O voto contrário ao financiamento empresarial em campanhas eleitorais da maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) provoca divergências entre especialistas e políticos. O placar do julgamento, ainda não encerrado, está 6 a 1. Mas, apesar da maioria já estar formada, o resultado ainda não é definitivo, já que os ministros ainda podem mudar o voto até o fim do julgamento que está suspenso por um pedido de vista do ministro Gilmar Mendes.
Para a maior parte dos ministros, o financiamento privado gera desequilíbrio no processo eleitoral. Apesar disso, como argumentou o ministro Teori Zavascki único a votar a favor da participação das empresas no processo eleitoral , a proibição não resolveria os problemas de desigualdade na disputa e facilitaria outras irregularidades nas campanhas. "O entendimento do STF vai facilitar o caixa dois", observa o consultor da comissão nacional de Direito Eleitoral da OAB, Silvio Salata.
Apesar de concordar que empresas e políticos podem encontrar no caixa dois uma forma de burlar o entendimento do Supremo, o advogado especialista em direito empresarial Leandro Suriani da Silva acredita que a mudança é um "caminho certo" para estabelecer igualdade eleitoral. "Os candidatos com maior lobby acabam conseguindo mais dinheiro e possibilidade de doação de pessoas jurídicas", diz Suriani. Veja abaixo os argumentos apresentados pelos dois especialistas sobre a questão do financiamento empresarial de campanha.
A favor
Leandro Suriani da Silva, advogado especializado em Direito Empresarial
Por que o sr. é a favor do entendimento do STF sobre as doações de campanha?
A campanha eleitoral fica nas mãos das grandes empresas, que são grandes doadoras. Com isso, a campanha perde a natureza essencial de igualdade. Analisamos muitas prestações de contas de campanhas de 2012 e basicamente 80% do dinheiro arrecadado veio de pessoas jurídicas. Isso gera um desequilíbrio porque os candidatos com maior lobby acabam conseguindo mais dinheiro . É óbvio que os cidadãos não podem ficar na mão de grandes doadores.
Acaba havendo influência do poder econômico sobre o político?
A partir do momento que a empresa faz uma doação maior para determinado candidato, partido ou coligação que venha a ganhar a eleição, obviamente ela vai defender seus interesses políticos no Congresso, cobrando retorno.
Barrar o financiamento empresarial vai resolver o desequilíbrio eleitoral?
Não totalmente. Porque pode ser que ocorram muitas doações de empresas por meio de pessoas físicas. Mas proibir as doações [de empresas] é o caminho certo. Uma vez que a ideia da eleição é estabelecer igualdade para todos os eleitores, então que sejam estabelecidos critérios de igualdade também para os candidatos.
E a questão do caixa dois?
Aumenta. É uma situação difícil. É igual a cobertor de pobre: você arrasta de um lado e descobre do outro. É extremamente complicado evitar o caixa dois.
Qual seria a solução para evitar isso?
O TSE [Tribunal Superior Eleitoral] já exerce um caráter de fiscalização, mas ainda há julgamentos de prestação de contas de campanhas parados desde 2010. Também é preciso estabelecer um critério mais rigoroso sobre o limite de doações de pessoas físicas, como nos Estados Unidos onde recentemente uma decisão da Suprema Corte estabeleceu um teto que evita essa situação de desigualdade.
Contra
Silvio Salata, advogado, conselheiro da OAB-SP e consultor da comissão nacional de Direito Eleitoral da OAB
Por que o sr. é contra o entendimento do STF sobre as doações de campanha?
Se a doação de pessoas jurídicas for vedada, o diretor da empresa vai doar como pessoa física. Como fica se, por exemplo, a empresa quer patrocinar a candidatura de um diretor? Se o dono da empresa tiver um parente candidato e quiser doar para ele? Impedindo isso, também se está quebrando a isonomia do processo eleitoral. A mudança proporciona maior igualdade, mas quebra o direito da pessoa jurídica de apoiar um candidato.
Mas o financiamento privado não quebra a igualdade da eleião?
Obviamente, a doação da pessoa jurídica sempre será para os partidos que estão predominando no poder e para os candidatos com maior contingente eleitoral.
E qual o argumento contra isso?
O entendimento do STF vai facilita o caixa dois. As pessoas jurídicas não vão se afastar repentinamente do processo eleitoral. Existem empresas que só têm atividade no poder público as grandes empreiteiras, por exemplo. Permanecendo esse entendimento, vamos atingir a igualdade de condições de disputa eleitoral? Talvez haja maior lisura no processo. Mas, ao mesmo tempo, não está se coibindo essa possibilidade.
Qual a solução para inibir o caixa dois?
Temos que aumentar os mecanismos de controle das doações e gastos de campanha. Deve ficar explícito que quem tiver as contas de campanha desaprovadas não pode ser diplomado. Nas eleições anteriores, o Tribunal Superior Eleitoral tentou avançar nessa questão, mas acabou voltando atrás. O candidato tem as contas desaprovadas e, mesmo assim, é diplomado, toma posse e goza do mandato. O processo demora anos e não acontece nada. Aí já há uma alteração da soberania popular porque foi quebrada a lisura do processo.
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