A candidata do PT à prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy, enfrenta nesta eleição o fenômeno da reeleição. Um obstáculo poderoso que vem reforçando a candidatura de seu adversário, o prefeito Gilberto Kassab (DEM), e que colaborou para a reeleição ainda no primeiro turno de 12 de 20 prefeitos das capitais. Os outros 8 continuam na disputa.

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De lanterninha a líder da corrida municipal, Kassab encarnou a continuidade de uma maneira muito particular. Desconhecido do paulistano no início da campanha, sua gestão passou ao mais alto nível de aprovação na capital, com 61 por cento de avaliação positiva. Em maio, antes da campanha eleitoral, este índice não passava de 38 por cento.

Como já foi prefeita, entre 2001 e 2004, Marta busca comparar sua gestão com a atual e centra ataques também à trajetória política de Kassab como forma de atrair votos de descontentes.

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"Esta eleição foi situacionista, a reeleição prevaleceu", disse à Reuters o cientista político Fabio Wanderley Reis, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais.

Apesar de administrar a prefeitura desde 2006, quando herdou o posto do então prefeito e hoje governador José Serra (PSDB), Kassab se popularizou com a campanha, que apresentou de forma competente as realizações da prefeitura em seu período. A estratégia estancou no primeiro turno o namoro do eleitor com o candidato Geraldo Alckmin (PSDB), que aglutina o mesmo perfil de eleitor, e tem força para levá-lo à vitória neste segundo turno.

Máquina e economia

O tempo de TV na primeira etapa (8 minutos e 44 segundos em cada aparição) colaborou para tornar o prefeito mais conhecido do eleitor, levando Kassab ao primeiro posto da eleição, com 33 por cento dos votos, ultrapassando Marta, que ficou com 32 por cento. Suas chances no segundo turno, atraindo a maior parte dos votos dos candidatos derrotados na primeira etapa, superam as da rival. Na primeira pesquisa divulgada, o prefeito abriu 17 pontos de vantagem sobre a petista.

"Kassab está com a máquina na mão e seu nível de aprovação subiu bastante", afirmou David Fleischer, cientista político da Universidade de Brasília.

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O professor Benedito Tadeu Cesar, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, especialista em temas ligados ao PT, concorda com Fleischer.

"Quem está com a máquina na mão usa. Para a população que não recebe nada, quando ganha alguma coisa acha uma maravilha", disse Tadeu Cesar, referindo-se à concentração de obras realizadas pela prefeitura paulistana nos meses próximos à eleição.

Outro aspecto apontado é o da identificação pelo eleitor do autor do bom desempenho da economia. Kassab, assim como muitos prefeitos eleitos ou que estão no segundo turno, foi favorecido pelo crescimento do país - tanto seus reflexos no orçamento do município, permitindo ampliar os investimentos, quanto no bolso do eleitor.

"Todos os prefeitos tentam tirar mais valia disso (economia, Bolsa Família)", analisa Fleischer, para quem o eleitor se identifica mais com o prefeito ou com o governador numa eleição municipal, mesmo que a economia seja comandada pelo governo federal.

Por isso, a insistência de Marta em trazer para a campanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A tentativa é mostrar ao eleitor que os programas sociais, o crescimento da renda do trabalhador e do emprego são obras de Lula, com quem ela afirma ter parceria e identidade partidária e programática.

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Analistas identificam também a colaboração do governo do Estado, comandado por Serra, patrocinador da candidatura Kassab. Integrantes da campanha de Marta e mesmo de Alckmin mencionam a existência de "duas máquinas" pró-Kassab. Neste segundo turno, livre da candidatura tucana representada por Alckmin, Serra se sente mais livre em aparecer ao lado do prefeito, o que fez assim que o PSDB aprovou adesão ao democrata.

Surge ainda o aspecto conservador do eleitorado paulistano. Questionado se Kassab reuniria esses votos, atraindo eleitores dos candidatos derrotados Geraldo Alckmin e Paulo Maluf (PP), Tadeu César tem outra versão. "É um eleitorado anti-Marta, mais que anti-PT", avaliou, lembrando aspectos que a população considerou negativos como o apelido "Martaxa" e a separação do senador Eduardo Suplicy (PT-SP).

Mesmo assim, analistas dizem que uma virada não está descartada, mas alguns lembram uma importante dificuldade para isso: a eleição de Lula em 2006. Mesmo eleito na soma do país, ele perdeu a eleição presidencial para Alckmin tanto na capital paulista quanto no Estado naquele ano, nos dois turnos.