O ex-presidente Lula anda desgostoso com o que considera exemplos de falta de traquejo político de dois "postes" criados por ele: a presidente Dilma Rousseff e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Mesmo com a recente disposição de Dilma de agradar um pouco mais os políticos, Lula tem reclamado da preferência da presidente por quadros técnicos em seu ministério. E atribui à falta de atenção com a política o "pessimismo" existente em relação à economia e à Copa do Mundo.
Pressionada por Lula, Dilma já recuou da ideia de fechar o mandato com secretários-executivos no comando de vários ministérios e, em viagem ao Peru na semana passada, declarou que, na reforma ministerial que fará na virada do ano, não promoverá técnicos, como planejava. Ela aproveitará a saída de dez ministros que vão disputar as eleições para tentar amarrar o apoio de partidos aliados à sua reeleição.
Preocupado com os rumos do governo, Lula disse a interlocutores, nas últimas duas semanas, que os servidores de carreira e as nomeações de perfil técnico são para acompanhar as decisões do dia a dia, mas que o ministério e o governo têm que ter viés político. Para Lula, o governo precisa fazer política: "Esse pessimismo é porque não tem política", comentou Lula, referindo-se à economia.
Lula também tem se mostrado preocupado com a Copa do Mundo. E a culpa, de novo, acredita, é falta de traquejo político do governo. "Estamos perdendo o debate da Copa porque falta política, falta alguém para debater", disse, referindo-se a críticas quanto aos gastos para o evento.
Prefeitura
Lula anda muito irritado, de acordo com pessoas que conversaram com ele nos últimos dias, com o prefeito de São Paulo. Em pelo menos uma dessas conversas, Lula fez um paralelo entre o estilo de Dilma e o de Haddad: "O Haddad quer fazer uma administração técnica e cria confusão, respinga no próprio partido, está criando dificuldade com o Kassab".
O ex-presidente se referia ao escândalo dos fiscais da prefeitura de São Paulo, que começou atingindo a administração do ex-prefeito Gilberto Kassab, presidente do PSD, e depois acabou respingando em auxiliares do próprio Haddad. Lula e o presidente do PT, Rui Falcão, entraram em campo para assegurar que a investigação feita pela administração Haddad não comprometesse o apoio do PSD à reeleição de Dilma.