O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso considerou a reação do mercado financeiro à aceitação do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff como um sinal de preferência dos agentes econômicos pelo afastamento da petista. “Eu vi que o mercado reagiu subindo, o que significa que prefere que haja o impeachment”, afirmou o ex-presidente na noite de quinta-feira (3), em Lisboa, onde participa nesta sexta-feira (4) da abertura de um debate sobre o futuro mundial na Fundação Champalimaud.
O tucano disse ter acompanhado as notícias dos últimos dias no Brasil “com certa apreensão” e fez um prognóstico de semanas “tensas no Brasil”. “O processo de impeachment é difícil para o país”, afirmou FHC no saguão do hotel onde está hospedado na capital portuguesa. O ex-presidente observou que o processo de julgamento e eventual cassação de um chefe do Executivo “não é uma coisa simples”.
CRISE POLÍTICA: Acompanhe as últimas notícias sobre o Impeachment da presidente Dilma
Na opinião de FHC, a ação do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de acatar o pedido de afastamento de Dilma enseja “um grande debate sobre a viabilidade política” do impeachment. “Também é preciso discutir com a população”, afirmou o tucano. Para ele, “se o sentimento se generalizar, a presidente terá muita dificuldade de evitar o impeachment”.
Presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique disse que seu partido votará a favor do impedimento de Dilma porque o pedido de abertura do processo tem como um dos autores o jurista Miguel Reale Júnior, que foi ministro da Justiça de sua gestão e também um dos advogados que fundamentou uma ação do PSDB contra a petista no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Acho que provavelmente a votação [do PSDB] será favorável ao impeachment.”
Em março deste ano, o tucano disse que o eventual afastamento da presidente não adiantaria nada. “Tirar a presidente da República não adianta nada. O que vai fazer depois?”, questionou ele um dia após um panelaço contra a presidente. Na ocasião, Fernando Henrique considerou que o modelo de presidencialismo de coalização, chamado pelo tucano como de “presidencialismo de cooptação”, está exaurido. O tucano disse que o sistema político está “totalmente espatifado”.
Em outra ocasião, após os protestos contra a presidente em todo o país em 16 de agosto, FHC foi mais incisivo disse em texto postado em seu perfil no Facebook que “conchavos de cúpula” não devolvem legitimidade ao governo que, por isso, não consegue conduzir o país. Sem defender abertamente a renúncia, Fernando Henrique afirmou que Dilma precisaria de um “gesto de grandeza”, como a renúncia ou assumir seus erros, para recuperar sua capacidade de governar.
“Se a própria Presidente não for capaz do gesto de grandeza - renúncia ou a voz franca de que errou, e sabe apontar os caminhos da recuperação nacional –, assistiremos à desarticulação crescente do governo e do Congresso, a golpes de Lava Jato. Até que algum líder com força moral diga, como o fez Ulysses Guimarães, com a Constituição na mão, ao Collor: você pensa que é presidente, mas já não é mais”, dizia a postagem.
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