Semelhanças
Parlamentares comparam a situação de Vargas à do ex-senador Demóstenes Torres, cassado em 2012 por ligações com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Entenda:
Caso André Vargas
A origem
Investigação da Polícia Federal na Operação Lava Jato flagrou troca de mensagens entre o doleiro Alberto Youssef e o deputado André Vargas. Entre elas está o acerto do aluguel de um avião para o deputado. A atuação de Youssef no envio ilegal de dinheiro para fora do Brasil é investigada desde os anos 90.
Defesa
Vargas diz que mantém "relações sociais" com Youssef e que conhece o doleiro como um "importante empresário de Londrina".
O partido
O PT ainda não se pronunciou sobre o caso. Vale lembrar que mesmo os petistas condenados pela Justiça no mensalão não receberam penalização do partido.
Caso Demóstenes
A origem
O ex-senador Demóstenes Torres (DEM-GO) foi flagrado em escutas realizadas pela Polícia Federal em diálogos com Carlinhos Cachoeira, contraventor ligado a jogos de azar e outras atividades ilícitas. As escutas revelavam que o senador solicitava e concedia favores ao contraventor. Em um deles, Cachoeira emprestou um jatinho para que Demóstenes fizesse uma viagem.
Defesa
Inicialmente o então senador se defendeu afirmando que mantinha relações sociais com Cachoeira por meio de sua esposa, que seria amiga da mulher do contraventor.
O partido
O DEM abriu processo de expulsão do senador. Demóstenes desligou-se do partido antes da conclusão do processo.
Conclusão
O senador foi cassado e está afastado de suas funções como promotor do Ministério Público de Goiás. Ele está sendo investigado pelo Conselho Nacional do Ministério Público.
Em discurso de dez minutos no plenário, o vice-presidente da Câmara dos Deputados, André Vargas (PT-PR), disse ontem à noite que cometeu um "equívoco" e que foi "imprudente" ao viajar de férias com a família em um avião arranjado pelo doleiro Alberto Youssef. O petista também negou ter favorecido Youssef em negociações com o Ministério da Saúde, conforme sugerem trechos de gravações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal. A investigação apura um esquema de lavagem de dinheiro que envolve R$ 10 bilhões e levou à prisão do doleiro e do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, há duas semanas.
A ligação entre Vargas e Youssef foi exposta anteontem em reportagem publicada pelo jornal Folha de S. Paulo. A matéria cita diálogos entre os dois sobre o uso da aeronave e interesses da empresa química Labogen, ligada ao doleiro. Embora tenha uma folha de pagamento de R$ 28 mil mensais, a empresa teria sido usada pelo doleiro para fazer remessas de US$ 37 milhões ao exterior, de acordo com a Polícia Federal.
"Claro que, com relação ao avião, eu reconheço, fui imprudente. Foi um equívoco, deveria ter evitado. Peço desculpas aqui e à minha família", disse o parlamentar. O deputado reafirmou que conhece Youssef há mais de 20 anos e que, com base nessa relação e pelo fato de o doleiro ter sido dono de hangar, entrou em contato com ele para conseguir um avião para viajar com a família, de Londrina para João Pessoa, na Paraíba.
À Folha, Vargas explicou que procurou Youssef porque as passagens comerciais para o período da viagem, em janeiro deste ano, estavam muito caras. Também falou que havia arcado com as despesas com combustível do avião, um Learjet 45, de propriedade de uma empresa da Bahia. Ontem, disse que tentou, mas não conseguiu, ressarcir o gasto.
"Quando eu o procurei para viabilizar o pagamento do combustível, não encontrei meios, porque eu não sabia que a aeronave tinha sido locada [por Youssef]. Coisa que soube com mais detalhes agora em função da ampla divulgação na mídia", informou. Reportagem da revista Veja aponta que o custo com a aeronave teria sido de R$ 100 mil, enquanto que, em nota enviada à Gazeta do Povo, Vargas falou em R$ 20 mil.
De acordo com a interceptação de mensagens de texto entre o deputado e Youssef feita pela Polícia Federal, Vargas teria feito menção a contatos com o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha, sobre a Labogen. No discurso, falou apenas que "orientou" Youssef "na forma da lei" e que nunca esteve no ministério para falar com Gadelha ou qualquer outro funcionário a respeito da Labogen. "No vazamento que a mídia tem acesso, eu digo a reunião foi boa porque encontrei o representante oficial da Labogen no aeroporto que disse que tinha tido uma boa reunião com Gadelha." O discurso de Vargas não gerou polêmica, nem contestação de colegas durante a sessão.
Petista tem atritos internos no partido
Guilherme Voitch
Vice-presidente da Câmara dos Deputados, o deputado federal André Vargas (PT) está longe de ser uma unanimidade dentro do próprio partido. Bem visto pelo baixo clero da base governista na Câmara, ele tornou-se um adversário íntimo do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, e da sua esposa, a senadora e ex-ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Vargas chegou a coordenar a campanha de Bernardo para deputado federal, mas a relação se deteriorou nos últimos anos.
Com Dilma, o casal Bernardo e Gleisi ganhou espaço e importância no governo. Vargas, por sua vez, nunca esteve entre os preferidos da presidente e passou a buscar espaço dentro da estrutura partidária petista. Junto ao deputado CândidoVaccarezza (SP), Vargas é tido como uma das principais vozes "lulistas" no Congresso e no PT, criticando o estilo de Dilma em contraponto ao do antecessor.
"Mesmo sendo de Londrina, ele nunca frequentou os gabinetes [de Paulo Bernardo e Gleisi] com frequência. Ele sabia que não era querido por lá", diz uma fonte petista ouvida pela reportagem.
Disputa
A disputa chegou ao PT do Paraná. Na eleição do diretório petista de Curitiba, Vargas conseguiu eleger um aliado, Natalino Bastos. Bernardo e Gleisi apoiavam outro. O deputado também vinha articulando a candidatura ao Senado, enquanto Gleisi, a pré-candidata petista ao governo, defende a candidatura do pedetista Osmar Dias, vice-presidente de Agronegócios do Banco do Brasil.
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