O chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), brigadeiro Jorge Kersul Filho, que coordenou as operações de busca e resgate de corpos e pertences das vítimas do acidente com o vôo 1907 da Gol, em setembro de 2006, disse que todos aqueles que estiveram no local da queda dos destroços devem ser considerados suspeitos pelo suposto sumiço, "inclusive os familiares."
"Muita gente esteve lá, não apenas a Aeronáutica", afirmou Kersul, em depoimento à CPI do Apagão Aéreo do Senado, ao defender os militares que participaram das buscas.
Minutos antes, a presidente da Associação dos Familiares das Vítimas do Vôo 1907, Angelita Marchi, acusou a Força Aérea Brasileira (FAB) de roubar pertences pessoais das vítimas. Para defender seus comandados, Kersul exibiu um vídeo feito pela FAB sobre o resgate. E explicou que havia muitos fatores que dificultavam a operação, como fortes odores e o incômodo causado por abelhas, carrapatos e formigas.
"Será que eles estavam preocupados em tirar um celular de uma vítima?", questionou Kersul. "Todos os corpos já chegaram nus ao solo. Como explicar uma corrente perdida?"
Kersul emocionou-se, durante depoimento . Ele teve de sair correndo da sala da Comissão e trancar-se em um banheiro no subsolo da Casa. A sessão foi interrompida por 15 minutos, até que Kersul se recuperasse.
Desentendimento
Angelita Marchi queixou-se, também, do vazamento de um vídeo feito no local do acidente, enquanto as buscas eram feitas. Kersul defendeu-se com o mesmo argumento que usou para defender os militares com relação às acusações de extravio. "Muita gente esteve lá."
A pedido da Associação, o vídeo não está mais disponível no site YouTube. O vídeo foi exibido durante a sessão.
Depois de ver a Aeronáutica acusada pelo vazamento e pelos extravios, Kersul se desentendeu com o senador Wellington Salgado (PMDB-MG). "Estou sentindo o clima tenso, pesado", disse o senador. "Em primeiro lugar, o senador deve me chamar de Vossa Excelência, que é como devem ser chamados os oficiais. E eu estou vendo a Aeronáutica ser acusada de coisas e não posso aceitar isso", rebateu o brigadeiro Kersul.
Esposa de Waldomiro Machado, morto no acidente com o vôo 1907, Neusa Machado foi a primeira a abraçar Jorge Kersul Filho, na porta do banheiro em que ele se trancou para chorar. "O comandante sempre nos atendeu, todos temos muito carinho por ele. Quando vi as imagens do resgate, vi que a operação não era simples. Os militares fizeram o possível."
Segundo a presidente da Associação dos Familiares, das seis toneladas de bagagem, 4,5 toneladas não chegaram às mãos dos parentes.
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