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Caapiranga, (AG) – O cenário é desolador. No estado do rio mais caudaloso do planeta, o Amazonas, os moradores fazem fila indiana carregando latas d’água na cabeça, como se estivessem no sertão nordestino. O povoado de Dominguinhos, em Caapiranga, a 170 quilômetros de Manaus, fica à beira do Lago Grande de Manacapuru, que normalmente tem mais de dez quilômetros de extensão e extremidades que em tempos normais juntam-se a rios e igarapés, formando um imenso lençol d’água. Com a seca, o grande lago deu lugar a vastas extensões de areia, pequenos riachos e açudes formados aqui e ali pela água restante.

Os 139 moradores estão isolados e buscam um jeito de ir à cidade vizinha comprar combustível e alimentos. Sem estradas, a ligação com o mundo se dá por barco, a exemplo do que ocorre na maioria dos municípios do Amazonas.

A agricultora Marinês Pinheiro da Silva, de 26 anos, vive numa casa de madeira de uma única peça com a mãe, o irmão e dois filhos. Por causa do isolamento, deixou de produzir farinha de mandioca – não tem como vender o produto. O jeito é pescar. Antes bastava caminhar dez metros e subir na canoa. Agora, caminha uma hora sobre a areia do lago e praticamente recolhe os peixes encurralados em bolsões d’água que ainda resistem à seca. A questão, indaga ela: até quando? "Temos comida para hoje e amanhã. Depois tem que pescar de novo."

Povoados como Dominguinhos, completamente isolado, já começam a enfrentar a falta de alimentos, remédios, combustível e água potável. Pior: mesmo que chuvas torrenciais venham a cair nas cabeceiras dos rios, serão necessárias pelo menos mais duas semanas até que o nível da água suba nos municípios mais atingidos pela mais forte seca dos últimos 50 anos. A meteorologia só prevê chuvas fortes a partir de novembro.

O governo do Amazonas decretou estado de calamidade em 61 de suas 62 cidades, deixando de fora apenas a capital, Manaus. Em sete delas, porém, a situação é mais grave, especialmente na zona rural, onde vivem cerca de 80 mil pessoas.

"A alimentação está escassa porque está ficando muito cara. Quem tem mantimentos cobra três vezes o valor. Se a chuva não vier, a situação que já é crítica vai ficar desesperadora", diz o governador Eduardo Braga.

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