Parentes admitem que receberam o dinheiro da propaganda
O vereador Tito Zeglin (PDT) explicou que, em fevereiro de 2001, após não ter conseguido se eleger para a Câmara de Curitiba, abriu a LTZ Publicidade para captar recursos financeiros. O objetivo era manter o programa de rádio que até hoje é comandado por ele. Zeglin contou que a LTZ não manteve contrato diretamente com a Câmara de Curitiba e que o contato era com as duas agências que venceram a licitação de publicidade do Legislativo municipal.
"Da Câmara diretamente não [havia contrato], porque quem contratava a empresa (...) eram as agências da Câmara: a Visão e a Oficina da Notícia", disse. Ele declarou que o trabalho prestado pela LTZ consistia na divulgação dos trabalhos da Casa.
Sem orientação
Segundo Zeglin, ele nunca gerenciou verba de publicidade da Câmara na condição de vereador; tudo era intermediado pela LTZ. Zeglin ainda disse que faltou orientação da direção da Câmara no uso da verba de publicidade. "Se a gente tivesse lá atrás, por exemplo, orientação de que não deveria ter sido feito dessa forma, claro que iríamos abdicar [de receber dinheiro da publicidade da Câmara]", afirmou o pedetista.
Tiago Zeglin, filho do vereador, afirmou que quando assumiu a empresa, em 2007, já existia o contrato de prestação de serviço com a Visão Publicidade que foi mantido. Segundo ele, a agência LTZ não dependia financeiramente só da Visão. Tiago explicou ainda que dinheiro recebido foi usado para pagar por inserções publicitárias no programa apresentado pelo pai na rádio. Segundo Tiago, isso implicava a divulgação das ações da Câmara. "Os recursos [repassados pela Visão] eram irrelevantes porque não seriam suficientes para pagar o programa", disse.
O filho do vereador confirmou ainda que foi funcionário da Câmara e que deixou o cargo comissionado que ocupava quando começou a discussão sobre a proibição de nepotismo no poder público.
Filho de Julieta
As explicações de Tiago Zeglin são parecidas com as de Rodrigo Braga Cortes Fialho dos Reis, filho da vereadora Julieta Reis e ex-proprietário da Elipse Comunicação, que também recebeu verba da publicidade da Casa.
Rodrigo contou que pediu exoneração quando começou o debate sobre a proibição do nepotismo. Mas alegou que a Câmara teria demorado para efetivar o desligamento. Ele admitiu que a empresa dele recebeu parte dos recursos da publicidade da Câmara no mesmo período em que constava como funcionário da Casa. Disse ainda que não ficou com o dinheiro, que ia diretamente para a emissora de rádio. Rodrigo afirmou que a vereadora não tem qualquer relação com a empresa que foi dele.
A vereadora Julieta Reis foi procurada pela reportagem para comentar o envolvimento da empresa do filho com a licitação de publicidade da Câmara. Ela, porém, preferiu não falar sobre o assunto.
Pelo menos R$ 300 mil da verba publicitária da Câmara de Curitiba foram destinados a empresas de familiares dos vereadores Tito Zeglin (PDT) e Julieta Reis (DEM). Documentos a que a reportagem teve acesso revelam ainda que os dois parentes Rodrigo Braga Cortes Fialho dos Reis, filho da vereadora Julieta, e Tiago Zeglin, filho do pedetista também exerciam cargos comissionados na Câmara de Curitiba. Como eram funcionários da Câmara, não poderiam receber pela prestação de serviços à Casa, conforme manda a Constituição Federal.
Rodrigo foi dono da empresa Elipse Comunicação, que recebeu R$ 135,3 mil das verbas publicitárias do Legislativo. O pagamento foi feito pela Visão Publicidade, empresa que ao lado da Oficina da Notícia venceu a licitação de publicidade da Câmara e administrou a verba de propaganda da Casa entre 2006 e 2011.
O filho de Julieta deixou a agência somente em maio de 2012. Mas as notas fiscais emitidas pela Elipse, de maio a dezembro de 2006, enquanto Rodrigo ainda era servidor da Câmara, indicam que a empresa recebeu R$ 21 mil por serviços prestados à Câmara.
Em maio de 2006, o outro filho da vereadora, Roberto Braga Cortes Fialho dos Reis, deixou a sociedade da Elipse. Ele trabalhou na Câmara e a empresa recebeu apenas um pagamento de serviços prestados para a Câmara no momento em que ele era servidor.
Já a agência LTZ Publicidade, de propriedade de Tiago Zeglin, filho do vereador Tito Zeglin, recebeu R$ 176 mil nos cinco anos que vigorou a licitação de publicidade da Câmara. O registro da empresa na Junta Comercial do Paraná mostra que a agência pertencu a Tito Zeglin até maio de 2005 um ano antes da licitação.
Tiago foi funcionário da Câmara até abril de 2007. No Legislativo, exerceu cargo de confiança na divisão de comissões temporárias da Casa. No período em que foi servidor, a empresa dele recebeu ao todo dez pagamentos, totalizando R$ 21 mil. Os pagamentos foram feitos tanto pela Visão Publicidade quanto pela Oficina da Notícia, as duas agências que venceram a licitação de publicidade da Câmara em 2006.
"Isso acontecia porque não tinha fiscalização", diz Mário Celso
A Gazeta do Povo e a RPC TV procuraram Sandra Lorena Alves de Carvalho para explicar o serviço prestado pela empresa San Lorre à Câmara de Curitiba. Sandra, no entanto, preferiu não dar qualquer declaração (veja reportagem na página anterior). O vereador licenciado e secretário estadual para Assuntos da Copa do Mundo 2014, Mário Celso Cunha, recebeu a reportagem e afirmou que desconhecia que a funcionária tinha empresa de publicidade e que ganhou recursos da Câmara. "Não sabia porque foi pouco tempo. Ela era concursada da Câmara e ficou à disposição do meu gabinete por um período. Eu não tinha ligação com essa empresa dela nem sabia que ela tinha recebido da publicidade da Câmara", disse.
Sobre o escândalo dos contratos de publicidade da Câmara, Mário Celso afirmou que o Legislativo municipal não deve promover propaganda além da obrigatória. "Não é função da Câmara fazer a publicação de matérias que não sejam as oficiais, dos editais, enfim, das informações que a Câmara tem que prestar. Então tem que partir da Câmara essa proibição", disse. O secretário contou ainda que, na época dos contratos (2006 a 2011) os vereadores não sabiam que era proibido um funcionário receber recursos da publicidade da Casa. "Isso acontecia porque não tinha fiscalização."