O golpe do seqüestro se transformou num crime comum em São Paulo. Em menos de 50 dias, foram registrados 3.150 casos apenas na cidade de São Paulo, sem contar os municípios vizinhos, do litoral e do interior, onde este tipo de extorsão também prolifera. São 70 telefonemas de falsos seqüestros por dia.
Os golpistas agem principalmente na madrugada, a partir da meia noite. Segundo o capitão Marcel Soffner, da Polícia Militar, é sempre mais fácil aplicar o golpe em vítimas idosas.
Nesta quinta-feita, a aposentada Joselma Lima de Souza, de 63 anos, que mora na Lapa, na zona oeste, se tranformou em mais uma vítima. O golpe se sofisticou: pediram que ela transferisse dinheiro para a conta deles pela internet. Como ela não sabia fazer a operação, os criminosos mandaram que pegasse todas as suas jóias e tomasse um avião para o Rio de Janeiro para entregá-las pessoalmente. Instruções seriam dadas quando ela chegasse à cidade.
Joselma só não embarcou porque o aeroporto ainda estava fechado e a polícia conseguiu encontrar o filho dela, que supostamente estaria nas mãos dos seqüestradores. Ele não tinha telefone em casa e havia esquecido seu celular num shopping naquela noite
Durante a madrugada, a aposentada recebeu uma ligação do Rio em seu telefone fixo. Bandidos diziam ter seqüestrado seu filho. Por orientação dos supostos seqüestradores, Joselma encheu a bolsa de jóias e foi para o Aeroporto de Congonhas.
- Chegamos na casa dela, na City Lapa, a 1h35m da madrugada, depois que um vigia da rua nos ligou avisando que algo estranho acontecia no local.
A mulher, que estava com o suposto seqüestrador ao telefone, não quis atender a polícia. A empregada contou o que estava acontecendo e passou o nome do rapaz aos policiais.
- Enquanto tentávamos localizar o rapaz, Joselma saiu da casa em direção ao aeroporto. Mesmo sem a permissão dela escoltamos o carro. Tudo só acabou quando o filho, que mora na Vila Madalena, chegou em Congonhas para provar à mãe que estava bem, por volta das 5h10m - disse o 2º tenente da Polícia Militar, Alexandre Vieira.
Muito nervosa, a aposentada não acreditou quando os policiais disseram se tratar de um trote.
"Sem raciocínio"
Segundo o tenente, no desespero, as vítimas "não raciocinam" e seguem todas as orientações dos bandidos.
Joselma ficou mais de três horas ao telefone com os bandidos. Ela mesmo passou o número do celular para conversar com os golpistas no trajeto até o aeroporto.
Segundo o capitão da Polícia Militar, os telefonemas costumam ser feitos de dentro dos presídios. Os bandidos são sempre muito cruéis e ameaçam matar a vítima o todo todo. Com Joselma, eles encenaram uma agressão ao rapaz, deixando a mãe ainda mais desesperada.
- Uma viatura da PM chegou na minha casa com dois policiais. Confirmaram o meu nome, avisaram do falso seqüestro e pediram para eu ligar para a minha mãe contando que estava bem. Mesmo eu ligando, ela não acreditou em mim. Disse que tinha ouvido minha voz ao telefone chorando, gritando e sendo espancado. Montaram um teatro para enganá-la - disse o filho da aposentada.
O encontro dos dois ocorreu no centro médico do Aeroporto de Congonhas, onde Joselma foi levada pelos policiais para se acalmar. O filho disse que ficou aliviado ao encontrar a mãe, que estava chorando .
A polícia investiga se os bandidos tiveram acesso ao celular do analista de sistemas, que foi esquecido por ele mesmo em uma loja de um shopping de São Paulo na noite de quarta-feira. Para evitar os golpes, a polícia orienta os filhos, principalmente jovens, a informarem os pais para onde vão quando saírem de casa. Segundo o capitão, os bandidos, quando encontram ou roubam um celular, costumam aproveitar a própria agenda do celular com o número do telefone de mães e pais.
Na semana passada, a também aposentada Mércia Mendes de Barros, de 67 anos, morreu de infarto depois de receber uma ligação de falso seqüestro. O homem pedia R$ 60 mil para libertar o seu filho. O marido chegou ir ao banco retirar parte do dinheiro. Mércia, que tinha problemas cardíacos, não resistiu e morreu.
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