O Brasil vai parar para votar em um plebiscito sobre a proibição do comércio de armas. É um equívoco do tamanho do país: a decisão terá pouquíssimo impacto na redução da violência ou da criminalidade; e gasta-se um instrumento fundamental da democracia o referendo para discutir um tema superado pelo próprio Estatuto; e, infelizmente, é empobrecido o debate já que os holofotes da mídia atraem falsos especialistas com argumentos inconsistentes.
Exemplo desse efeito colateral do referendo é o artigo do deputado Rodrigo Maia, que jamais se destacou por sua atenção ao tema, publicado no Globo. É preciso frisar a falta de base de sua argumentação.
Afirma o deputado: "Das 8 mil mortes violentas por ano no estado do Rio de Janeiro, se supusermos que 50% estão relacionados ao crime organizado, deduzimos que 4 mil estão relacionadas a causas fúteis e, provavelmente metade dessas com armas". Supusermos? Deduzimos? Provavelmente? O Brasil não pode avançar no debate com suposições, deduções e probabilidades.
De acordo com dados do Datasus, no ano de 2002, particularmente violento no Rio de Janeiro, ocorreram 9.455 homicídios, 75,6% cometidos com armas de fogo. Outro estudo, da ONU, mostra que a maioria dos homicídios no Brasil está relacionada ao tráfico de drogas. No Rio de Janeiro, de acordo com estudiosos, mais de 60% dos assassinatos têm origem no crime organizado. Ou seja, apesar do índice de mortes por armas de fogo ser mais alarmante até do que supõe o deputado, apenas parte desses crimes de morte tem causas fúteis, ao contrário de sua dedução.
Em todo o Brasil, são vendidas legalmente, nas lojas, não mais de 30 mil armas de fogo por ano. No Rio de Janeiro, não há mais lojas de venda de armas e nem por isso houve significativa redução no número de homicídios.