Dos 27 partidos políticos com registro no Paraná, 26 têm um número maior de comissões provisórias nos municípios do que de diretórios eleitos. Isso significa que, em vez de fazer eleições para escolher seus dirigentes municipais, a direção estadual das legendas prefere, na maior parte dos casos, indicar livremente quem ocupará os cargos. Para especialistas, o dado é preocupante e mostra um baixo grau de democracia interna dos partidos.
O PMDB é o que possui o maior número de diretórios eleitos no estado: são 360 municípios em que houve convenções, contra 24 com dirigentes indicados. Em alguns casos, há apenas comissões provisórias. É a situação do PDT, por exemplo, que tem dirigentes provisórios em 396 municípios do estado, e do PR, que também não teve eleição direta em nenhuma das 336 cidades em que atua. Vale lembrar que o Paraná tem 399 municípios.
"Essa é uma tendência cada vez mais comum", afirma a secretária judiciária do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PR), Ana Flora França e Silva. "Os partidos não fazem mais convenções, não fazem eleições internas para escolher suas direções", afirma. Pela lei eleitoral, as comissões provisórias são nomeadas em caso de ausência de uma cúpula eleita. Quem indica os nomes, nesse caso, é a direção estadual.
Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), o cientista político Fernando Guarnieri fez sua tese de doutorado sobre os partidos brasileiros. O nome do trabalho diz muito: "A força dos partidos fracos". Segundo Guarnieri, até o começo de 2011, o Paraná era o terceiro estado com menor porcentagem média de diretórios eleitos no país. A média atual paranaense é de 17% de dirigentes eleitos.
Com base em seu trabalho, Guarnieri dividiu os partidos em três grupos. Os partidos mais democráticos, com mais de metade de diretórios eleitos, seriam "poliárquicos". Os que têm muito menos de 50% de diretórios eleitos são "monocráticos". No meio, ficam as legendas "oligárquicas".
As consequências, segundo ele, não ficam restritas aos municípios. As direções municipais enviam delegados à convenção estadual. E se quem vota são os dirigentes indicados pela própria cúpula estadual, tudo se transforma num jogo de cartas marcadas. "Lideranças de partidos que têm mais de 50% de comissões provisórias podem mandar e desmandar no partido", afirma.
Adriano Codato, professor de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR), diz que esse sistema favorece o "caciquismo" dentro dos partidos. "Esse é um modelo que mantém todo o poder nas mãos de uns poucos donos do partido, que acabam tendo liberdade de fazer o que querem", afirma.
A maior parte dos dirigentes partidários concorda que é preciso fazer um esforço para aumentar o número de diretórios eleitos. "No caso do PPS, é uma questão de tempo. Os diretórios venceram, mas vamos fazer eleições", afirma Rubens Bueno, presidente do partido no Paraná. "Fazer convenções favorece o fortalecimento da militância", diz o presidente estadual do PDT, Augustinho Zucchi, que também promete eleições municipais para breve.
O secretário de Estado da Indústria e Comércio, Ricardo Barros, que até este ano era presidente do PP regional, é uma voz discordante. "O diretório eleito é tão sujeito a intervenções quanto a comissão provisória. Se houver necessidade de intervenção, é possível fazer em qualquer dos casos", afirma.
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