construtoras que formaram cartel na Petrobras, ficou em silêncio pela segunda vez consecutiva diante do juiz federal Sérgio Moro.
Em audiência na segunda feira, 11, na ação penal sobre suposto envolvimento de executivos da construtora Mendes Jr em corrupção e propinas no âmbito da estatal petrolífera, Ricardo Pessoa disse que, por orientação de seus advogados, não responderia nenhuma pergunta do juiz que mandou prende-lo em novembro de 2014, quando foi desencadeada a Operação Juízo Final, sétima etapa da Lava Jato.
Há duas semanas, o Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu habeas corpus a Pessoa e permitiu que ele responda aos processos da Lava Jato em regime de prisão domiciliar, embora com tornozeleira eletrônica. No dia 4 de maio, pela primeira vez frente a frente com o juiz Moro, em audiência relativa a outro processo criminal, o empreiteiro se calou.
O reencontro entre o empreiteiro e o juiz da Lava Jato durou um minuto e dois segundos. “Nesta ação penal o senhor está sendo acusado de um crime pelo Ministério Público Federal, certo?”, abriu a sessão o juiz Moro. “Nessa condição, pela nossa lei, o sr. tem o direito de permanecer em silêncio. Se o sr. fizer uso desse direito isso não lhe traz nenhum prejuízo, mas essa também é a oportunidade de o sr. falar no processo, certo?”
“Excelência, por orientação dos meus advogados, respeitosamente, eu ficarei em silêncio”, respondeu o empreiteiro. Moro fez a mesma indagação aos advogados de Pessoa. Eles confirmaram a estratégia do silêncio.
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