O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse nesta quinta-feira que a política fiscal do governo está "frouxa" por conta do aumento dos gastos públicos promovidos pelo governo federal. Ele responsabilizou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por ter elevado os gastos correntes e aumentado o número de cargos públicos e criticou o nível de investimento que, na sua avaliação, continua muito baixo.
"Eu acho que a política fiscal está frouxa. O presidente Lula optou por aumentar muito o gasto corrente com pessoal, criou cargos e não optou por fazer investimentos", afirmou, ao participar do 2.º Fórum CardMonitor de Inteligência de Mercado, em São Paulo. "Acho que agora está na hora do Brasil pensar grande e estrategicamente", disse, em referência ao início do governo da presidente eleita Dilma Rousseff.
Apesar da crítica, FHC evitou afirmar que a política fiscal será "a herança maldita" do governo Lula. "Eu não gosto dessa expressão porque eles a inventaram para me criticar e usaram minha herança o tempo todo. Eu não acho que o Brasil tenha herança maldita. O Brasil tem melhorado sempre, melhorou no tempo de Itamar Franco, de José Sarney, no meu tempo e no do presidente Lula. Nós estamos avançando, isso é briga política." "Quando a gente olha um pouco mais de longe, com objetividade, não tem herança maldita, tem problema, dificuldades e situações."
Teimosa
Ao falar do futuro governo, o tucano avaliou que Dilma Rousseff terá de decidir se vai continuar com a política de aumento de gasto público ou se vai promover um ajuste mais forte nas contas públicas. "Dilma é teimosa, mas também é racional, e acho que a racionalidade vai prevalecer. Espero que ela tenha capacidade de decidir."
Além do desafio econômico, Fernando Henrique prevê desafios políticos para a presidente eleita. No seu entender, ela terá mais dificuldades em lidar com o Congresso do que o presidente Lula. "Lula tinha muito apoio popular, o que facilitava seu trânsito no Congresso Nacional. Não é que ela seja vulnerável, é a nossa situação, o estilo do presidencialismo brasileiro. O partido do presidente nunca é majoritário e tem que fazer o sistema de alianças e as alianças têm o seu custo", afirmou. E continuou: "Eu não gosto de julgar de antemão, mas ela vai ter de ter um trabalho grande porque os partidos vão começar a exigir."
Para ilustrar o cenário de desafio político que prevê para Dilma Rousseff, FHC citou como exemplo a formação do blocão liderado pelo PMDB (com outras legendas da base aliada) antes mesmo da posse da presidente eleita. Sobre as diferenças e semelhanças entre Lula e Dilma, o tucano disse que, além do apoio popular, Lula contou com o bom momento econômico mundial. "Agora, os ventos não são tão favoráveis, então, provavelmente ela (Dilma) vai ter que desenvolver maiores habilidades para poder equilibrar as forças."
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