A decepcionante participação de Curitiba na Copa do Mundo de 2014 era "uma bola cantada desde o início". A avaliação é do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, que no começo das negociações a respeito do evento atuava no Ministério do Planejamento órgão pelo qual passam todos os projetos de infraestrutura do governo. "Foi tudo feito com muito improviso", afirmou, sem citar nomes. "Faltou articulação, e o planejamento foi malfeito."
Conforme anunciado na quinta-feira pela Fifa, a capital terá jogos apenas na primeira fase da competição (e apenas um jogo de uma seleção cabeça de chave). Além disso, não receberá jogos da Copa das Confederações em 2013, competição prévia à Copa do Mundo.
De acordo com o ministro, o Paraná não conseguiu negociar com projetos previamente discutidos entre as partes. Assim, não houve unidade, o que complicou a situação de Curitiba. "Com o Paraná, a primeira reunião para a Copa não foi uma, mas duas: uma para o governo, outra para prefeitura", disse, sem citar nomes (mas, à época, Roberto Requião era o governador e Beto Richa, o prefeito).
Paulo Bernardo esteve em Curitiba na sexta-feira. Ele e sua mulher, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, inauguraram no sábado uma obra viária bancada pelo governo federal em União da Vitória.
A seguir, os principais pontos da entrevista concedida à Gazeta do Povo.
Crise no Esporte
A crise envolvendo o ministro do Esporte, Orlando Silva (PCdoB), não vai prejudicar o andamento da Copa no Brasil, avalia Bernardo. "[Essa crise] prejudica o governo, o ministério, o PCdoB, o Orlando; mas a Copa tem gestão colegiada. O ministério do Esporte é só o interlocutor [com a Fifa]."
Crises em profusão
Orlando Silva é o quinto ministro que pode perder o cargo por envolvimento em desvios de conduta. Quatro antes dele já caíram (Antonio Palloci, da Casa Civil; Alfredo Nascimento, dos Transportes; Pedro Novais, do Turismo; e Wagner Rossi, da Agricultura). A presidente Dilma Rousseff ainda demitiu Nelson Jobim (Defesa), após declarações dele contra integrantes do governo. Tudo isso em dez meses de gestão.
Bernardo concorda que o número de casos é elevado. "Mas o governo cobra explicação, investiga, age com transparência." Para ele, "é quase impossível que um ministro receba dinheiro desse jeito que estão dizendo". (Orlando Silva é acusado de receber propina no estacionamento do ministério.)
Sucessão em Curitiba
O ministro deixa claro a cada entrevista: já fechou posição sobre a disputa pela prefeitura de Curitiba no ano que vem. Quer que o PT faça aliança com o PDT e apoie a candidatura de Gustavo Fruet. O ex-deputado federal foi um crítico articulado e ostensivo do PT e do governo Lula no Congresso. No ano passado não se elegeu senador. Este ano, depois de um desentendimento com o governador Beto Richa (tucano que apoia o atual prefeito Luciano Ducci, do PSB), deixou o PSDB e se filiou ao PDT (da base de apoio do governo federal). Constrangimento à vista? Nenhum. "O importante é o projeto para Curitiba, mas o Gustavo tem de decidir qual vai ser a estratégia dele", afirma. "Quando o Gustavo era de oposição, era obrigação falar contra nós. Isso pode ser superado."
Bernardo cita o atual prefeito do Rio de Janeiro como um caso semelhante. "O Eduardo Paes [hoje no PMDB] batia muito mais [quando era do PSDB]; agora é nosso aliado."
Gleisi candidata
Paulo Bernardo diz que o fato de Gleisi Hoffmann, que é mulher do ministro, ter assumido em junho a Casa Civil colocou em dúvida a candidatura dela para o governo do estado em 2014. "Antes, estava combinado. Agora, as coisas mudaram", afirma Bernardo. Segundo ele, Dilma deve mesmo ser a candidata do PT à eleição presidencial de 2014, e não Lula. "Se ela estiver bem, como está, com essa popularidade, não tem para ninguém."
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