Sergio Moro: juiz da Lava Jato foi o mesmo do caso Banestado, que rendeu 97 condenações em agosto de 2004.| Foto: Hugo Harada / Gazeta do Povo
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um perfil do ex-deputado federal José Janene.

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Além de ter modificado a história política de Londrina, o caso AMA/Comurb trouxe à tona um nome que hoje é bastante conhecido: Alberto Youssef. Segundo a denúncia proposta pelo Ministério Público (MP) na época, o doleiro teria participado do desvio de R$ 120 mil da AMA. A verba teria ido para uma conta fantasma no extinto Banestado em nome de uma empresa também fantasma. “A partir disso, identificamos que ele lavava dinheiro por meio do Banestado para uma infinidade de outras situações”, conta o promotor Claudio Esteves.

Essa “infinidade” de casos foi alvo de investigações de uma força-tarefa, formada em 2003, do Ministério Público Federal (MPF) e da Polícia Federal (PF). Uma CPI no Congresso também apurou o esquema. O caso , que ficou conhecido como escândalo do Banestado, é considerado um dos maiores esquemas criminosos que já existiu no país. No total, movimentou R$ 28 bilhões . Youssef foi apontado como um dos principais doleiros do esquema.

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Conforme o MPF apurou, Youssef atuava de três formas no caso Banestado: fornecendo dólares em espécie, por meio de laranjas e contas CC5 (específicas para não residentes no Brasil), e por operações de dólar-cabo de modo oculto. O doleiro chegou a ser preso na ocasião – ele foi encontrado com um cheque nominal de R$ 150 mil ao então deputado federal José Janene. Youssef acabou beneficiado por um acordo de delação premiada – quebrado quando ele começou a participar do esquema da Lava Jato.

No total, 631 pessoas foram denunciadas no caso Banestado, resultando em 97 condenações – 14 delas envolvendo ex-funcionários do banco. As sentenças, de agosto de 2004, foram proferidas pelo juiz Sergio Moro, que então atuava na 2.ª Vara Criminal Federal de Curitiba. Com recursos em tribunais superiores, a maior parte desses condenados teve a pena totalmente prescrita ou foi parcialmente beneficiada com a prescrição. Segundo o MPF, aproximadamente R$ 30 milhões desviados foram recuperados.

Câmara de Londrina teria sido laboratório do esquema do mensalão

Outro grande esquema de corrupção e desvio de dinheiro público que tem raízes – ou pelo menos passa – por Londrina é o mensalão, que estourou em 2005. José Janene, então deputado federal, que já havia deixado rastros no escândalo AMA/Comurb e no caso Banestado, foi apontado como responsável pela distribuição de R$ 4,1 milhões do valerioduto para seus colegas parlamentares do PP utilizando a corretora Bônus Banval para disfarçar a origem do dinheiro. Curiosamente, durante as investigações do mensalão, houve a suspeita de que a Bônus Banval seria de Alberto Youssef.

Estimativas do Ministério Público Federal (MPF) apontam que o mensalão teria movimentado R$ 101,6 milhões, quantia usada pelo governo Lula para garantir apoio no Congresso entre 2003 e 2004.

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No total, 40 pessoas foram denunciadas e 24 condenadas – entre elas o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu; o ex-presidente do PT, José Genoino; e o publicitário Marcos Valério. Janene chegou a ser processado. Mas, como morreu em 2010, não foi julgado. Seu assessor João Claudio Genu acabou absolvido por ter sido considerado “um mero intermediário” do esquema. Os donos da Bônus Banval e outros dois deputados do PP foram condenados.

Janene foi o último parlamentar acusado no mensalão a ser julgado pela Câmara dos Deputados, em dezembro de 2006. Foi absolvido e se livrou da cassação, beneficiado principalmente pela ausência de 147 dos 513 deputados no julgamento. Para os conhecidos de Janene, isso demonstrou o poder político que o paranaense tinha na Casa.

Origem londrinense

Segundo um ex-funcionário de Janene ouvido pela reportagem, que pediu para não ser identificado, o modo do ex-deputado operar no Congresso já era praticado em Londrina. Em 1997, no 3.º mandato de Belinati na prefeitura, Janene teria sido responsável por fazer um acordo com os vereadores para que o prefeito tivesse domínio da maioria da Casa. A “mesada”, segundo o ex-funcionário, era o equivalente a um salário de vereador. À época do mensalão, o caso chegou a ser publicado na imprensa . Belinati foi procurado para comentar o caso, mas não quis falar com a reportagem.