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São Paulo (AE) – "O que você quer que eu fale? Ele é o melhor filho do mundo. O que aconteceu foi uma tragédia provocada pela interrupção do tratamento psiquiátrico. Eu jamais vou condená-lo", disse ontem José Roberto Nanni, olhos marejados, ao abrir a porta do apartamento na Aclimação, para a reportagem.

José Roberto é pai de Fábio Le Senechal Nanni, o estudante de jornalismo da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo que matou o colega Rafael de Azevedo Fortes Alves, de 21 anos, com uma facada na manhã de sexta-feira, dentro da Rádio USP.

Fábio fazia tratamento desde os 15 anos e, há dois meses decidiu suspender a medicação por conta própria. "Ele sofria com a alteração de humor, sudorese e começou a ganhar peso. Mas a gota d’água foi quando passou mal num dia de prova. Não conseguia segurar a caneta", disse o advogado César Bechara.

Com evidente constrangimento, José Roberto interrompeu o barbear para responder às perguntas. Aparentando cansaço e ainda de pijamas, falou que não sabia o que dizer ou o que explicar sobre o crime.

"Tudo o que sei é que os dois eram muito amigos. O Rafael freqüentava a minha casa. Há 15 dias ele almoçou aqui", disse.

Para o pai, está evidente que a atitude do filho foi resultado de um surto psicótico. "Ele é um rapaz carinhoso, inteligente. Fala fluentemente inglês e italiano, amava o curso e o trabalho numa ONG. Para mim, parece óbvio que estava fora de si."

No sábado, os advogados conseguiram autorização judicial para o psiquiatra Irineu Silveira dos Reis consultar o estudante no 91.º DP. "Ele ainda estava muito abalado. E, segundo o médico, chorou durante toda a consulta", informou Bechara.

O advogado vai aguardar a conclusão do laudo psiquiátrico, que deve sair até amanhã, para decidir os próximos passos, entre eles até um possível pedido de relaxamento de prisão. Segundo o defensor, Fábio ainda não revelou os motivos do crime nem disse se está arrependido. "Ele continua muito abalado e só chorando. Acredito que nem tenha consciência do que fez." Desde que foi preso, o estudante não teve contato com familiares.

Na prisão, Fábio acordou cedo, serviu café para os oito colegas de cela, recolheu o lixo, viu televisão e conversou com os presos. "Ele está trocando idéias. Não o vi chorando, não. Pelo contrário, estava sorrindo", disse um carcereiro.

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