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Rio (Folhapress) – A filósofa Marilena Chauí, 63 anos, uma das principais pensadoras ligadas ao PT, defendeu, na segunda-feira, no Rio, na abertura do seminário "O Silêncio dos Intelectuais" justamente o direito de não falar nestes tempos de crise.

Chauí não fez críticas diretas a Lula ou aos dirigentes do PT que protagonizam a crise atual. "Eu não escrevi ou dei entrevistas porque ainda não consegui compreender a crise. Há momentos em que o silêncio é o dever de um intelectual", afirmou.

Em sua palestra, ela relembrou a polêmica dos anos 50 entre os filósofos franceses Jean-Paul Sartre e Maurice Merleau-Ponty para, partidária do segundo, atacar a idéia de que o intelectual deve estar em vigília permanente.

"Manifestar-se sobre tudo, mudar de atitude conforme mudem os ventos, abandonar a obra já escrita, desdizendo-a e desdizendo-se, é irresponsabilidade, não é liberdade. Muitas vezes o verdadeiro engajamento exige que fiquemos em silêncio, que não cedamos às exigências cegas da sociedade", afirmou.

Segundo ela, o intelectual engajado está sendo substituído pela "figura do especialista competente, cujo suposto saber lhe confere poder para dizer aos demais o que devem pensar, sentir, fazer e esperar. A crítica do existente é silenciada pela proliferação ideológica competente dos receituários do bem-viver".

Ela ressaltou a diferença entre intelectuais e ideólogos, que são os que opinam sobre tudo "e estão cada vez mais tagarelas". "Sua tagarelice recebeu um nome pomposo: pós-modernismo."

Mas, no fim, ao responder a perguntas da platéia que lotou o auditório da Maison de France, no centro da cidade, ela apontou o que considera erros do governo Lula e do PT.

"Logo depois que Lula foi eleito, eu disse publicamente que era muito complicado colocar-se como (governo de) transição na medida em que ele havia sido eleito para transformação. A transição era uma armadilha tucana poderosa da qual o governo e os petistas não se deram conta", disse ela, ressaltando que desconfia dos tucanos desde os tempos da Universidade de São Paulo (USP). "É preciso ter os dois pés, as duas mãos e a cabeça atrás em relação ao que eles propõem."

Na platéia estavam os ministros da Educação, Fernando Haddad, e da Cultura, Gilberto Gil, e o assessor da Presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia.

O que Chauí chamou de transição foi a passagem do governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) para o de Lula, em que se imaginava que "o estado de bancarrota da economia despencaria de um dia para o outro".

"Durante anos, o PT foi violentamente criticado porque era arcaico, porque um partido moderno faz alianças. Aí ele fez...", disse, arrancando risos com sua expressão de "deu no que deu".

Para a filósofa, houve um "erro de timing" do governo Lula, que começou suas reformas pela da Previdência, "a que os tucanos não tiveram coragem de fazer".

"Eu esperava que as questões sociais tivessem a dianteira. A primeira ação, que daria um significado mais do que simbólico ao Fome Zero, deveria ter sido a reforma tributária, pois só ela poderia praticar a distribuição de renda. Mas veio a da Previdência."

Na sua visão, a segunda reforma seria a política, para acabar com as relações fisiológicas entre Executivo e Legislativo. "Nenhum presidente tem maioria no Congresso, e nós sabemos como se ganham as votações", disse.

Para Chauí, o cidadão se torna consumidor também na hora de avaliar os políticos. "O marketing produz a imagem do político como pessoa privada: características corporais, preferências sexuais, culinárias, literárias, esportivas, hábitos cotidianos e bichinhos de estimação. Por isso, a avaliação ética dos governos se torna uma avaliação de virtudes e vícios pessoais. A corrupção é atribuída ao mau caráter dos dirigentes, e não às instituições públicas", disse.

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