Na ocasião, a fábrica Condal, do Rio de Janeiro, pretendia fabricar as fantasias de Cerveró, mas desistiu depois de ser ameaçada de processo.| Foto: /

Responsável por gravar os diálogos em que o senador Delcídio do Amaral, preso nesta quarta-feira (25), supostamente negocia que Nestor Cerveró fuja do país, Bernardo Cerveró, 34, filho do ex-diretor da Petrobras, também foi o responsável por proibir que máscaras do pai fossem fabricadas no último Carnaval, segundo o jornal “Valor Econômico”.

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Na ocasião, a fábrica Condal, do Rio de Janeiro, pretendia fabricar as fantasias de Cerveró, mas desistiu depois de ser ameaçada de processo. Segundo o “Valor”, Bernardo, por iniciativa própria, foi quem procurou um advogado para evitar que as máscaras fossem comercializadas.

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A dona da fábrica Condal, Olga Valles, admitiu na época que um dos advogados de Nestor Cerveró solicitou, através de uma ligação telefônica, que não fossem feitas máscaras com a imagem de seu cliente. Olga pretendia produzir cerca de 150 máscaras de Cerveró, ex-diretor da Petrobras e alvo das investigações da Operação Lava Jato.

“Ele [o advogado] disse que se eu fizesse iria me processar por dano moral. Não lembro o nome do advogado, mas tivemos uma conversa amigável. Soube que ligou para outras fábricas também. Estamos há 56 anos no mercado e nunca recebemos processo. A ideia é fazer algo lúdico. Se é para incomodar alguém, prefiro não fazer”, disse. A ameaça de processo foi noticiada então pelo jornal “O Globo”.

AS GRAVAÇÕES

O ator e produtor Bernardo Cerveró usou um aparelho celular e um gravador de voz para registrar a promessa do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), líder do governo no Senado, que ofereceu R$ 50 mil mensais ao ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró para que ele não fechasse acordo de delação premiada.

Na gravação, o senador se referiu ao banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, como “quem entraria com a grana” para financiar a fuga do ex-diretor da Petrobras. O parlamentar e o banqueiro foram presos na manhã desta quarta-feira (25).

O encontro aconteceu no último dia 4, em um quarto do hotel Royal Tulip, em Brasília. Foi o segundo para tratar do assunto. O primeiro aconteceu em setembro.

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Participaram da reunião, em Brasília, Bernardo Cerveró, o senador Delcídio do Amaral; o seu chefe de gabinete Diogo Ferreira e o advogado de Nestor Cerveró, Edson Ribeiro. O acordo da delação premiada foi feito 14 dias depois, em 18 de novembro.

Em seu depoimento à PGR (Procuradoria Geral da República), Bernardo Cerveró contou que levou um telefone celular extra para o encontro em Brasília. Ele já sabia da prática do grupo de esconder telefones em um armário numa tentativa de evitar qualquer monitoramento.

Enquanto um aparelho ficou trancado em um armário, o filho de Cerveró ligou os outros dois para gravar o encontro.

De acordo com a gravação de Bernardo Cerveró, o senador diz que André Esteves financiaria a possível fuga do ex-diretor da Petrobras para o exterior, como também disponibilizaria ainda uma verba mensal para a família. Para isso, o nome do banqueiro ou do senador não deveriam ser citados.

No depoimento à PGR, Bernardo Cerveró disse ainda que já estava atento ao BTG Pactual e à André Esteves. O banqueiro era citado nos depoimentos prestados por seu pai. Um dos relatos mencionava que Esteves teria pago propina ao senador Fernando Collor por 120 postos de gasolina em São Paulo que pertenceriam ao BTG e ao grupo Santiago.

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Durante todo o período do encontro, Bernardo Cerveró disse concordar com as ideias dos participantes, como por exemplo, a fuga de Nestor Cerveró, apesar de “ser contrário” a ela: “Não poderia constranger os presentes”, disse no depoimento aos procuradores.

Mesmo assim, a atuação do ator chamou a atenção de Diogo Ferreira, chefe de gabinete do senador e um dos participantes do encontro. Um quarto aparelho, um chaveiro gravador chamado de “espião”, preso à mochila de Bernardo Cerveró, fez Ferreira deixar o lugar onde estava sentado e ir até à bolsa do ator.

Após constatar que o aparelho estava desligado, Ferreira ligou a TV e se colocou entre o senador e a mochila na expectativa de dificultar a gravação. “Não tive tempo de acionar este gravador”, disse Bernardo Cerveró no depoimento.

Além da gravação, o ator ainda apresentou à PGR cópias de e-mails e de mensagens de texto por telefone celular entre ele e advogados que acompanharam as supostas negociações.