Colatto: ministro terá de se cercar de técnicos da área agrícola| Foto: Beto Oliveira

Análise

Dilma evitou racha na base e deu resposta à sociedade

A postura da presidente Dilma Rousseff em acatar de imediato a indicação de Mendes Ribeiro feita pelo PMDB da Câmara Federal e, ao mesmo tempo, de prestigiar o ex-ministro Wagner Rossi evitou um racha ainda maior na base governista no Congresso e garantiu a manutenção da governabilidade. Essa é a opinião entre analistas políticos e integrantes da base aliada. Para eles, Dilma se saiu muito bem no episódio.

Para o cientista político Antônio Octávio Cintra, professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais, Dilma agiu com habilidade, sobretudo ao não mostrar hostilidade ao PMDB, e passou pelo imbróglio sem deixar feridas. "Ela sabe que precisa do maior partido do Congresso para governar. E, ao mesmo tempo, ela deixou um recado aos ministros para serem mais cautelosos, para escolherem melhor suas indicações. Assim, manteve a base e atendeu à opinião pública."

Assessor especial de relações institucionais da vice-presidência da República, o ex-deputado paranaense Rocha Loures (PMDB) também elogiou a postura da presidente. "Ela foi correta com o PMDB e solidária com o ex-ministro. Não há nenhum distanciamento entre ela e o PMDB, que continua apoiando o governo", disse.

O deputado André Vargas, único paranaense na executiva nacional do PT, ressaltou que a mudança ministerial não altera em nada o quadro político federal. "O Mendes Ribeiro, inclusive, era o líder do governo no Congresso. Portanto, sua ida para o Ministério da Agricultura pode até ajudar nas votações no Congresso." (ELG)

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No dia do anúncio de que o deputado Mendes Ribeiro (PMDB-RS) será o novo ministro da Agricultura, parlamentares ruralistas do governo e da oposição evitaram criticar a escolha da presidente Dilma Rousseff (PT). Em vez disso, classificaram o peemedebista gaúcho como homem público respeitado, experiente e habilidoso. Mas fizeram a ressalva de que ele precisará se cercar de assessores competentes no ministério por ser advogado de formação e, portanto, pouco conhecedor do setor agropecuário.

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Para os deputados ouvidos pela Gazeta do Povo, Ribeiro terá o desafio de reestruturar a pasta e retomar a agenda de assuntos agrícolas, que permaneceu esquecida pelo governo nos últimos meses.

Ex-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, o deputado Valdir Colatto (PMDB-SC) destacou o respeito a Mendes Ribeiro em Brasília e o trânsito que o novo ministro tem tanto no Legislativo quanto no Executivo – ela era o atual líder do governo no Congresso. "A minha preocupação é que, não sendo da área, ele terá de buscar uma equipe muito competente e com qualidade técnica para tocar a complexidade do ministério e da agricultura brasileira. Ele tem grandes desafios a resolver e espero que monte uma boa equipe", disse.

O discurso foi seguido pelo oposicionista Abelardo Lupion (DEM-PR). Apesar de considerar Ribeiro uma incógnita em relação ao setor agrícola, disse ter boa impressão do parlamentar. "Ele vem de um estado agrícola e fatalmente terá uma boa assessoria. Além disso, o PMDB tem uma bancada ruralista muito forte. Esperamos que ele dê conta do recado", afirmou. "A bancada ruralista vai ajudá-lo para que faça uma boa gestão, afinal não estão em jogo os partidos, mas o setor agrícola nacional."

Mudanças de gestão

Ex-ministro da Agricultura no governo Lula, o deputado Reinhold Stephanes (PMDB-PR) ressaltou que Ribeiro precisa priorizar a agenda de assuntos que interessam à agricultura e que teriam sido deixados de lado na gestão de Wagner Rossi. Entre os temas "abandonados" pelo governo Dilma até agora, o paranaense destacou a reestruturação da infraestrutura do setor; o posicionamento firme em relação ao Código Florestal; e a preocupação com a sanidade animal. "Também é preciso romper a lógica de priorizar nomeações políticas em detrimento de indicações técnicas. Do contrário, vai se caminhar ao mesmo desastre que levou à queda do ministro anterior", argumentou.

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Quem também defendeu a mudança foi o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS). "Há necessidade de reoxigenar o ministério e prestigiar os técnicos de carreira. Pelo que eu conheço do Mendes Ribeiro, ele vai recuperar muitos técnicos que andavam colocados na Sibéria, longe do poder."