A expulsão de um advogado do plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) por ordem do presidente da corte, Joaquim Barbosa, opôs entidades de classe da advocacia e de magistrados e reabriu discussões sobre as prerrogativas da profissão. Na sessão de quarta-feira, o advogado Luiz Fernando Pacheco foi retirado por seguranças ao se recusar a parar de falar da tribuna na qual defendia que o pedido de prisão domiciliar do ex-presidente do PT José Genoino, seu cliente, fosse levada a julgamento. Enquanto entidades de classe da advocacia condenaram a expulsão, associações de magistrados entenderam como correta a conduta de Barbosa.
O presidente da Associação Paranaense de Juízes Federais (Apajufe), Anderson Furlan, reconhece que não agiria da mesma forma caso estivesse naquela posição, mas considera que Barbosa tomou uma atitude adequada. "O advogado tumultuou o ambiente e o ministro agiu para manter a ordem na sessão", diz Furlan. O magistrado afirma que, se o episódio tivesse ocorrido nos Estados Unidos, o resultado teria sido diferente. "Lá, o advogado sairia preso do plenário, porque eles são muito mais enérgicos."
O presidente da Associação dos Magistrados do Paraná (Amapar), Frederico Mendes Junior, concorda. "Se todos que discordam da maneira como a pauta de julgamento é montada fossem reclamar na tribuna, haveria o caos." Mendes Junior ressalta ainda que o presidente do STF deixou o advogado se pronunciar e só ordenou sua retirada como última medida. "Barbosa pediu para que o advogado encerrasse, cortou o microfone e só depois chamou os seguranças."
Mas associações de advogados consideraram o episódio uma afronta ao exercício da profissão. "A postura arbitrária e autoritária revela o desprezo do ministro pelo sagrado exercício do direito de defesa e o desrespeito à figura do advogado", diz nota divulgada pelo Instituto de Defesa do Direito de Defesa. Para o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), nem "sequer a ditadura militar chegou tão longe no que se refere ao exercício da advocacia". A entidade também declarou que "o presidente do STF não é intocável e deve dar as devidas explicações à advocacia brasileira".
Procurado pela reportagem para se pronunciar sobre o caso, o presidente da OAB-PR Juliano Breda limitou-se a declarar: "Vamos torcer para que em seu lugar, assim que consumada a anunciada aposentadoria, seja nomeada uma pessoa preparada, com conhecimentos jurídicos indiscutíveis e sobretudo dotada do equilíbrio necessário para exercer a função".
Em nota divulgada à imprensa, o ministro Joaquim Barbosa classificou o episódio de "lamentável" e considerou que o defensor agiu "de modo violento e dirigindo ameaças contra o Poder Judiciário".
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