O presidente da comissão de Agricultura, Lira Maia (DEM-PA), deixa a sessão que convocou Palocci sob protesto dos governistas| Foto: Alan Marques/Folhapress
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A blindagem governista ao ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, começa a dar sinais de derretimento no Congresso Nacional. Ontem, a Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados aprovou um requerimento de convocação dele para explicar supostos contratos de sua antiga empresa de consultoria com clientes do ramo agroindustrial. A decisão foi suspensa temporariamente pelo presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), que prometeu manifestar-se em definitivo na próxima terça-feira.A convocação ocorreu ao mesmo tempo em que surgiram os primeiros indícios de descontentamento entre parlamentares da base aliada sobre a estratégia adotada pelo Palácio do Planalto no caso. No Senado, o tema envolve diretamente os três representantes do Paraná. Um dia após o senador Roberto Requião (PMDB) assinar o requerimento de abertura de CPI proposta pelo colega Alvaro Dias (PSDB) para investigar a evolução patrimonial do ministro, o jornal Folha de S. Paulo publicou ontem uma reportagem que cita que Gleisi Hoffmann (PT) defendeu o afastamento de Palocci do cargo durante reunião entre senadores petistas e o ex-presidente Lula, na semana passada.

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A Folha foi o jornal que revelou, há três semanas, que os bens de Palocci cresceram 20 vezes entre 2006 e 2010 (de R$ 356 mil para R$ 7,5 milhões), graças ao desempenho da consultoria Projeto, aberta por ele em julho de 2006 e transformada em administradora de imóveis no final do ano passado.

Gleisi, porém, negou que tenha sugerido a saída do ministro. "O que eu fiz para o presidente Lula foi uma análise da situação. Mas jamais sugeri que o ministro se afastasse. Até porque o afastamento é uma situação muito grave e não acho que seja o caso", afirmou.

A senadora confirmou, porém, que disse a Lula que a situação atual é diferente daquela vivida pelos petistas em 2005, época do escândalo do mensalão. A diferença seria que, nesse caso, o partido está todo voltado para defender Palocci numa "questão pessoal", que não envolve outras pessoas.

Já Requião voltou a defender a abertura das investigações e citou como está o clima do Senado: "Todos os senadores que eu conheço, sejam da base do governo ou não, querem a CPI".

Para Alvaro, cada dia sem explicações claras de Palocci sobre as atividades de sua consultoria aumenta o constrangimento dos governistas. O tucano tem 19 das 27 assinaturas necessárias para instalação da CPI e garante que vai conseguir mais dez caso a defesa apresentada pelo ministro à Procuradoria-Geral da República não seja convincente. "Essa demora tem deixado algumas consciências cada vez mais perturbadas", disse.

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Sete segundos polêmicos

Na Câmara, a sessão da Comissão de Agricultura que aprovou a convocação foi cercada de polêmica. A começar pelo requerimento, de autoria do deputado gaúcho Onyx Lorenzoni (DEM). O texto cita supostos contratos da Projeto com empresas agroindustriais – até agora, contudo, não se sabe se a consultoria tinha clientes no ramo, já que Palocci tem alegado que não pode expor a identidade deles devido a contratos de confidencialidade.

Além disso, a sessão foi marcada por uma manobra conjunta da oposição. A votação do requerimento não exigiu votação nominal, apenas simbólica. O presidente da comissão, Lira Maia (DEM-PA), deixou a proposta sob análise durante apenas sete segundos.

A orientação dele, comum à apreciação de outras proposições, era de que os favoráveis à convocação permanecessem como estavam. Já os contrários deveriam se manifestar. A contagem, entretanto, foi feita visualmente pelo próprio Maia, que logo considerou o requerimento aprovado – o que causou revolta de governistas.

A discussão se prolongou e, logo após a decisão, o presidente da comissão chegou a cogitar uma nova votação. Mudou de ideia depois de ser pressionado pelo líder do DEM, Antonio Carlos Magalhães Neto (BA). "Foi uma decisão regimentalmente perfeita, qualquer mudança será um absurdo", afirmou o paranaense Abelardo Lupion (DEM), um dos 40 membros titulares do órgão.

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"Foi uma votação conduzida, fora de qualquer padrão", rebateu o deputado Paulo Piau (PMDB-MG), autor do pedido de revisão da votação ao plenário da Câmara. A decisão cabe agora ao presidente Marco Maia. Ele disse que ouvirá membros da comissão e avaliará as imagens da sessão para então se pronunciar se a convocação seguiu os trâmites normais.

Colaborou Rogerio Galindo.