A onda de delações de réus da Operação Lava Jato, que vem alimentando as investigações desde o ano passado, ainda não terminou. Dois executivos da construtora Camargo Corrêa – o presidente Dalton dos Santos Avancini e o vice-presidente Eduardo Leite – fecharam, na noite de sexta-feira (27), acordos de colaboração com a força-tarefa que investiga fraudes em contratos de empreiteiras com a Petrobras.
As delações podem tornar as investigações ainda mais explosivas, por se tratar da primeira empreiteira de grande porte a aceitar o acordo de delação. A Camargo Corrêa foi uma das primeiras empresas flagradas em transações financeiras com o doleiro Alberto Youssef, operador do pagamento da propina no esquema de desvios da Petrobras. A empreiteira também é uma das empresas com mais doações para campanhas políticas. Os dois executivos teriam decidido colaborar por três motivos: prisão prolongada, dificuldade para enfrentar as investigações e risco de condenação à prisão em regime fechado.
Já João Ribeiro Auler, presidente do Conselho Administrativo da construtora, teve o acordo recusado. Para os procuradores, ele não teria contado tudo o que sabe sobre as irregularidades em que a empreiteira está supostamente envolvida.
O trio está preso desde novembro do ano passado, quando a Polícia Federal desencadeou a nona fase da Lava Jato, batizada de Juízo Final. Eles são acusados de pagar propina para conseguir contratos com a Petrobras. A dupla que fechou o acordo deve ser solta nos próximos dias.
Termos do acordo
Está sendo negociada a possibilidade de revelações de fraudes não só na Petrobras, mas também em outras áreas de atuação da Camargo Corrêa, entre elas a construção da Usina de Belo Monte, na Amazônia. Na mira dos procuradores estão obras e serviços em hidrelétricas, rodovias e ferrovias. Os executivos da empreiteira resistiam à ideia de falar sobre outros assuntos fora do tema principal da Lava Jato. Mas, nos últimos dias, o ambiente mudou e as partes já se entenderam sobre os pontos principais do acordo.
Estão sendo preparados acordos individuais. Os benefícios para os delatores deverão ser estabelecidos em função da importância das informações a serem fornecidas por eles. Por ora, as negociações giravam em torno dos benefícios, que vão da redução de penas até a não aplicação do regime fechado. Para isso, teria sido estipulada uma multa de mais de R$ 10 milhões.
Com as novas adesões, a força-tarefa da Lava Jato já fechou 15 acordos de delação premiada, entre eles as confissões do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef.
Procuradores passarão fim de semana revisando inquéritos
Os procuradores da República que cuidam dos procedimentos contra autoridades citadas na Operação Lava Jato passarão este final de semana, antes da apresentação dos inquéritos ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), trabalhando na Procuradoria-Geral da República, em Brasília. No sábado e no domingo, o trabalho dos membros do Grupo de Trabalho será revisar e reler as peças elaboradas com base nas delações do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa.
Só no STF são 42 procedimentos, referentes ao número equivalente de fatos apurados com base nos depoimentos dos delatores da Lava Jato. No STJ, estão a cargo do ministro Luís Felipe Salomão três procedimentos relacionados ao suposto envolvimento dos governadores do Rio de Janeiro e do Acre, Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ) e Tião Viana (PT-AC), e do ex-ministro Mário Negromonte (PP) no esquema de corrupção da Petrobras.
Os procuradores tentam concluir o trabalho para que o material chegue aos tribunais entre terça e quarta-feira. Eles checam atualmente todas as peças para que não haja nenhuma incoerência entre cada caso, já que todos os casos estão interligados.
A divulgação dos nomes de parlamentares que constam na “lista” do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, é motivo de tensão no Congresso. O procedimento habitual de Janot é avisar políticos investigados antes de solicitar as investigações ao Supremo, para que os parlamentares não sejam “intimados” por notícias divulgadas pela imprensa. Ainda não se sabe se a operação será a mesma nos casos relativos à Lava Jato.