Em meio à enxurrada de denúncias envolvendo congressistas, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem, em São Paulo, que o atual sistema de representação política do país está "bambo" e, por consequência, "não representa mais nada". A situação, ainda segundo ele, provoca um efeito de desmoralização "extraordinário".
"O nosso sistema de representação está bambo, não representa mais nada. Isso é visível, o que provoca um efeito de desmoralização extraordinário. Como ter democracia se não há respeito pelo Congresso. E como ter respeito ao Congresso se todo dia a imprensa noticia coisas que não são corretas feitas no Congresso", disse ele, sem citar algum episódio específico.
Ao mesmo tempo, Fernando Henrique Cardoso, num discurso de pouco mais de uma hora, responsabilizou a "leniência" do governo federal com o problema, muitas vezes envolvendo denúncias de corrupção.
"Por trás do Congresso está a forma de representação, e até certo ponto está também o interesse do Estado de também deixar a coisa muito leniente, indulgente para amarrar o Congresso", atacou ele, durante cerimônia de instalação do Conselho Político da Associação Comercial de São Paulo, presidida pelo ex-senador Jorge Borhaunsen (DEM), também no evento.
Fernando Henrique ainda retomou o discurso contra as indicações políticas em cargos estratégicos, chamando de "cupins" militantes que atuam em diferentes repartições do governo.
"Há hoje um partidarismo, uma troca de técnicos por militantes e o cupim vai minando. Estamos assistindo a uma cupinização do Estado brasileiro", disse.
Sobre as eleições de 2010, o ex-presidente disse que não é contra prévias no PSDB, mas que prefere um entendimento entre os eventuais candidatos que pretendem concorrer à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Longe da política
O presidente afirmou ontem que não pensa em voltar para a política após a conclusão de seu mandato no Palácio do Planalto, em dezembro de 2010. Em entrevista à Rádio Jornal, de Pernambuco, o presidente ainda fez críticas indiretas ao tucano Fernando Henrique Cardoso ao afirmar que tem "(ex) presidente que fala demais".
"Eu não acho que um presidente da República tenha que imediatamente voltar para a política. Eu acho que ele tem que ficar fora, tem que fazer uma reflexão. Eu não tenho vontade de ser deputado, não tenho vontade de ser senador (...). Eu não estou pensando em voltar para a política, não", afirmou Lula.
Ao falar sobre o que pretende fazer após o fim do mandato, Lula também criticou, sem citar nomes, o fato de ex-presidentes opinarem sobre seu governo. "Eu acho que agora, ao sair, eu tenho que ensinar como é que se comporta um ex-presidente da República: nunca dar palpite sobre o futuro presidente. Nós temos que entender que se o povo elegeu, o povo tem que deixar ele trabalhar", afirmou.
Questionado se achava que FHC estava falando demais, Lula apenas disse que tem "presidente que fala demais". O tucano é critico frequente do governo federal.
Bolsa Família
Lula também comentou as críticas que o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) fez ao governo federal, quando afirmou que o Bolsa Família é o "maior programa oficial de compra de votos". Segundo Lula, as críticas não correspondem ao tratamento dado ao peemedebista. "Sempre tratei o senador Jarbas Vasconcelos tão bem, não sei por que ele, eleito senador, tem agredido tanto o governo", afirmou Lula.
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