Rio de Janeiro (AE) Os cinco anos de governo de Juscelino Kubitschek promoveram uma das mais profundas transformações econômicas da história brasileira. "Foi um sucesso estupendo em termos de crescimento, mas também deixou problemas quase tão estupendos", afirma o economista Marcelo Paiva Abreu, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio.
Nos cinco anos do mandato de Juscelino, de 1956 a 1960, a economia cresceu a um ritmo médio de 8,1%. Excluindo-se o problemático primeiro ano, a média sobe para 9,4%, uma das mais altas da história do País.
O Brasil, que no início do mandato ainda era em grande parte um país de economia rural, viu cumprir-se a promessa dos "cinqüenta anos em cinco", com a multiplicação de rodovias pavimentadas, energia elétrica, carros caminhões, aço, navios, bens de capital, petróleo, minerais não-ferrosos etc.
Junto com o ritmo frenético da industrialização, veio a disseminação do espírito empreendedor. "Eu estava empregado como funcionário estável no Instituto Nacional de Tecnologia (INT), mas em 1959 pedi demissão para trabalhar numa empresa privada e, pouco depois, abrir meu próprio negócio", diz o engenheiro aposentado Luiz Olavo Dantas. Ele acrescenta que "meus pais ficaram chocados, isto era impensável antes do Juscelino; mas o estímulo na época era irresistível".
Inflação
Por outro lado, mesmo os defensores de JK concordam que ele deixou pesada herança de pressões inflacionárias e desequilíbrios na área fiscal e externa para seus sucessores, já que o famoso Programa de Metas não previa formas seguras de financiamento, e acabou sendo bancado por emissão inflacionária de moeda e empréstimos internacionais de curto prazo.
"Concordo que houve a gestação de processo inflacionário e desequilíbrio fiscal", diz o economista Paulo Nogueira Batista Jr., professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo. Ele nota, porém, que "não há desenvolvimento sem desequilíbrio, e quando a idéia de equilíbrio e estabilidade torna-se hegemônica de forma avassaladora, perde-se o impulso do crescimento".
Dramática
Nos dois primeiros anos do governo JK, a inflação recuou, de 20% em 1956 para 10% em 1958.
Mas os problemas fiscais e cambiais se agravaram justamente a partir de 1959, quando Juscelino rompeu com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que exigia medidas rigorosas de ajuste.
"A parte externa ficou dramática no fim do governo JK", relembra o ex-ministro da Fazenda Marcílio Marques Moreira, na época diplomata na embaixada do Brasil em Washington. Em 1960 a inflação ficou em 29%, acelerando-se para 37% em 1961.
Quando se pensa em economia na era JK, imediatamente vêm à mente a indústria automobilística e o Programa de Metas. Instituído logo no início do governo, em 1956, o programa definiu 30 objetivos específicos, em áreas como energia, transporte rodoviário e ferroviário, siderurgia, veículos, petróleo, mecanização rural, etc.
Num estudo de 1991, dos economistas Clóvis de Faro e Salomão Quadros, foi estimado que o Programa de Metas tenha custado US$ 8,5 bilhões.
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